Carlos Eduardo - Assim que a Bruna entrou na sala

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Assim que a Bruna entrou na sala, notei alguma coisa de diferente. Se ela fosse tímida, eu diria que era timidez. Fugia do encontro dos meus olhos. Mas nunca seria isso, aquela moça é tudo menos tímida. Acho que estava tão constrangida quanto eu por causa de ontem.

Fiz questão de lhe entregar um buquê de lírios com um cartão de desculpas. Eu exagerei no meu julgamento na noite anterior e não queria perder a amizade dela por causa disso. Eu estava muito arrependido e envergonhado. Entreguei as flores vermelho de vergonha.

─ Você não precisava fazer isso? – Ela olhava para o chão. – Todo mundo acha que eu tenho a vida ganha. As pessoas dizem coisas assim para mim o tempo todo e nunca me pedem desculpas por acharem isso.

─ Eu peço. – Toquei nos ombros dela. Minhas mãos estavam frias. A pele dela estava quente. – Fui um idiota. Simplesmente não juntei as peças desse seu quebra-cabeça. Sua vida é complicada. Você é uma guerreira, menina. – Eu a puxei para um abraço, mas ela hesitava. Peguei o rosto dela nas minhas mãos. – Quero estar presente. Quero ajudar. – Ela mordeu os lábios. Fugiu novamente do meu olhar. – Você deixa eu ficar do seu lado? Deixa?

─ Não quero brincar com seus sentimentos, Kadu. Você é legal demais pra isso.

─ Você não vai brincar comigo, Brunilda. – Dei um beijo no rosto dela. Ela estava pegando fogo. Acho que consegui deixá-la tão constrangida quanto ela fazia comigo às vezes. – Já sou grandinho. Sei me cuidar. E posso muito bem cuidar um pouco de você de vez em quando...

Sorri para ela. Nossos olhares se cruzaram e eu mergulhei na escuridão daqueles olhar mais uma vez. Era como olhar para o universo. Para o caos. Não sei. Quantas coisas aconteciam ali dentro? Tudo desorganizado. Obra de uma porção de acasos, mas que ao mesmo tempo era também um retrato da perfeição. A garota era uma fortaleza.

─ Kadu, eu não sei se isso vai dar certo. – Nunca vi alguém ser tão resistente assim para aceitar ajuda. Bruna era orgulhosa.

─ Não tem que dar, já deu. – Afirmei com convicção a abraçando. – Você é minha parceira. Nós nos damos super bem, Brunoca. – Sorri e lhe dei outro beijo na bochecha. – Vamos só deixar acontecer naturalmente, ok?

Ela olhava para mim com olhos arregalados. Acho que pensava na proposta. Ficou calada e depois de um tempo só fez que sim com a cabeça. Sorriu de volta.

─ Ótimo. – Também sorri. – Que tal se a gente ensaiasse um pouco agora? Advinha o que eu tenho aqui para você?

─ Os sapatos de sapateado?

─ Claro. Ah! E tem essa saia também. Acho que é para o ensaio. Quarta-feira é a última prova do figurino. Você já foi lá dizer como quer?

─ Acho que está meio óbvio. Rosa. Rosa. Rosa.

─ Você vai ficar linda de rosa. – Sorri novamente e notei ela corar o que foi particularmente estranho, mas finalmente ela respondeu do jeito ao qual estou acostumado.

─ Eu sempre fico linda. – Disse enquanto colocava a saia cheia de anáguas por cima da malha da ginástica.

Dançamos a coreografia. Pude perceber que ela trabalhou bastante a questão da expressão corporal. Seu rosto tinha uma inocência e uma timidez que eu nunca vira antes. Era uma garotinha me seduzindo. Encantadora. Surpreendente como sempre. Eu me senti obrigado a acompanhar tamanho empenho. Fiz o melhor bad boy que consegui.

***

Por Onde AndeiOnde histórias criam vida. Descubra agora