Comparações da vida ao acaso

40 3 0
                                    


Você está lá de baixo a tanto tempo que já perdeu a conta de quantas cobertas residem sobre você. Esfrega seus olhos lentamente, tentando recobrar a consciência, tentando se lembrar de qual planeta veio. Os pés tocam o chão frio, percebe que seus chinelos foram perdidos durante a noite. Espera que tenha sido seu gato que tenha os pego. Mas rapidamente recorda-se que não possui gato.

É de manhã, as 07:01 ele para em frente a janela e se recorda que é agosto. Mas ainda são 06:59, acaba de olhar para seu braço, percebe que está dormente, deduz que seu corpo havia repousado sobre ele. Seu corpo caminha em linha extremamente torta até a saída do quarto, ele queria ser abduzido de volta para a cama. As 07:00 ele decide ir comprar pão. Mas agora já são 07:10. Em frente a sua janela, ele olha a neve. Seu relógio marca 07:01, procura, mas não acha um motivo para ficar na cama. Poderia dizer que o dia está muito frio para qualquer coisa, mas sua consciência não iria acreditar.

Tranquilamente em desespero, segue as 07:05 por onde havia grama, mas agora está em falta. Tem medo de não conseguir retornar a sua casa, sem que tenha sofrido mais um ataque de saudades. Acredita que sua mente conspira, para que ele não possa mais viver. Ele sente as mãos geladas, não sente os dedos dos pés, sua respiração está ofegante e um frio abominável passa pelo seu corpo. Está tão atordoado de medo que esquece que está nevando.

Seu relógio marca 07:08. Já está de volta à sua casa, sem pão e sem coragem de viver. Sua mente foi espancada por lembranças desgostosas de momentos felizes e inquietantes que residiam no fundo daquele ser, metade homem, metade alguma coisa. Ele acaricia seu gato, veste seus chinelos, cobre-se com suas cobertas e volta a devanear sobre sua existência.

Afogado em três metros e meio de solidãoOnde histórias criam vida. Descubra agora