Cheguei para ensaiar por volta das três da tarde. O dia foi cheio. Nem consegui dormir direito com compressas de água gelada ao redor dos olhos para diminuir minhas olheiras. Pelo menos, funcionou e na gravação da campanha o maquiador não precisou carregar demais.
Além disso, fotos minhas com o Altair saíram em vários jornais e sites de fofoca, estava um bafafá como Dani havia previsto. Ela não parou de atender ao telefone o dia inteiro, me disse para eu só sair no meio da rua deslumbrante e para manter o papo de "somos só amigos" como combinara com Altair.
Eu estava exausta. Noite péssima. Manhã de muito trabalho. Saí do estúdio direto para o hospital. Está tudo bem com a vovó, mas detesto vê-la sedada. A doutora sempre me fala que ela não vai durar para sempre e que tenho que me acostumar com isso. Dói demais quando tocam nesse assunto. Eu já sei disso, é óbvio. Mas não preciso ficar pensando a respeito, porque quando ela se for, estarei totalmente sozinha no mundo.
Ainda tinha lágrimas nos olhos quando entrei na academia. Por isso, fui direto ao banheiro. Retoquei minha maquiagem. Ninguém precisava ficar olhando para essa minha cara chorosa. Eu sou Bruna "Diva" Drummond. Eu sou atriz. Posso muito bem atuar aqui também. Passo um batom, molho os lábios, meu sorriso voltou.
Foi então que aquela garota, a parceira do Carlos Eduardo, entrou no banheiro. Ela era magérrima. Bailarina mesmo. Tinha cabelo claro e um sorriso delicado. Seus gestos eram leves, quase uma borboleta. Eu estava me maquiando e lá fiquei, de frente para o espelho sem tirar os olhos do meu reflexo, apesar de ela estar fazendo grande esforço para chamar minha atenção.
─ Ele gosta de você. – De repente, ela se encostou na bancada ao meu lado e soltou essa. Respirei fundo. Detesto essa intimidade. Detesto quando essas meninas pensam que são minhas amigas e querem se meter na minha vida.
─ E quem é você para se meter na minha vida? – Continuei passando meu rímel, mas fui grosseira.
─ Porque eu o conheço muito bem. – Ela estava zangada. – Sou apaixonada por ele. – Só me faltava isso. Mal começo a sair com o cara, já tenho que encarar uma Maria-chuteira no meu pé.
─ Como é seu nome mesmo, queridinha?
─ Soraya.
─ Soraya, meu amorzinho, pode ficar tranquila. Nós somos só amigos. – Sorri para ela. Irônica ao cubo. Depois de um dia como esses, não estava disposta a enfrentar uma doidinha qualquer. – Pode ficar com ele inteirinho para você.
─ Você acha que é só amizade, mas ele gosta de você, sua idiota. – Puxou meu braço e olhei para ela assustada. Não esperava nenhuma agressão. – E não vou permitir que você o magoe. Ele é um cara muito legal. Legal demais para você. – A delicadeza de borboleta voou para longe.
─ Hei! – Alteei o tom de voz e puxei meu braço. Aquela menininha educadinha de bairrozinho chique não ia me tirar do salto, mas se continuasse daquele jeito, eu ia mostrar o poder da periferia para ela e aquele cabelinho engomado dela. – Eu mal conheço o Altair, ok? Ele é só meu amigo.
─ Sua idiota, você acha que eu estou falando daquele jogador metido a estrela?
─ E você estaria falando de quem, criatura?
Só então me dei conta de que ela estava falando do Carlos Eduardo.
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Por Onde Andei
Teen FictionNo quarto volume da série Nando, pela primeira vez, temos a visão simultânea dos dois protagonistas: Bruna e Carlos Eduardo. Ela, atriz desde menina, não está acostumada a confiar nas pessoas. Resolve os seus problemas a sua maneira, nem sempre acer...