Carlos Eduardo - Não houve nesse programa um casal que dance como vocês

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─ Eu, sinceramente, acho que ainda não houve nesse programa um casal que dance como vocês dois. – Hoje, a Primeira Bailarina do Teatro Municipal fazia parte do júri técnico e nos enchia de elogios. – Se continuarem desse jeito, não vejo como não serem campeões. Vocês têm uma leveza, um ritmo impecável, não houve uma marcação incorreta sequer. Estão de parabéns!

Nem acreditei que estava ouvindo isso. Verdade que sabia que a coreografia estava boa. A execução foi perfeita. Bruna estava inspirada. Boa parte do encanto estava na interpretação corporal dela. Ela foi incrível. Uma bonequinha. Tão diferente do furacão que costuma ser.

Quando a música de Celly Campelo começou a tocar: O sapatinho eu vou/ com um laço cor-de-rosa enfeitar/ e perto dele eu vou/ andar devagarinho e o broto conquistar, só dava para ouvir as chapinhas dos sapatos de sapateado. Acho que nunca vou esquecer seu rostinho de menina sorrindo. Ela é muito bonita mesmo.

O apresentador conversava com o restante dos jurados sobre a nossa apresentação. Era difícil prestar atenção. Bruna apertava forte a minha mão. Vez em quando seus olhos encontravam os meus. Nós estávamos felizes.

─ Gosto da maneira criativa que vocês interagem. Semana passada, a Bruna estava um mulherão, irresistível. Hoje, é uma menininha apaixonada pela primeira vez. Trazendo uma pureza que ninguém mais ousou trazer para um ritmo tão contraventor. Estou surpreso. – o outro representante do júri técnico deu sua opinião também.

─ Olha, não dá para negar, - disse o ator que fora o vencedor da edição passada: vocês dois são simplesmente perfeitos um para o outro. Sei lá! Quando vocês dançam, fica uma coisa no ar...

Eu estava cumprindo a minha parte do combinado. Prometi a minha professora dar o melhor de mim nessa competição e estava fazendo isso. Felizmente, nunca imaginei que iria dizer uma coisa dessas, mas eu tinha Bruna ao meu lado. Ela me completa de uma forma que nem sabia que alguém poderia me completar. Eu precisava admitir isso, nunca dancei tão bem na vida quanto ao lado dela.

Pensando assim, beijei sua mão e ela olhou para mim enternecida. Bruna me compreendia. Quando foi que nós passamos a nos entender tanto assim?

─ Falando em alguma coisa no ar, - o apresentador falava empolgado – tem um cara aqui que me pediu um tempinho para esclarecer uns boatos que andaram circulando essa semana pela mídia. – na hora, nem suspeitei de nada, mas Bruna apertava minha mão com tanta força que eu deveria ter desconfiado. – Entra aí, Altair.

A plateia explodiu em palmas. Bruna segurou a minha mão com as duas mãos como se fosse uma criança pequena precisando ser salva. Dava para sentir a angústia dela, mas, ao mesmo tempo, seu rosto transmitia uma alegria contagiante. Parecia feliz com a presença do jogador.

─ Boa noite, gente. – O apresentador deu um microfone para o rapaz que se virou para a plateia. Aquele auditório quase veio abaixo com as palavras dele. Não dava para ouvir nem os pensamentos. – Hoje eu estou aqui para fazer um pedido. – Disse quando a multidão se acalmou. Nisso, entra uma dançarina com o maior buquê de flores já visto na televisão brasileira. – Estou completamente apaixonado por essa mulher. – Apontou para Bruna. Ela tremia, não mais que Daniela nos bastidores, suspeito que por motivos diferentes. – Bruna, eu vim aqui, na frente dessa gente toda, para dizer que eu não vivo sem você. Que eu sou capaz de te dar a lua. De ir buscar cada estrela do céu para enfeitar o seu sorriso. Só preciso que você me responda sim. Namora comigo? – Ela não soltou minha mão. Pelo contrário, apertava ainda mais forte. Quando me olhou nos olhos, senti que precisava fazer alguma coisa. Mas o quê? Ela sorriu para mim de um jeito triste e seguiu em direção a mão estendida de Altair.

Foi quando uma banda de pagode famosa começou a cantar em algum canto: Tá vendo aquela lua que brilha lá no céu/ se você me pedir eu vou buscar só para te dar. A plateia delirou. O rapaz sabia fazer uma declaração de amor. Ah! E chamar atenção.

Ele a abraçou. Só aí ela soltou a minha mão. Beijaram-se. Todos aplaudiram.

Eu deveria ter aplaudido também. Não consegui.

***

Por Onde AndeiOnde histórias criam vida. Descubra agora