Já estava quase chegando a hora do sol nascer. Todos estavam cansados. As olheiras eram maiores do que todos imaginavam.
Aparentemente, Nash e Cam eram os únicos animados, suficientemente, para verem o nascer do sol.
Eles levantaram pulando e saíram correndo para a varanda da cozinha. Pareciam duas crianças quando ouviam a música do carro de sorvete passando.
Jack G. e Madison estavam deitados no sofá, dormindo. Olhos de peixe... Jess, havia ido embora a uma meia hora atras. Barb estava jogada em um dos puffs, mexendo em seu celular, acho até que estava achando graça de algo que via lá.
Aaron e Jack J. subiram para o segundo andar a uma hora atras e não desceram até agora, acredito que estejam no quinto sono já. Matt e Tay estavam sentados no chão, apoiados um no outro, cochilando.
Eu estava com tanto sono, e a tanto tempo sentada na mesma posição, no chão, que minha bunda estava amortecida, e algumas outras partes do corpo também. Finalmente entendi o sentido da frase "minha bunda está quadrada".
Levantei, tentando fazer o máximo de silêncio possível. Não queria acordar nenhum deles.
Barb ignorou, totalmente, minha movimentação. Acho que ela estava tão brava, pelo fato de eu ter voltado, que notei que ela começara a fingir que eu não estava mais ali. Mas isso não era um problema, eu não ligo para ela, de qualquer forma, ela fingir que não existo, só facilita minha vida.
Por alguma razão, quis ir até a cozinha, mesmo não tendo motivos. Fui em silêncio absoluto, para que Nash e Cam não me vissem, quando entrei.
Eles dois estavam apoiados na varanda, conversando sobre algo que era gostoso para eles, pois lançavam sorrisos atrás de sorrisos, quando terminavam alguma frase.
Sentei em uma banqueta na cozinha, e me apoiei no balcão, de onde poderia ver qualquer movimento deles. Ficar os observando era tão bom.
Eles eram tão diferentes fisicamente, mas tão parecidos.
Pareciam entender o que se passa na cabeça um do outro o tempo todo.
E eles eram tão lindos...
Por que me meti nisso? Por que não consigo me desvincular de relacionamentos conturbados e seguir minha vida sozinha e feliz? Por que eu não sei ser feliz sozinha?
Eles dois são amigos. São melhores amigos, e eu não sei o que fazer. Eu quero tanto beijar Cam, mas o beijo de Nash me tiro o fôlego, e estar perto dele me traz segurança e conforto. Enquanto estar perto de Cam me traz vontade de viver e tesão em ser desafiada, me sinto viva perto de Cam.
Isso parece uma grande loucura, ou até uma enorme besteira. Eu os conheço a menos de vinte e quatro horas. Como é possível eles mexerem tanto comigo?
Quando estou perto deles, não penso em Dan.
- Você sabe que não pode ficar com os dois, né? - uma voz conhecida me puxou de volta à realidade.
- Que susto! - pensei alto.
Tay estava rindo, mas sem emitir som. Por sorte, Nash e Cam, não ouviram nada.
- Não finja que não entendeu o que eu disse... - Tay insistiu.
- Eu não sei do que está falando! - menti.
- Sabe sim! - ele deu um sorriso travesso.
- Você acha que quero ficar com os dois? - fingi estar confusa.
- Você não quer os dois, porque você não é tão cruel assim... Só não consegue escolher qual dos dois quer! - explicou.
- Não é verdad...
- Callie, não tente mentir para um mentiroso! - me interrompeu - Eu reparei como olha para os dois. Seu olhar para o Nash é quase implorando por um abraço, já o olhar para o Cam é como se gritasse para ele tirar sua roupa.
- Não é verdade! - comecei a rir - Você está doido? - continuei rindo, para quebrar a seriedade da conversa.
Tay ficou me encarando, como se pudesse ler meu pensamento. Eu não ia deixar ele achar que sabe o que se passa em minha mente.
- Tay, eu terminei com meu namorado a umas dezesseis horas atras, não estou procurando um novo namorado...
- Quando você admitir que está apaixonada por dois melhores amigos, vai ser mais fácil! - me interrompeu de novo.
Antes que eu pudesse responder, Nash e Cam se aproximaram. Eu estava tão presa a conversa com Tay, que meu lugar estratégico para ver qualquer movimento deles, falhou.
- O que você está fazendo aí sozinha? - Cam falou puxando uma banqueta e se sentando ao meu lado. O cheiro doce de seu perfume tomou conta do local, e aquele silêncio que até então parecia ser agradável foi quebrado por ele. Tay piscou com seu olho direito e deu uma risada enquanto saía andando rumo à sala onde estavam todos dormindo, ou pelo menos tentando.
