Untitled Part 1

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Minha casa sempre foi longe de tudo, em uma fazenda no fim do mundo. Por ser tão longe de tudo, não tinha muitas crianças ou adolescentes por lá. Só a minha mãe, um bando de vizinhos velhos e eu. Tinha também os meus amigos da escola, mas como a escola era na cidade, todos moravam por lá. Desde cedo eu aprendi a me virar sozinha, brincar sozinha, fazer praticamente tudo sozinha. Quando meu pai morreu, ele e a minha mãe já eram divorciados, e eu morava com ele na cidade, depois disso eu vim para a fazenda. Eu tinha só 7 anos quando tudo isso aconteceu, e semana passada foi meu aniversario de 15 anos, a minha festa foi só um bolo de chocolate com a minha mãe enquanto nos víamos fotos antigas. Eu ainda tinha mais de um mês de ferias, que eu ia passar fazendo nada como sempre. Eu estava sentada na janela do meu quarto no segundo andar, como faço todas as tardes para ver o por do sol, quando eu vi um caminhão de mudança parar na frente de uma casa que estava abandonada a muito tempo. A casa era longe demais para eu poder ver quem estava descendo, mas eu sabia que a minha mãe ia me fazer levar um bolo de boas vindas pra eles, então já comecei a me arrumar. Coloquei um vestido lilás que ia ate um pouco acima do joelho, e uma sapatilha preta. O meu cabelo eu deixei solto, por que eu gostava de como ele brilhava com a luz dos últimos raios de sol, eu sempre gostei muito do meu cabelo, era loiro, bem longo e liso. Eu nunca gostei de maquiagem, também nunca precisei, sempre tive pele de criança. "Isabel," eu ouvi minha mãe gritar. "Estou descendo," respondi de volta. Quando cheguei na cozinha, lá estava ela, com um delicioso bolo de chocolate nas mãos. "Querida, você faria o favor de levar esse bolo para os nossos novos vizinhos por favor? Obrigada," pediu ela. Eu peguei o bolo e sai pela porta da frente. O céu estava lindo, no horizonte eu já podia ver a lua e algumas estrelas. Na casa onde eu estava indo, eu podia ver a lareira acesa, estava frio, era o começo do inverno. Quando eu estava a poucos metros da casa, eu comecei a observar, desde pequena eu sempre brincava aqui perto, mas eu nunca tinha visto como essa casa era linda. Quando eu olhei para o segundo andar, eu vi ele: sentado na janela, como eu ficava, mas como ele estava muito acima e já estava escuro, eu não pude ver o rosto dele. Eu estava tão concentrada naquele menino, que eu nem percebi o buraco gigante na minha frente. Pisei com tudo e cai, o bolo saiu voando e parou na grama. Podia jurar que ouvi o som de um dos meus ossos quebrando. Estava doendo tanto que eu não podia nem gritar, apenas fui deitando minha cabeça no chão em esperança de que alguém iria me ajudar, mas quem poderia estar do lado de fora essa hora da noite? Acho que menos de 2 minutos se passaram quando ele chegou, o menino da janela. Ele colocou um braço debaixo dos meus braços e o outro debaixo dos meus joelhos, eu passei uma mão envolta do pescoço dele e a outra deixei solta. Ele me carregou para dentro da casa e me deitou no sofá, quando parei de mexer meu tornozelo a dor diminuiu muito. Alguns instantes depois ele voltou com uma caixa de primeiros socorros e tirou de lá uma gaze. Ele delicadamente começou a embrulhar o meu tornozelo, que teve uma melhora grande. Quando ele acabou, ele sentou do meu lado e tirou um pouco de cabelo do meu rosto. "Você esta melhor?" perguntou ele. "Bastante, obrigada," eu respondi. "Qual o seu nome?" "Isabel." "Vou te chamar de Isa." "E qual o seu nome?" "Nicolas. Você mora ali em baixo ne?" "Moro, e você se mudou pra cá hoje?" "Sim, não conheço ninguém." "Não tem ninguém pra conhecer." "Parece que você não gosta daqui." "Claro que eu gosto, mas nunca tive companhia." "Agora você me tem. Tenho a impressão de que vamos ser ótimos amigos." "Quantos anos você tem, Nicolas?" "Eu tenho 17, e você?" "Eu acabei de fazer 15. Que horas são? Minha mãe já deve estar preocupada." "Agora são oito horas." "Acho melhor eu ir pra casa, muito obrigada." Eu tentei me levantar para ir embora, mas eu dei um pequeno grito de dor. "Cuidado Isa, você não esta bem." Nicolas me pegou no colo de novo, do mesmo jeito de antes e começou a caminhada para casa. Eu comecei a corar. "Esta com vergonha de que? Relaxa." A minha casa não era tão longe, mas era difícil de chegar lá, principalmente com uma pessoa no