Carlos Eduardo - Puta que pariu!

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─ Puta que pariu! – Gritei colocando as mãos na cabeça. – Merda! Merda! Merda! – Eu pulava furioso. Chutei uma latinha de refrigerante. – Tem certeza de que a gente está no lugar certo? – Eu sabia que estávamos, só não queria acreditar.

Bruna olhava para mim como se visse um óvni. Nunca deve ter me visto xingar, mas carro roubado em meio de tiroteio era mais merda do que a minha educação conseguia aguentar.

─ Tenho... – Ela disse olhando para o chão. Claro que estava arrependida.

Mas a culpa era minha. Era minha de ter concordado com essa história absurda. Essa menina maluca vive por aí fazendo o que quer, coloca uma peruca e pensa que pode fugir da violência urbana. Eu deveria ter ouvido a voz da razão. A minha voz. A gente poderia ter levado um tiro. Ela poderia ter levado um tiro. Eu nunca iria me perdoar.

─ Calma, Carlos Eduardo. – Insistiu com uma tranquilidade que nesse momento eu simplesmente não tinha.

Bruna segurou minha mão. Eu queria esganá-la por ter nos metido nessa enrascada. Ela me entregou o casaco. A confusão lá em cima piorara, dava para ouvir as sirenes e mais tiros.

─ A gente precisa sair daqui.

─ Para onde, sua maluca? – Eu estava nervoso. – Como? Você quer nos meter em mais alguma furada?

─ Calma. Eu sei para onde nós vamos.

Disse isso e me puxou por mais ruazinhas esquisitas. Até que ela parou numa casa de dois andares e foi entrando pelo portão sem menor constrangimento. As pessoas lá dentro ouviram o barulho e correram para recebê-la felizes.

─ Kadu, esta é a Liduína, minha madrinha.

Somente dentro da casa, muito bem servido com cachorro-quente e Coca-Cola, fui me dar conta que aquela periferia não era totalmente desconhecida da Bruna. Ela cresceu ali.

Dona Liduína, muito gentilmente, mostrava álbuns de fotografia. Ela e a mãe de Bruna eram amigas de infância. Tornaram-se vizinhas quando a menina nasceu. E, quando Bruna começou a fazer sucesso, deu a casa ao lado para a madrinha. Hoje, quem vivia lá era a Adalgisa, a filha, com o marido e mais três crianças.

Pedi licença para ligar para o seguro. Bruna não tirava os olhos de cima de mim, admito que fui grosseiro. Estava assustado. Ela ainda me olhava como se eu fosse de outro planeta, mas continuou a conversa animada com a madrinha. Pelo jeito, viam-se com frequência e tinham muitos assuntos, incluindo o novo namorado jogador de futebol.

Depois do seguro, vinha a pior parte. Ligar para os meus pais. Minha mãe ia me matar. Ela rezava todas as noites com medo de sequestro. Houve uma tentativa quando meu irmão era pequeno e ela jamais se esqueceu disso. Fora um sacrifício fazê-la abrir mão dos seguranças que nos acompanhavam quando éramos crianças.

─ Caê, preciso de um favor.

Meu irmão riu muito da situação como um todo. E eu não poderia nem reclamar das suas gozações. Pelo menos, concordou em inventar uma história sobre uma pane no meu carro e vir me buscar. Precisei que Bruna desse as coordenadas para o GPS porque eu não fazia a menor ideia de onde estava.

Enquanto esperávamos, Bruna me apresentou dois outros filhos da madrinha o Jodernan e o Jefferson. Eram gêmeos e uns dois anos mais novos do que eu. Eles eram muito bons em hip hop, ficaram me mostrando uns passos e a Bruna ficou conversando com Liduína na cozinha.

***

Por Onde AndeiOnde histórias criam vida. Descubra agora