Felipe - Bruna, calma!

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─ Bruna, calma. – Eu não estava entendendo nada. Ela me ligou chorando às duas da manhã. – Respira. Aconteceu alguma coisa com a sua avó? É isso?

─ Não. Minha avó está bem. – Ela fungava. – Ela até já voltou para casa.

Bruna é uma amiga de inúmeras qualidades. Sempre que precisei ela esteve lá para mim. De doação de cachê para campanhas publicitárias até uma opinião sobre que presente dar para minha namorada. Ainda que estivéssemos distantes por conta dos compromissos, que eram muitos tanto meus quanto dela, estávamos sempre próximos em pensamento.

Agora, por exemplo, eu estava em Salvador defendendo meu clube. Iria nadar três provas daqui a algumas horas, mas não podia deixar de atendê-la. Só iria ficar chateado, e não seria a primeira vez, se esse chororô fosse mais um dos pequenos escândalos de Bruna.

Não tinha muitos amigos de verdade. Acho que a história de vida dela não permitiu que aprendesse a confiar nas pessoas. Não a julgo. Os pais da minha amiga não eram fáceis. Brigaram de forma baixa nos tribunais pelo dinheiro. De certa forma, exploraram o trabalho da menina enquanto puderam a submetendo a mais atividades do que ela aguentaria, chegou a perder um ano na escola por causa disso, não sei como não ficou doente. E até hoje, depois da decisão do juiz, pouco se importavam com ela.

Jamais admiti em frente de Bruna, mas eu achava os seus pais dois pilantras. O pai era um preguiçoso, teve a audácia de pedir pensão na justiça. E a mãe se evolvia com os piores tipos. Certa vez, Bruna me disse que desconfiava que a mãe estivesse namorando um dos mais importantes nomes do crime organizado.

É claro que ser criada por essas duas personalidades deturpadas lhe deixaram marcas profundas. Realmente não a julgo. Entretanto, eu nem sempre tinha paciência para os problemas banais de Bruna, ela desenvolvera táticas para chamar a atenção dos pais já que eles não davam à mínima para suas necessidades de menina e aprimorara essas técnicas ao longo do tempo. Com ela, tudo era intenso.

Hoje, porém, parecia sério. Um cara, um jogador de futebol famoso a pediu em namoro em rede nacional e ela, milagrosamente, não estava feliz. Em qualquer outra situação, acho que ela soltaria fogos de alegria. Adorava exposição na mídia. E nada a faria aparecer tanto.

Para minha surpresa, ela estava infeliz de verdade. Bruna se declarou apaixonada por outro cara. E me disse isso como se me confessasse uma doença terminal.

─ Bruna, minha querida, uma hora isso ia acabar acontecendo, não é mesmo? – Não consegui deixar de rir.

─ Como é que você pode rir essa situação, Felipe? Eu estou sofrendo.

─ Claro que está, Bruna. Amor não correspondido dói mesmo. Você não se lembra de quanto eu era desagradável enquanto a Mile me desprezava...

─ Prefiro não falar nisso. Você era meu namorado naquela época.

─ Acho que você está agora numa situação bem parecida com a minha naquela época...

─ Você foi um idiota. Quem pode ter a audácia de não ser feliz ao lado de Bruna "Delícia" Drummond? – Brincou comigo entre fungadas. Eu adorava essa autoestima elevada dela. Sempre me deixava de bom humor.

─ Pois é, pelo que está me dizendo, você pode se forçar a ser feliz ao lado do mais-que-desejado jogador de futebol e esquecer o carinha por quem você se diz apaixonada, já que ele não te faz bem, nem faz bem para a sua imagem. Mas, vou logo avisando, a tarefa não é nada fácil...

─ Eu sempre fui boa de briga. É isso que eu vou fazer. Não posso simplesmente baixar a guarda para esse garoto idiota que nem me nota.

─ Quem é esse? É cego? Do jeito que você é, precisa ser cego, surdo e mudo para não te notar. – Eu ri.

─ Bobinho...

─ Faz o seguinte, meu amor, liga para mim sempre que você estiver sofrendo, tá? - Imagino que vai ser em breve. Pelo menos, enquanto ela estiver insistindo em fugir desse cara e desse sentimento, acho que é assim que vai ser.

***

Por Onde AndeiOnde histórias criam vida. Descubra agora