Eu tinha nove anos, em uma das datas festivas de meu reino, a qual a população formava pequenas filas em frente ao castelo para conversar com meus pais sobre os desejos do povo, ou seja, pedir melhorias para o nosso reino, enquanto brincava com outras princesas nas redondezas do Castelo, vi adentrar uma camponesa simples, com uma filha pequena em seu colo e um garotinho aparentemente da minha idade sendo puxado pela mão da mesma, naquela hora, fiquei curiosa em saber o que ela iria pedir aos meus pais, pois em sua feição estava estampado o rosto de quem realmente precisava de ajuda, urgentemente.
- Eu irei ao banheiro! - menti. - já volto!
Me afastei das demais princesas e quando me convenci que ninguém me observava, corri para a sala do trono.
Sempre gostei de me imaginar naquelas situações, tendo que dizer sim e não, ajudar ou não ajudar, mentir ou dizer a verdade, como meus pais faziam, além do mais um dia seria eu, e mesmo que ainda demorasse uns dez anos, de algum jeito eu sentia uma pressão.Entrei de fininho, sem deixar minhas sapatilhas fazerem eco, pisando como quem havia roubado a coroa para não me verem. Quando cheguei, percebi que tinha perdido uma pequena parte da conversa, droga, eu odiava chegar atrasada em lugares que eu não podia comparecer. Me escondi atrás de uma pilastra e escutei.
- ...Majestade! Eu preciso que aceite! Os dois não podem ficar comigo e não posso simplesmente abandona-los! - Disse a camponesa com seriedade, mas com a voz trêmula.
Ela estava querendo dar seus filhos?? Que desnaturada.
Escutei o som que meu pai fazia quando estava frustrado, chocante.
- Preciso deixar-lhe claro que eles desde já são responsabilidade nossa, e nós decidiremos seus futuros, quando crescerem, o garoto será treinado para usufruir alguma atividade real, e a menina, ela será uma empregada íntima da Princesa. - Ele disse, sendo calmamente ríspido.
O salão ficou em silêncio por uns segundos.
Isso só pode ser uma piada, claramente ele quis dizer com tudo isso que a mãe deles não iria nem poder interferir no futuro que eles teriam, muito menos acompanhar isso. Ela não vai concordar, não mesmo.
- Cuidaremos bem deles. - Minha mãe finalmente disse algo.
- Eu aceito. - a camponesa disse quase atropelando a curta frase da rainha.
- Assim será, se despeça e se retire, guardas! Levem as crianças - Meu pai ordenou sem esperar mais. A situação o estava deixando desconfortavel.
Escutei as duas crianças começarem a chorar em uma altura não escandalosa.
- Não perca seu colar Michael! Cuide da Ana. - Ouvi a camponesa dizer com a voz de quem estava preocupada e desolada. - Eu não queria, eu amo vocês.
- sim mãe, quando você vem buscar a gente? - a voz que eu presumi ser do garotinho soou chorosa.
- Não perca seu colar filho. - Sua mãe disse.
Ouvi-la sair apressadamente do salão.
- Mamãe?? Quando você volta? - a voz da garotinha agora, gritava desesperada.
Espiei e vi meus pais se olhando como pessoas que tinham acabado de fazer algo dificílimo, os guardas se aproximaram mais das duas crianças tristes e as levaram.
Continuei observando tudo aquilo quando os olhos do garotinho viraram-se em direção aos meus e me encontraram espionando.
Fiquei com vergonha.
Ele continuou fixado em mim até ser levado para um lugar onde não pudesse mais me enchergar.
Foi o olhar mais marcante da minha vida, eu só não podia imaginar que aquele garotinho ainda iria me trazer tantas outras emoções.
Ali eu conheci Michael.
VOCÊ ESTÁ LENDO
The guard Michael
Hayran KurguA narrativa de como eu, Maya Collins me entreguei completamente á Michael Rocherd. Capa: @srta_arcoiris