O que é que eu estou fazendo aqui? Ai meu Deus! Se eu continuo nesse balanço com esse garoto, nem sei do que sou capaz. Se ele me olhar mais uma vez daquele jeito, eu juro que eu não sei do que eu sou capaz.
Felizmente, a música mudou. Saímos de uma batida mais melódica para uma mais agitada. Essa tem coreografia. Eu conheço, é claro. Nós nos separamos. Ela não anda/ ela desfila/ ela é top/ capa de revista/ é a mais mais/ ela arrasa no look/ tira foto no espelho para postar no facebook. Minha cara.
Acho graça do Kadu olhando para os rapazes. Tenho certeza de que quer decorar os passos. Ele até tenta alguma coisa, mas vai demorar um pouco para pegar a manha. Ele, entretanto, é um bom dançarino, já consegue fazer alguma coisa com os pés.
As meninas ao meu redor olham para ele. Como não notar esse holofote loiro e perfumado. Kadu cheira a menino rico. Tem coisas que não dá para disfarçar. Elas se aproximam. Eu colo nele. Hoje, ao menos hoje, ele é meu. Coloco as minhas pernas entre as dele. Disfarçada pelo ritmo sensual posso fazer o que quiser.
─ Vem, vou te ensinar um passo. – Puxo o pescoço dele para invadir meu espaço. Depois, eu mesma invado o espaço de Kadu. Ele pega rápido. Vários casais fazem a mesma coisa. – Você está gostando? – Tenho que gritar no ouvido dele para que escute.
─ Demais. – Apesar de constrangido, sei que está curtindo. Ele me virou de costas para ele, pegou na minha cintura e fez o primeiro passo que eu tinha lhe ensinado. Eu sigo o movimento do seu corpo.
─ Gostou desse, não é? – Eu tento tirar uma brincadeira, mas a sua respiração entrega algo que eu nunca ouvi antes: desejo. Ele morde o lábio e respira fundo. Recebo uma descarga de eletricidade. Eu também o quero.
─ Quem seria maluco de não gostar de estar assim com Bruna "De-lí-cia" Drummond? – Sussurra no meu ouvido. A maneira como ele pronunciou delícia me fez suspirar. Balançávamos no ritmo agitado da música. Eu tremi até o chão.
Fiquei de frente para ele de novo. Mostrei outro passo. Tirei seu casaco. Ali não estava frio. Estava pegando fogo. Ele seguia o ritmo com os braços para cima mexendo o quadril. Levava jeito. Dei uma boa olhada no tigre que a camiseta branca deixava ver. Eu podia sentir a inveja das garotas ao meu redor. O gatinho loiro estava comigo. Olhar de invejosa faz tão bem para o ego quanto uma tarde de compras.
Pus os braços dele nas minhas costas por cima dos meus ombros. Como foi que ele ficou tão lindo? Seus olhos azuis reluziam baile adentro. E eu o encarava. Ele me queria. Ele me queria do mesmo jeito que eu o queria. Puxei seu pescoço para um beijo. Se ele fosse idiota comigo como foi com a Soraya, eu não sei o que eu seria capaz de fazer.
Nossos lábios não chegaram a se tocar. Nesse momento, uma muvuca começou dentro do baile e foi possível ouvir um tiro. Carlos Eduardo me abraçou. Eu não conseguia ver nada debaixo do casaco de moletom dele. A impressão é que em três passadas nós já estávamos do lado de fora.
─ Você está bem? – Perguntava preocupado.
─ Estou. Estou. E você?
─ Estou bem.
─ O que aconteceu?
─ Uns tiros. – Não estendeu a conversa. – Acho melhor a gente sair daqui. Não acho seguro. – Ainda dava para ouvir a confusão dentro da boate. Não sei como ele me puxou para fora.
─ Tudo bem.
Não era o meu ideal de programa ir num baile da minha antiga vizinhança e sair fugida por causa de bala. Isso tinha que acontecer, como um sinal para ensinar a não misturar as coisas. Vim aqui centenas de vezes, e nem uma discussão, venho com Kadu e sai bala. Para completar, quando chegamos ao lugar onde deixei o carro dele, vazio. Roubaram o carro.
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Por Onde Andei
Teen FictionNo quarto volume da série Nando, pela primeira vez, temos a visão simultânea dos dois protagonistas: Bruna e Carlos Eduardo. Ela, atriz desde menina, não está acostumada a confiar nas pessoas. Resolve os seus problemas a sua maneira, nem sempre acer...