colo. Eu estava com muito sono, então eu deitei a cabeça no peito dele e fechei os olhos, mas eu não dormi, eu apenas fiquei escutando as batidas do coração de Nicolas. Depois de 5 minutos ,nos finalmente chegamos na minha casa. Quando ele tocou a campainha, minha mãe abriu a porta. "Meu Deus! O que houve?," exclamou minha mãe. "A Isa caiu na frente da minha casa, quando ela foi levar o bolo para nos, mas esta tudo bem, foi só uma torcida. A senhora quer que eu leve ela para o quarto dela?" "Sim, por favor, eu não conseguiria carregar ela ate lá. Não sei como você consegue." "Ela pesa menos que uma pena," brincou Nicolas. "Isabel pode te mostrar o caminho ate lá, tenho algumas coisas para fazer. Boa noite e muito obrigada por traze-la ate aqui." "Foi uma prazer." Enquanto eu mostrava o caminho para Nicolas, eu fiquei reparando, ele não parecia fazer nenhum esforço para me carregar, e ele também não parecia nada cansado. Quando chegamos no meu quarto, ele me deitou na minha cama. "Você quer alguma coisa?," perguntou ele. "Não, obrigada," eu tremi, "talvez você poderia pegar o cobertor dentro do armário, por favor." "Não e melhor fechar a janela?" "Não," eu falei, talvez muito ansiosa, "eu nunca fecho a janela." "Por que?" "Te conheço a muito pouco tempo para poder te falar." "Tudo bem," ele disse, "acho que já vou indo, minha mãe quer que eu durma cedo. Ate amanha então Isa." Ele chegou perto da minha cama, tirou o cabelo dos meus olhos e deu um beijo na minha testa. "Boa noite," disse ele. Ele saiu sem que eu pudesse dizer nada. Demorei muito para dormir essa noite, por que eu não conseguia parar de pensar nele. Naqueles olhos verdes perfeitos, aquele cabelo preto com um pequeno topete na frente, aqueles braços fortes e tronco musculoso e o que não saia da minha cabeça, aquele sorriso meio de ladinho, com as covinhas no lugar certo. Eu também pensava em como eu me senti pequena nos braços dele, como se eu tivesse sido feita para encaixar ali. Eu acordei com os primeiros raios de sol entrando pela minha janela. Por um momento eu esqueci de tudo o que aconteceu na noite anterior, inclusive do meu tornozelo. Consegui me levantar depois de algumas tentativas e fui ate a janela. Quando eu finalmente consegui sentar lá, eu vi ele, sentado na janela dele. Ele acenou e eu devolvi o gesto. Nicolas se levantou e fechou a janela, depois de alguns minutos eu vi ele saindo pela porta da frente com uma cesta na mão, estava coberta com um pano então eu não pude ver o que estava lá dentro. Ele deu a volta na minha casa e eu ouvi as suas leve batidas na porta, minha mãe devia estar perto, por que dentro de segundos eu podia ouvir seus passos na escada. "Bom dia flor do dia," brincou Nicolas, "Você parece melhor. Como esta se sentindo?" "Bem melhor, obrigada," eu respondi. "Você gosta mesmo dessa janela ne?" "Gosto, eu posso ver quase toda a fazenda daqui." "Trouxe umas coisas para você," ele tirou o pano de cima da cesta, " São bolinhos que a minha mãe faz." "Parecem bons, obrigada." Ficamos ali na janela por horas, comendo bolinhos e conversando. Foi assim por mais de um mês, enquanto esperávamos as aulas voltarem. Ficamos inesperadamente próximos durante esse tempo. Quando as aulas finalmente voltaram, nos éramos melhores amigos. As vezes eu podia sentir um clima entre a gente, mas eu nunca pensei que fosse nada. Quando acordei na manha seguinte, ele foi a primeira coisa que apareceu na minha cabeça, será que isso era normal? Mas ele era só meu melhor amigo, não podia acontecer nada. Me arrumei bem rápido, vesti a saia do uniforme e a blusa que estava um pouco apertada para mim. Quando desci para tomar café Nicolas estava me esperando na porta. Não estava com muita fome, então eu me despedi da minha mãe e sai. Como era o primeiro dia de aula, todos os meus livros estavam dentro da minha mochila por que eu tinha que coloca-los no meu armário. Quando Nicolas viu o esforço que eu estava fazendo, ele pegou a mochila começou a andar, ele a balançava com apenas um dedo. "Você e muito forte," brinquei. "Puxei o meu pai," ele deu um sorriso de lado. Eu não pude evitar mas desviar o olhar, o assunto "pai" não era bem do que eu gostava de falar. "O que foi?," ele perguntou. "E que," eu parei, "Meu pai morreu quando eu tinha 7 anos. Não gosto muito de falar disso." "Desculpa, eu não sabia." "Tudo bem, vamos falar de outra coisa." Passamos