Bruna - Essa menina só pode estar maluca

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Essa menina só pode estar maluca. Nunca na vida um cara como o Carlos Eduardo vai se interessar por uma garota como eu. Eu que não sei falar bonito. Que não entendo inglês. Eu que sou respondona. Não. Essa moça não está no seu juízo perfeito. Ele tem muito mais cara dessas menininhas do colégio que combinam a roupa de grife, com o sapato de grife, com a joia de joalheria renomada. Essas meninas que aprenderam a tocar piano e a andar de cavalo quando eram crianças.

Eu até hoje sinto remorso se comprar uma peça por mais de R$500,00. O mais perto que já cheguei de um piano foi na novela de época que fiz recentemente. E só subo em um cavalo se o cachê for alto, porque morro de medo de cair lá de cima.

Saí dando gargalhadas do banheiro. Soraya fez cara feia para mim. Ela só vive de cara feia. Aposto que é dessas meninas que nunca viram um problema de perto e ficam arranjando cabelo em ovo. Pelo menos, a ideia absurda melhorou o meu humor.

Confesso, entretanto, que quando dei de cara com o buquê lindo que Kadu comprou para mim, meu sorriso confiante sumiu. Por um instante, eu considerei se aquilo que Soraya estava dizendo era verdade. Sempre tive uma imaginação fantástica. Fui transportada para uma realidade paralela em que eu namorava esse garoto.

Vi nós dois numa praia deserta correndo em direção ao mar. Ele beijando com carinho as minhas mãos. Eu deitada sobre o seu peito nu acompanhando o sobe e desce da respiração, encarando aquele tigre que me fascina.

Imaginei que Kadu é o tipo do cara que te liga de madrugada para dizer que está com saudade. O tipo do cara que sempre acerta no presente que dar, porque ele sempre escuta as indiretas que as mulheres costumam fazer diante das vitrines. O tipo de cara que desiste de ir trabalhar para cuidar de você no caso de algum problema.

Gostei até demais do que vi.

Ele falava, foi logo me dando um cartão. Pedia desculpas pela grosseria. Eu respondia, mas estava bem longe.

Em pouco tempo, eu conseguiria acabar com tudo. Desconfiança. Ciúme. Já via nós dois brigando. Eu querendo saber com quem ele andou. Ele me dizendo que eu tinha engordado. Nós dois reclamando da falta de tempo, da prioridade que o outro sempre dava ao trabalho.

Não. Eu não sirvo para alguém como o Kadu. Melhor não tocar nesse assunto. Ele toca no meu rosto. Ele pede para tentar. Alega que tudo dará certo entre nós porque já funcionamos enquanto parceiros. Ri e parece confiante. Chego a pensar em tentar.

Eu me arrepio. A pele dele está fria. A minha está quente. Ele me abraça, beija minhas bochechas. Estou calada como nem sei ser. A situação é tão inusitada que não tenho o que dizer.

Nós dançamos. Ele me faz perguntas triviais. Tento brincar. Hoje ele me olha diferente. Sinto meu coração disparar, eu o quero. Quero os seus olhos azuis nos meus como estão agora. Acho que ele me adivinha.

Mas Carlos Eduardo não me beija.

Ao fim do ensaio tira a camisa e se joga no chão. Está tão exausto quanto eu. Mas ele não me beija, não na boca como quero que faça. Beijo na bochecha não conta.

O ensaio termina e nada aconteceu. Nós nos despedimos com sorrisos e abraços constrangidos. Acho que entendi errado. Acho que decidi me deixar levar. No fundo, eu sei que não sou feita para gente como ele, o rapaz educado da escola.

Meu telefone toca. É Altair.

***

Por Onde AndeiOnde histórias criam vida. Descubra agora