Sabe a música Eduardo e Monica da Legião Urbana? Ou Ana e o mar do Teatro Mágico? É bem o casal que eu e o João, mais conhecido como Jão somos. Totalmente diferentes, mas um completa o outro e vice-versa...que nem feijão com arroz. Eu estudo Direito, ele Música. Eu escuto Metallica, ele Roberta Campos. Amo preto, ele branco. Sou noturna, ele matinal. Bebo todas, ele só toma agua...
Como aconteceu? Eu defendendo meus direitos como mulher em um Seminário da UFRN e ele rindo que toda mulher quer os direitos dos homens, mas no fundo querem um príncipe e serem tratadas como princesa. Ainda riu de mim e disse: Prazer, serei seu Érick, Derick, Darcy...seja lá qual príncipe você ama.
E estamos aqui, dois anos depois em um dos dias mais felizes e tensos de nossas vidas. Acordei com o Jão passando mal e virei para o outro lado.
Mas pensei...de novo? Faz umas três semanas que o Jão acorda mal. Resolvi então ver o que ocorria. Levantei cambaleando e lá estava o meu amado jogado no chão
"Jão, o que vc está sentindo?"
"Enjoo. Cami, fui fazer café que eu adoro e passei mal. Será que eu estou grávido?" Ele disse rindo. Comecei a rir até que nosso olhar cruzou e ele disse novamente
"Cami...você não deveria ter menstruado?
Ele é tão organizado, diferente de mim, que sabe até quando tenho que menstruar. Meu príncipe me mata de tanta organização.
Olhei o João e pensei: " Meu Deus e agora? "
"Acho que devemos fazer um exame. Eu estou com sintomas de gravidez...vamos confirmar isso" Jão disse rindo " E Cami, seu telefone está tocando desde a hora que eu levantei. Vai ver quem é"
Senti até calafrios de pensar em estar grávida e como contar aos meus pais. A apresentação Jão para família no último natal foi tensa. Já tinha enrolado um e meio para levar o Jão em Santos porque vim para o Rio Grande do Norte quase fugida. Fugida de uma família linda e perfeita, do casamento perfeito da minha irmã Maria com seu amor de infância Eduardo, o amado genro do papai. Eles são pais da Anna Lua, minha sobrinha de dois meses. Perfeitos até para fazerem um bebe e ele já nascer bonito. Fugi da necessidade de manter meu cabelo num tom normal e não azul como está agora. Do choque em saberem das minhas pequenas tatuagens escondidas nos lugares estratégicos. Dos castigos e blitz atrás de "coisas que pessoas de boa índole não fazem". Fugi para crescer. Cresci e amo o Jão, mas ainda não sei como administraria a decepção dele, que tem a melhor família do mundo, ao se tornar mais uma das decepções que a Camila fez para a família dela no último natal. Meu pai não soube disfarçar ao ver o estilo riponga do meu namorado. O Edu...o Edu é perfeito. Ele e a Maria são. E são tão perfeitos que o Jão amou eles e eles amaram o Jão. Minha mãe é a pessoa que não sabe o que fazer no meio entre eu e meu pai. Mas ela é a melhor mãe do mundo. Enfim, foi tenso.
E fica mais tenso ao saber que a Anna Lua nasceu e já está com dois meses, e eu só a vi na cam e que serei a madrinha dela quando parar de fingir que estou muito ocupada para visitar minha família. Tenho que marcar minha volta para casa.
"Cami acorda...levanta...Trouxe um exame para você fazer".
Percebi que o meu só mais um pouquinho foi até meio-dia. Levantei com toda pressa do mundo para fazer o tal exame e de novo pensei em meu pai.
Um exame mais cinco depois e vem o resultado...
" Cami...Cami...Cami. A gente compra comida congelada, a gente só sabe trabalhar e estudar, a gente anda de ônibus e não sabemos nem cuidar de um cacto. Camiiiii, vamos ser pais como?"
Olhava para o João com esse discurso e o maior sorriso do mundo na face. Como ele pode falar tudo que não sabemos fazer e estar achando o máximo o fatode que seremos pais?
"Assim João. Nós transamos como se não houvesse o amanhã, eu estava bêbada e você poderia ter dito não, mas sabe como você é...e no caso o amanhã tipo virou hoje e eu descobri que estou gravida"
"Mas Cami...Cami, pensa que coisa mais Legal Cami"
"Legal como Jão? Como vamos estudar e ter um bebe para cuidar? Nosso salário é uma piada, nossos pais ajudam a nos manter aqui e agora você acha o máximo?"
"Mas Cami, é o máximo. Você nunca pensou em ser mãe? Em ter o melhor de nós dois na mesma pessoa? Em ver ele crescer, aprender a andar, a falar papai e mamãe, alguém que nós vamos amar mais que tudo? Cami pensa no que você mais ama. Ele ou ela vai substituir isso. Pensa em todos os acertos e erros que teremos e que mesmo assim seremos os heróis dele. Pensa Cami...para de fazer como se você não gostasse do nosso bebe"
"João, como eu posso gostar dele? Eu acabei de saber meu amor. É impossível sentir as coisas do jeito que você está vendo. Como nós vamos fazer? Desculpa amor por não ver assim...preciso ficar só um pouquinho sozinha. Eu sei que nós somos jovens, loucos, que nossos pais contavam com a nossa responsabilidade mas e agora?"
"Continuamos responsáveis Camila. Ninguém aqui vai deixar o bebe morrer de fome por não saber cozinhar, nem por regar demais igual o cacto. Ele é nosso e nós vamos aprender com ele"
"Desculpa mô. Eu não sei se quero ele"
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O nosso melhor
Short StoryJão e Cami eram o casal que se completava da melhor maneira possível: Eduardo e Monica, Arroz e feijão, café com leite. Até que uma gravidez indesejada e uma tragédia familiar os fez questionar suas decisões atuais e futuras.