Hoje em dia

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  Abro meus olhos encarando o simples e sem graça teto do meu quarto enquanto espero Maria abri a porta, o que não demorar mais que alguns poucos minutos. Ela destranca a porta e vem até mim com um sorriso fraco enquanto eu me levanto sem nenhuma vontade da minha cama.
Seguimos juntas para o refeitório onde me dirijo a minha mesa de sempre num canto da grande sala, espero alguns minutos até receber a bandeja com o que chamam de café da manhã, um pão simples com café, dificilmente eles variam o cardápio. Como devagar enquanto observo as pessoas a minha volta, algumas conversam com outros pacientes, outras comem em silêncio como eu. Não tenho muitas amizades aqui dentro, na verdade eu mal tenho interação com qual outra pessoa.
Volto ao quarto e troco de roupa, me dirigindo em seguida ao jardim com um livro qualquer, leio ali por um tempo, muito concentrada como sempre, não notando quando Maria se aproxima e me chama baixo, avisando que já é hora do almoço, mas uma vez me dirijo ao local na companhia da mulher. A tarde, tomo um banho e saiu logo em seguida pra minha consulta, onde Dra. Margaret me espera. Ela como sempre começa a me perguntar sobre meu dia, obtendo a mesma resposta de sempre, nada de importante aconteceu, apenas o de sempre.
Ela continua a me fazer perguntas, nada que já não esteja acostumada, tudo sem parar de anotar num pequeno caderno em suas mãos, a perguntas são quase sempre as mesmas, sobre como me sinto e como tenho reagido ao tratamento, ela se mostra insatisfeita ao saber das minhas interações e volta a afirma o quanto isso é importante pra meu tratamento. A seção termina um pouco depois, apenas saiu de lá e fico rodando pelo lugar até o horário que costumo assistir, numa sala de TV pequena aqui, depois apenas me levanto para a janta, volto a assistir até o horário de me recolher acompanhada como sempre da mulher responsável por mim.
  Deito-me e apenas encaro o teto branco até uma mulher baixinha com cabelos ruivos entra no quarto com uma bandeja em mãos, acho que se chama Carla, mas não me recordo bem... ela apenas separa os medicamentos e me entrega, saindo do local logo em seguida.
  Tudo que ouço é a tranca da porta seguido de um silêncio perturbador, não demoro a sentir a sonolência de costume, e cair no sono.
  Essa tem sido minha rotina nos últimos 6 meses da minha vida desde que fui internada numa clínica de reabilitação para dependentes químicos, minha rotina se altera nas terças e quintas em que temos grupos de apoio, nas quartas em que temos um tempo de 4 horas livres a tarde para receber visitas, nas sexta vou ao departamento médico fazer uma espécie de avaliação clínica geral, algum pra saber se seu corpo tem reagido bem ao tratamento e aos medicamentos que tomamos a cada refeição e outro bando de baboseiras, nos sábados temos um tempo de " recreação" num pequeno salão de jogos e filmes e aos domingos temos um tempo livre pra fazer o que quiser.

Caminhando pro fimOnde histórias criam vida. Descubra agora