- Todos estão jogados pela casa. - olhei ao redor para tentar ver para onde Nash havia ido. Ao lado de fora da casa, em um pequeno banco velho de madeira posicionado logo ao lado da porta de vidro da varanda, lá estava Nash, com a cabeça apoiada na parede e o corpo desleixado no banco. Fiquei fitando Nash, o vento batia em se rosto e fazia seu cabelo se movimentar quase que em câmera lenta. Já Cam, cruzou os braços diante a mesa, e como um travesseiro deitou sua cabeça da forma mais confortável possível, quase que dava para notar a baba escorrendo por sua pele.
Não quis acorda-los, então fui andando meio que sem rumo pela casa, imaginando como tudo isso ficaria quando o sol alcançasse seu ápice. Na porta de madeira entre aberta pude ver Tay sentado nas escadas que davam direto para a rua, quando sai correndo da casa não reparei que haviam tantos degraus, acho que pulei alguns deles. Caminhei até Tay e sentei em seu lado da maneira mais confortável possível, só agora percebi que desde que acordei não tive nenhum momento para ficar sozinha e em silêncio.
- Sua mãe deve estar morta de preocupação. - nessa tentativa falha de Taylor puxar assunto, ele me trouxe lembranças de algo que eu não estava pronta para lembrar.
- Eu que estou preocupada com ela. - dei um sorriso forçado. -Ela deve estar jogada em algum canto da minha casa. - disse sem demonstrar muito interesse em continuar a conversa.
- Como assim? - Taylor fez uma cara de desentendido.
- Minha mãe é uma viciada em álcool e anti depressivos Taylor. - Percebi em sua cara que ele não sabia o que me dizer, queria falar que não me importava e que estava tudo bem, mas a verdade é que eu me importo, e muito.
- Meu amores, a noite foi ótima. - Matt suga nossa atenção para ele, que vem fechando a porta com várias coisas na mão e tentando colocar seu casaco, eu até ofereceria uma ajuda, mas estou tão cansada que não conseguiria levantar dali para ajudar nem se eu quisesse muito. - Sei que minha presença aqui é primordial, porém o dever me chama, preciso salvar o mundo mais uma vez e ajudar meu avô a fechar o bar. - Matt largou as coisas que estavam em suas mãos na escada, terminou de colocar seu casaco e começou a procurar alguma coisa em sua mochila, que logo pude presumir que eram suas chaves.
- Eu também preciso ir, minha presença não é tão importante quando a sua, mas meu banho quente e minha cama me chamam. - pensei alto e eles riram.
- Eu até poderia te oferecer uma carona, mas não tenho carro e nem disposição para caminha até sua casa. - Tay diz se explicando.
- Minha casa é tão longe que nem percebi que envelheci quatro anos enquanto andava até aqui. - joguei uma indireta quase que direta para Matt, que conseguiu ser mais lerdo do que eu esperava e não entendeu a brincadeira. - Você pode me levar até em casa? - disse olhando para Matt que pareceu ficar surpreso com o pedido.
- Claro! - deu um sorriso inocente.
Tay lançou um olhar travesso e logo fui cortando seu pensamento maléfico:
- Nem começa! - dei uma risada e Matt pareceu não ter prestado atenção no que acontecera - Só vou me despedir dos meninos, espera cinco minutos?
- Vai lá! - Matt sentou ao lado de Tay - Mas não demora, senhor B não é aquele senhor doce que você conheceu quando me atraso.
Só dei risada e entrei.
Corri com pés de pano até a cozinha. Minha intenção sempre fora só ir e dar tchau a Nash e Cam. Usei a desculpa, para mim mesma, que não queria acordar os outros, mas era mentira e eu sabia disso.
Cam estava dormindo apoiado na mesa, do mesmo modo que eu o vira a tempos atras. Sentei ao seu lado e de lá, vi Nash deitado no banco do lado de fora da varanda, com o braço nos olhos, tapando a luz.
Sentei ao lado de Cam e fiz um leve carinho em seu cabelo que já estava todo bagunçado. Ele acordou no susto e quando olhou para minha cara, se aconchegou de novo com o rosto virado para mim, mas com os olhos fechados.
- Eu preciso ir... - cochichei - Só vim dar um beijo de tchau!
Me aproximei dele para lhe dar um beijo na bochecha, mas ele virou o rosto e me deu um selinho. Eu ia brigar por aquilo, mas por algum motivo, não fiz. Só sorri e me levantei.
Me aproximei do banco onde Nash estava deitado e notei que ele também dormia. Me agachei perto de seu rosto e o cutuquei para que acordasse. Ele levantou o braço forçando os olhos por causa da luz.
Quando seus olhos se acostumaram com a claridade, ele sorriu ao conseguir notar que era eu quem estava ao seu lado.
- Não levante! - avisei quando percebi que ele iria - Estou indo embora, só vim me despedir.
- Mas já? - ficou surpreso.
- Minha cama me chama... - brinquei.
