Carlos Eduardo - Havia fotos de Bruna em todos os sites

105 9 0
                                    

Havia fotos da Bruna com o jogador de futebol em todos os sites de notícia, em todos os jornais que abri para ler naquela segunda-feira. Ela foi a principal convidada dos programas matinais. Seu rosto não transparecia a angústia do dia anterior. Não sei o porquê, mas aquilo me distraiu de tal forma que não consegui me concentrar no trabalho.

─ Carlos Eduardo, - minha mãe chamava minha atenção – uma revista adolescente quer fazer uma entrevista com você para a próxima edição.

─ Comigo? – Eu me espantei. – Para quê?

─ Por causa do programa, meu filho. Acho que a popularidade de Bruna Drummond respingou em você finalmente.

─ O que a senhora acha? Devo aceitar?

─ Olha, meu querido, sei que você é tímido e que detesta esse negócio de mídia. Porém, não seria nada mal para a divulgação da sua Atmosfera se você aparecesse num veículo desse porte voltado exclusivamente para o seu público. E de graça.

─ Pode confirmar a minha entrevista então, mãe. Se é pelo bem dos negócios.

Saí do escritório com o peso no mundo nas costas. Algo me dizia que faltava alguma coisa. Tentei me focar na próxima coreografia. Ainda tinha esse problema pela frente, o funk. Esse não era um ritmo de salão. Pelo contrário, na minha cabeça, era um ritmo baixo, vulgar. Eu não queria fazer essa coreografia e sabia que isso traria problemas, pois dançar tinha que ter uma verdade. Funk não era a minha verdade.

Quando cheguei à academia, Bruna já estava lá fazendo aulas com o Serginho. Ela melhorou muito nessas semanas. Eles dançavam bolero. Bati no vidro para chamar a atenção deles. Sorri para ela pelo vidro. Ela retribuiu o sorriso e foi como se o sol nascesse só para mim. Ela tinha um sorriso lindo.

Com o ânimo renovado, fui para a minha aula com Soraya. Precisávamos decidir uma coreografia para esse funk. Bastou dez minutos daquilo para estarmos enojados. Era mais vulgaridade do que sensualidade.

─ E se você pegasse uma coisa mais antiga? Algo mais clássico, menos vulgar... – Ela sugeriu.

─ Tipo o quê? Feira de Acari?

─ E o tema da Tropa de Elite?

─ Acho que não fica bom para um casal...

─ Você quer é se esfregar naquela garota! – Disse zangada.

─ Soraya... – Desde que ela me disse que queria algo mais comigo e eu a dispensei, não falamos mais sobre o assunto. Acho que ele não foi totalmente esquecido.

─ Kadu, eu não vou mentir. Não me sinto bem vendo você dançar com aquela idiota. – Lágrimas escorriam pelo seu rosto

─ Soraya... – Eu tentava consolá-la com um abraço, mas ela fugia de mim limpando o rosto.

─ Você nunca dançou comigo daquele jeito. Nunca, Kadu. Por quê? Eu só queria saber...

─ Soraya, a Bruna tem namorado. Você não viu? O Brasil inteiro viu. – Tentei desviar a conversa da pergunta que nem eu mesmo saberia responder, mas que era a mais absoluta das verdades. Eu dançava melhor com a Bruna do que jamais dancei na minha vida inteira. Quanto mais eu assistia aos vídeos das nossas apresentações, mais tinha certeza disso.

Passei as mãos pelos cabelos desesperado. Detestava ver mulheres chorando. Respirei fundo. Soraya não queria nem olhar para mim.

─ Sou tão melhor do que ela em tantos aspectos, Kadu.

─ Tenho certeza de que é, Sora. Tenho certeza. – Respondi com delicadeza.

Ela achava que eu estava apaixonado por Bruna. Essa era uma ideia ridícula. Nós éramos parceiros inesperados, tudo bem. Mas nunca houve sentimento. Ou será que havia? Claro que não.

Não me dei ao trabalho de desfazer sua confusão. Milena ou Bruna, meu coração não pertencia a ela e era melhor que Soraya me tirasse da cabeça. E que fizesse isso rápido, antes que essa paixão acabasse com a nossa parceria também.

─ Por que você não me dá uma chance de te fazer feliz? – Ela correu para me abraçar. Puxou meu rosto para um beijo que eu não retribuí. Fiquei apenas olhando para ela com os olhos abertos.

Depois que conheci Milena melhor, depois que passamos a dividir a mesma sala no colégio, Soraya saiu dos meus pensamentos com a mesma sutileza que entrou. Eu nem percebi. Gostei dela por um tempão. Sonhei em tê-la nos meus braços. Sonhei que ela retribuísse meus beijos como estava fazendo agora.

Nesse instante, nada daquilo fazia o menor sentido. Na minha frente, havia apenas uma garota muito querida a quem eu devo muita coisa. Tirei seus braços ao redor de mim. Não gosto de ver mulheres em situações assim, ela implorava pelo meu amor com suas lágrimas e isso era degradante.

Doeu demais vê-la naquela situação. E, pela primeira vez, eu me perguntei o porquê. Soraya não queria me soltar, mas ela me teve ao alcance de um chamado por tanto tempo. E eu me reconheço como transparente demais para que ela nunca tivesse percebido. Não. Ela sabia.

Sabia que meus olhos a seguiam. Que o meu sorriso era seu. Que eu me arrepiava quando nossas peles se tocavam. Mas somente agora ela se dizia apaixonada.

Soraya não me amava. Ela apenas queria a minha posse. Peguei minha toalha, meus CDs e saí da sala. Nossa parceria tinha acabado ali.

***

Por Onde AndeiOnde histórias criam vida. Descubra agora