O Alguém

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Como toda manhã, lia os textos escritos por Alguém nas costas limpas de folhetos publicitários. O mensageiro às novas terças e velhas quintas era um corvo e às primeiras sextas e últimos sábados um gato preto, o qual ousava aguardar meu despertar, na cabeceira da cama. Ao contrário do outro, que deiava a encomenda abaixo de seus pés, pousado na janela, até minha aproximação.

O pássaro me trazia poemas e reflexões, enquanto o felino revelava-me ter nada escrito nos papéis que carregava. Nada além de desenhos borrados em preto e branco.

Há muito havia desistido de desmascarar o remetente daqueles escritos, uma vez que estes me encantavam melancolicamente, mais e mais, a cada dia e a descoberta da autoria de tudo aquilo ficava ainda mais remota.

Por Onde Cruza a Via LácteaOnde histórias criam vida. Descubra agora