Antes que ele pudesse responder qualquer coisa, o beijei. Uma força avassaladora me fizera fazer aquilo. Eu simplesmente fiz, sem pensar em mais nada.---
Estávamos no carro já havia alguns minutos e já tínhamos parado em pelo menos sete faróis vermelhos. O silêncio era predominante, mas o cansaço era nitidamente o culpado disso.
Matt fora o cara mais animado à noite toda, mas agora estava tão cansado e com olheiras tão grandes que cheguei a achá-lo feio por segundos, até ele sorrir, então mudei de ideia.
- O que foi? - ele perguntou sorrindo.
Eu estava tão tocada em olhar todos os detalhes do rosto de Matt para memoriza-los, caso nunca maios o veja, que não percebi que ele havia percebido que eu o encarava.
- O que? - me fiz de desentendida.
- Você estava me encarando com cara de quem observa algo... - explicou, mesmo sabendo que eu estava mentindo que não entendi.
- Eu estava viajando, não percebi que parecia te encarar. - menti de novo.
- Mentira! - ele riu - Quando você viaja fica com cara de idiota e quando observa fica com uma sobrancelha arqueada. Você estava com a sobrancelha arqueada. - ele sorriu.
- Como você sabe disso? Andou me encarando durante a noite? - mudei de assunto, jogando a culpa nele.
- Você é boa em fugir de assunto! - sorriu de novo e aquele sorriso me quebrou - Mas tudo bem, não precisa admitir que estava admirando toda essa minha beleza esplendida que todos invejam! - fez um carão de drag e um olhar de quem tenta seduzir mas não consegue.
Ri tanto de sua cara que acho que ele chegou a ficar constrangido, mas não consegui segurar. Não consigo imaginar Matt sendo um cara sexy que encanta as mulheres com toda sua beleza e sexualidade. Matt é o menino bobo que faz todo mundo rir, que encanta todos com seu senso de humor exagerado e sua alegria contagiante, mesmo tendo passado por coisas horríveis a infância toda.
As nossas risadas cessaram quando pude ver a praça. A praça onde o dia anterior começou da pior maneira. Matt notou uma tensão e quando paramos no farol vermelho - de novo - não resistiu e perguntou:
- Foi aqui que seu ex fez aquela idiotice ontem?
- Foi! - suspirei - É só você seguir reto e virar a terceira a esquerda que já estamos chegando na minha casa... - mudei de assunto.
- Hey, aquele cara é um idiota, você sabe disso né? - tentou me animar - Ele perdeu essa mulher incrível que você é, então ele é um idiota completo!
- Obrigada Matt, você é demais - forcei um sorriso - Mas não quero falar sobre isso.
Ele entendeu meu lado e respeitou, então o silêncio voltou à tona.
Achei que tinha superado o que acontecera, mas a verdade é que eu estive distraída demais para pensar no caso, então não tive tempo para ficar triste, mas agora, toda essa tristeza que achei que não sentiria, veio com tudo, como um soco na boca do estômago, querendo me fazer vomitar.
Foram mais cinco minutos em silêncio até chegarmos na rua de minha casa. Ele freiou e sorriu.
Suspirei e tirei o cinto. Olhei para Matt, que me encarava com o olhar mais doce do mundo.
- Obrigada!
- Obrigado pelo que? - Matt de fez.
- Não se faça de bobo... - brinquei - Obrigada por tudo que você fez ontem!
O puxei para um abraço antes de ele poder ter uma reação.
- Espero te ver mais vezes... - ele sussurrou.
Me afastei do abraço e ordenei:
- Me de seu celular!
- Por que? - ficou confuso.
- Por que você faz muitas perguntas? - revirei os olhos - Só nome de esse celular logo.
- Ta aqui! - me entregou, depois de tatear os bolsos para procurar.
Ele me entregou o celular desbloqueado, digitei meu número e liguei. Caiu na caixa de mensagem, porque meu celular estava desligado a tempos já. Sorri e desliguei a chamada.
- Pronto! - entreguei o celular - Agora tem meu número.
- Você salvou?
- Não vou fazer tudo para você né! É o último número chamado. - sorri, abri a porta e sai, enquanto ele entrava na lista de chamada para ver se eu falava sério.
Ele abriu o vidro, quando fechei a porta. Me apoiei na janela e por segundos me senti uma garota de programa, mas minhas roupas não eram o perfil dessa profissão, então não liguei.
- Me liga, acho que precisarei ir mais vezes no bar do Senhor B.! - foi a última coisa que disse antes de virar e sair, não dando chances dele dizer mais nada.
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À noite do jogo
Novela JuvenilQuem diria que a sua vida faria sentido a partir de um jogo? A vida de Callie parecia ter sido arruinada por um garoto, agora é vista de um novo ângulo. Perceber que você talvez não seja tão vítima assim acaba mexendo com seu psicológico, e agora a...