Único

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Os dedos do conde tocaram com graça a xícara ricamente decorada, viajante vinda de alguma outra monarquia. Inclinando-se, levemente, ao leva-la aos lábios, os quais tinham toda e qualquer atenção do demônio. A pele pálida, os lábios que abraçavam a porcelana, úmidos ao se afastarem, sentiam sobre si os olhos  carmesins daquela sombra felina, das mãos enluvadas, da voz de veludo. Um olhar quase religioso, que fazia sobre si a pressão suave de um beijo sem toque.

Os olhos fechados, passou a língua sobre o lábio superior, sentindo o gosto doce de uma gota que lhe escapara pelos cantos. Inconsciente. Tentador.

-Jovem Mestre, deixe-me ajuda-lo com isso - Sibilou levando a mão á boca, mordendo a ponta da luva e deslizando o tecido macio sobre a pele, as veias levemente demarcadas ao dorso, as unhas grotescamente enegrecidas.

Seus dedos compridos agarraram o maxilar do conde, estendendo-o para si, aproximando-se para que o outro se afastasse. Ciel não se moveu. O medo e o estranhamento há muito se transformaram em curiosidade e desafio para o conde. Era certo que o Michaelis jamais o machucaria, porém, até onde iria, se o visse além da aparência infantil, além da alma tão suja quanto ele mesmo? Como aqueles orbes maliciosos o veriam? Ciel Phantomhive não gostava de incertezas, e não se afastou ao sentir os cabelos negros tocarem seu rosto, olhando para cima, cedendo á hipnose naqueles olhos infernais

Não havia cheiro, não havia temperatura na mão que o segurava, nem hálito na boca que se abria em frente a sua. Apenas a língua que se desenrolava, bifurcada, deslizando fria sobre o gosto do chá inglês sobre a boca do conde.

Sebastian se afastou quando o cheiro daquela alma foi forte o suficiente para deixa-lo á beira da tentação, quando a boca de Ciel começou a se abrir para a sua. Não se arriscaria quebrar o contrato que cintilava sobre a sua mão. Era fácil demais, para um mordomo e um demônio, sucumbir a Ciel Phantomhive. Afinal, não é todo dia que um demônio encontra uma alma tão podre quanto a sua seria.

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