o resto do caminho ate o ônibus conversando sobre tudo e sobre nada. Quando chegamos na parada, percebemos que ainda faltava quase uma hora para a aula começar. "Parece que não temos onde sentar," disse Nicolas. "Na verdade tem sim, me siga." "Tudo bem." Eu comecei a andar para dentro da pequena floresta que rodeava a nossa fazenda, depois de alguns minutos andando, eu já podia avista-la, lá longe, em cima de uma pequena colina. Era uma arvore gigante, com galhos bem grossos que podiam suportar varias pessoas. Quando chegamos, Nicolas já começou a subir. Ele parou no galho mais baixo, que quase tocava o chão, olhou para baixo e estendeu suas mãos para me erguer. Sem nenhum esforço eu estava em cima da arvore junto com ele. Tinha uma galho bem em cima, era o meu favorito, por que eu conseguia ver tudo lá de cima. "Me ajuda. Eu quero chegar naquele galho," eu disse apontando para cima. "Você tem certeza que você consegue? E bem alto." "Se você não me ajudar, eu vou sozinha," brinquei, "Passei minha infância toda naquele galho." "Tudo bem então." Ele foi subindo devagar e me puxando pelos galhos. Quando finalmente chegamos no galho lá de cima, percebemos uma coisa que eu nunca tinha visto: Dois grandes galhos se entrelaçavam formando uma espécie de cadeira, que servia perfeitamente para nos dois. Eu me apoiei nele e sentei, ele fez o mesmo. "Que vista linda, quase tanto quanto você Isa," Nicolas brincou. "Obrigada," respondi, "Quanto tempo temos ate o ônibus?" "Uns vinte minutos. Esta com pressa?" "Não, e que..." eu disse, "Eu nunca trouxe ninguém aqui em cima comigo antes, era onde eu ficava depois que o meu pai morreu." "Você quer que eu desça?" ele perguntou com um pouco de tristeza na voz, "Por que se você quiser não tem problema." "Não, claro que não, eu só preciso me acostumar com a companhia." "Tudo bem então." Estávamos sentados lado-a-lado, perto o suficiente para eu poder sentir o cheiro dele perfeitamente. Eu não queria sair dali de perto dele, queria poder ficar ali para sempre. Com um movimento bem leve eu me inclinei e deitei a minha cabeça no ombro de Nicolas, ele fez o mesmo. Ficamos alguns instantes sem falar nada, quase sem nos mexer. Ele fez exatamente o que eu queria que acontecesse mas não tinha coragem de fazer, ele levemente desceu os dedos pela minha perna, ate chegar na minha mão. Nossos dedos se entrelaçaram e ele carinhosamente acariciava minha mão. Era como se o tempo tivesse parado. Era um sentimento maravilhoso, mas ao mesmo tempo me sufocava por dentro por que eu não sabia o que fazer ou como agir. Salva pelo gongo, nos tínhamos que voltar para o ônibus. Nenhum de nos teve coragem de falar nada ate a hora que nos encontramos de novo na saída da escola, como ele estava duas turmas acima de mim, eu não me preocupei em ter que falar com ele ate agora. "Oi ,Isa," disse Nicolas. "Oi, como foi seu dia?" "Foi ótimo," ele disse, "Mas como eu entrei agora, eu descobri que o nosso baile de formatura já e sábado, amanha. Eu queria saber se você talvez gostaria de ir comigo?" "Eu ia amar ir com você," disse talvez um pouco animada demais. Ele pegou minha mão de novo, nos entrelaçamos os dedos e começamos nossa longa caminhada ate de volta para casa. Dentro do ônibus não falamos nada, apenas trocávamos olhares. Quando finalmente chegamos em casa, ele me deu um leve beijo na testa e disse: "Ate amanha minha linda." Eu o observei ate que eu pude ver a porta da casa dele se fechando atrás dele. Quando eu entrei em casa, percebi que minha mãe estava me observando. "O primeiro amor, sempre nos pega de surpresa," ela só disse isso e foi para a cozinha sem que eu pudesse ter qualquer reação. Subi para o meu quarto e me joguei na cama. Eu acho que dormi por algumas horas, por que quando eu acordei o sol estava quase se pondo. Me levantei e fui para janela para ver o sol se por e lá estava ele, na janela me esperando. Mesmo a casa dele sendo longe, eu conseguia ver que ele estava sorrindo. Eu não queria fazer mais nada, só ficar ali olhando para aquele rosto perfeito, aquele sorriso perfeito, aqueles olhos perfeitos, aquele menino perfeito. Depois de mais de uma hora trocando olhares, ele fechou a janela e foi dormir. Quando eu finalmente me deitei, eu demorei muito para dormir por que só conseguia pensar nele. Acordei bem cedo no sábado de manha para poder deixar tudo pronto para o baile. Tinha