Carlos Eduardo - Você viu a Bruna?

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─ Tici, você viu a Bruna? – Perguntei para a moça da recepção. Minha parceira nunca chegava atrasada e já passavam vinte minutos da hora combinada.

Fiquei pensando se eu tinha sido grosseiro demais na noite anterior a ponto de fazê-la desistir da parceria. Ela não parecia bem na carona de volta. Também, o Caê exagerou com a história do motel. Eu, conhecendo meu irmão, só faltei morrer de vergonha. Imagine ela. Principalmente depois que a gente quase...

Bom, o importante é que não aconteceu nada. Na hora, fiquei muito nervoso. Mas, no final das contas, foi só um susto enorme e um carro com seguro. Minha principal preocupação era que o seguro não cobrisse a blindagem. Ia ser um prejuízo grande. Nem isso, a blindagem também constava da apólice e em duas semanas no máximo estará tudo resolvido.

─ Kadu, ela não vem.

─ Como assim não vem? Aconteceu alguma coisa? Ela deu notícia?

─ Ela mesma não deu, mas está em todos os sites de fofoca. – Tici virou a tela do computador da recepção para mim. Mostrava uma foto da Bruna de biquíni num resort na Bahia ao lado do namorado curtindo o fim de tarde na piscina.

Aquilo me deu tanta raiva que eu não aguentei. Estava furioso. Além de me meter em uma enrascada na noite anterior, ela simplesmente sumia. Ia para a Bahia com o namorado sem me dar um telefonema. E eu preocupado com o nosso quase beijo como se isso tivesse alguma relevância para ela. Essa garota faz o que quer e não liga para nada nem para ninguém.

Aposto que mesmo com esse cara não passa de fachada. Ela é incapaz de enxergar alguém além de si mesma. Eu tentava me convencer de que era uma tremenda perda de tempo pensar na insensatez dela, mas a verdade era que a imagem das mãos do jogador no corpo dela estava me incomodando mais do que deveria.

Fiquei ensaiando de frente para o espelho. Definitivamente, eu tinha muito que aprender para ser convincente. Bruna até merecia mesmo umas férias. Acho que ela já nasceu arrasando no funk.

Bruna. Bruna. Bruna. Aquele biquíni estava me enlouquecendo. Eu não conseguia me concentrar. A manchete dizia: "Apaixonados com a bênção de todos os santos". Juntei minhas coisas. Aquele ensaio não estava funcionando. A minha vontade era deixar a competição e me dedicar aos problemas do trabalho.

O telefone toca.

─ Alô, riquinho? Já se recuperou do golpe? – Ela falava com a maior animação. Não seria agora que eu perderia a cabeça. Fingi que não sabia de nada.

─ Brunota, cadê você?

─ Ah! Eu tive que viajar. – O "tive" fez a minha cabeça latejar de tanta raiva. – Aliás, vou ficar fora até sábado, ok? – Ela não tinha a menor noção do que significava a palavra compromisso.

─ Você acha que isso é adequado, Bruna?

─ Riquinho, não esquenta comigo, tá? Eu já deixei tudo esquematizado. Liguei para os meninos e eles aceitaram te dar umas aulas. Você vai concordar comigo que está precisando mais do que eu, não é? – Ela começou a rir de maneira leviana. Provavelmente, zombando do meu desempenho na noite anterior. Eu me senti humilhado com isso, não posso negar. Em algum momento da noite passada, cheguei a pensar que estava acontecendo algo mais entre a gente, agora, eu me sentia um babaca. – Não se preocupe que eu pago as aulas, tá? – Ainda jogou essa cereja no bolo. Como se eu não pudesse arcar com as minhas responsabilidades. – Você só vai ter de esperar um pouquinho, porque eles trabalham em um bairro mais afastado e não vai dar tempo de chegarem na nossa hora habitual de ensaio.

─ Bruna...

─ Kadu, eu tenho que ir. – Ouvi uma voz por detrás dela a chamando que reconheci como a do jogador de futebol. – Aproveite, tá? A gente marca alguma coisa no sábado. Tchau!

─ Tchau... – Nem tive tempo de falar, ela desligou na minha cara.

Assim que guardei meu celular na bolsa, Tici veio me chamar para receber visitas, Jodernan e Jefferson tinham acabado de chegar.

***

Por Onde AndeiOnde histórias criam vida. Descubra agora