um vestido no fundo do meu armário, cheio de poeira, mas sempre foi meu vestido mais lindo, esse vestido também tinha uma historia linda, minha mãe estava usando esse mesmo vestido na noite em que ela conheceu meu pai. Era rosa bebe, longo e sem manga. Passei o dia todo lavando o vestido e me arrumando, mas no final valeu a pena. Quando eu vi ele na porta me esperando, com aquele terno todo preto, uma simples blusa branca por dentro, o cabelo ainda um pouco molhado como se tivesse acabo de sair do banho e nas suas mãos uma única rosa vermelha. "Isa, você esta..." ele parou como se procurasse a palavra certa, " linda." "Obrigada," eu respondi. Ele estendeu o braço e eu o peguei. Quando saímos pela porta da frente eu vi o carro que estava sempre estacionado na frente da casa dele mas nunca saia de lá. Nicolas abriu a porta do carro para mim e eu entrei. Era tudo tão lindo, as luzes, tão poucas que se arrastavam pelas pequenas cassas da fazenda, ao longe eu podia avistar a cidade, e a escola no topo do morro, os casais chegando, trocando olhares apaixonados e beijos. Tudo isso me fazia pensar, será que eu sentia mesmo alguma coisa pelo Nicolas? Mas isso nao importava agora, tudo o que eu queria era aproveitar nossa noite juntos. Quando chegamos, era tudo como um sonho. As luzes ao nosso redor brilhavam como estrelas, os casais dançando com as mãos um ao redor do outro e a musica era simplesmente perfeita. Nicolas pegou minha mão, entrelaçamos os dedos e andamos juntos para o meio do salão. Aquele momento não precisava de palavras. Meus dedos se sobrepunham atrás da nuca dele, as mãos dele estavam ao redor da minha cintura, e nos dançamos em uma sincronia que parecia ter sido ensaiada por meses. Junto com a batida da musica nos aproximávamos, meu coração batia muito rápido e com um leve movimento, nossos lábios se chocaram. Era um sentimento que eu nunca tinha tido antes, parecia que todos ao nosso redor tinham sumido, a musica tinha parado e eu queria que aquele momento durasse para sempre. Quando quebramos o beijo ele me deu um sorriso de leve e voltamos a dançar. A noite acabou tão rápido quanto começou. No caminho para casa, por algum motivo eu não podia olhar ele nos olhos. Chegando na fazenda, ele abriu a porta do carro para mim, e imitando um cavalheiro tirou seu chapéu de mentira, fez uma reverencia bem exagerada e disse: "Isa, desde o dia em que eu te conheci eu sinto algo por você, mas nunca tive coragem de te contar, quero ter alguma coisa seria com você. Você me daria a honra de ser seu namorado?" "Sim!" eu disse e pulei em seus braços, "Claro que sim ,Nicolas." Ele me levou ate a porta da frente da minha casa, acariciou meu rosto e me deu um ultimo beijo. Observei tudo nele, como se fosse para ter certeza de que eu iria sonhar com ele e velo de manha. Quando acordei na manha seguinte, ele foi meu primeiro pensamento. Desci para tomar café da manha e encontrei uma cartinha que tinha sido colocada por debaixo da porta de entrada, nela estava escrito com uma letra que só podia ser do Nicolas: "Querida Isa, mal dormi essa noite pensando em você. Me encontre no nosso lugar especial. Nicolas" Nosso lugar especial era a arvore perto do ponto de ônibus, subi rapidamente para me trocar. Coloquei uma blusa azul bebe e um macacão que era um short, nos pés eu coloquei um tênis bom para escalar a arvore. Demorei alguns minutos para ficar pronta mas por ele valia a pena. Deixei um recado para a minha mãe dizendo que voltava mais tarde e fui ao encontro do meu namorado. De longe eu já podia ouvir alguns barulhos estranhos, de martelos e pregos. Quando cheguei perto vi ele no topo da arvore com um monte de ferramentas na mão. Subi para encontrar ele, alcancei Nicolas um pouco ofegante. "O que você esta fazendo?" perguntei. "Fazendo uma casa na arvore para nos dois, para nos abrigar nos dias bons e nos ruins, nos dias chuvosos e nos de sol, para guardar todos os nossos segredos." Ele disse esperançoso e me puxou para um beijo. "Que lindo, posso ajudar?" "Claro ,princesa." Peguei um martelo e alguns pregos e comecei o trabalho, Nicolas já estava bem na minha frente, já tínhamos um chão. Pelo que parecia ele tinha se concentrado em manter nossa pequena cadeira em um canto da casa.

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⏰ Last updated: May 25, 2017 ⏰

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