Decisões

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—Faith.

—sim?

—Blade quer te ver.

Que ótimo.

Já comecei o dia bem.

Respiro fundo e levanto, sigo Lilith em silêncio, ela é a nossa colunista de culinária, é uma mulher magra e alta mas com um gosto super fino pra roupas e sapatos, algo que preciso admitir é claro nas mulheres que me cercam é que são e estão sempre bem vestidas, nada de tênis, nada de jeans nem camisetas, tudo o que elas usam são sapatos caros, calças ou saias sociais, blusas de seda entre outras e tendências, isso me faz sentir-me deslocada, porque na maioria das vezes é a minha forma de me vestir, eu gosto de ser prática por que pego muito metrô, não tenho carro, então andar de sapatos altos—que já é um sacrifício pra mim em qualquer época do ano—e roupas apertadas—que me deixam espremida me fazem desistir de ser como elas.

Eu na verdade nem em mil anos serei nem quero ser como elas.

Acho que cada um tem o direito de ser o que quer, eu inclusive de ser uma derrotada sem uma melhor amiga depressiva e com um gato egoísta, ah, e não vamos esquecer de vizinho adolescente rebelde.

Entramos na sala de Blade, ele está sentado em sua mesa, em suas costas um mural de diplomas e certificados, que é alguém competente eu sempre soube, bonito também, deve ter seus quarenta anos no máximo, moreno, olhos azuis, lábios finos e mais alto, o porto atlético, é, o Blade é bem bonito, o que não combina com sua beleza aqui é a arrogância estampada em seu olhar, o ego estufado em seu peito, o a prepotência vazada em seu sorriso.

Ele também é casado pelo o que eu soube com o decorrer da semana, parece que com uma mulher bem importante de uma revista de moda, mas eu não procurei saber muito de Blade, não quis, estava bem chateada com os meus problemas pessoais, minha vida pessoal já é uma droga, acrescentar os dizeres e exigências dele todos os dias na minha coluna tem sido suportável.

Não quero que isso tudo vire um inferno.

—bom dia senhorita Silver.

Lilith fecha a porta.

Pensei que a reunião seria apenas entre eu e ele mas pelo visto ela também participará.

—sente-se.

—sim senhor, bom dia.

Faz cinco dias que esse cara assumiu e me cobre de exigências via e-mail eu inclusive não sei muitas vezes como lidar com sua personalidade, não gosto de pessoas autoritárias, apesar de eu ser bem assim, coisa que herdei de papai, ele é super autoritário e mandão, mamãe já é aquela mulher bem omissa, sensível demais, acho que os dois são dois polos.

Me sento na cadeira diante de sua mesa, Lilith na cadeira ao lado da minha, ela cruza suas belas e longas pernas, é, ela é bem chique, uma mulher branca e ruiva, eu já não sou tão branca e o meu cabelo é castanho mais claro, e o azul que ela tem nos olhos, acredito que eu jamais terei, também não gosto muito de me maquiar.

—eu te chamei aqui por que observo que a sua coluna não está se adequando as minhas exigências.

Engulo o suspiro na garganta, não tem como agradar mesmo, eu não posso falar de garotas magras e tendências numa coluna sobre mulheres num geral.

—por isso a partir de hoje você irá pra coluna de culinária, Lili vai assumir no seu lugar.

Olho pra Lilith, ela já sabia disso, vejo pela forma que ela o fita, tem um brilho de vitória e alegria em seu olhar.

—alguma coisa que queira me dizer?

—o senhor sabe que eu não entendo de culinária certo?

É difícil falar com Blade, depois da nossa "DR" no primeiro dia em que ele me expôs pro pessoal a alguns dias atrás eu tenho levado ele com a barriga, tenho tentado atender as suas exigências mas não consigo escrever algo que não condiz com o que o trabalho em si exerce.

Agora ele quer que eu fale de culinária? Eu só como fora, eu só seu fazer café, salada e bife malpassado, e tem vezes que o meu bife até queima.

—bem, terá que se adequar—ele fala com deboche no olhar—você deve saber, seu corpinho não se tornou assim atoa certo?

O Que?

—Lilith entende de moda e tendências, ela é uma mulher ligada na atualidade e entende a posição da mulher na sociedade.

—Espera—peço sem fôlego—o senhor vai me colocar na coluna de culinária... acho que ouvi errado.

—não ouviu não, você é gorda, se é gorda deve saber muito bem cozinhar, e naturalmente come em abundância.

Lilith da uma risadinha baixa, quando me viro pra ela fico chocada diante deste absurdo, o meu corpo todo recebe esta resposta como se levasse dezenas de socos, então ergo meu olhar e meu sangue esquenta nas veias.

—não!—digo e nego com a cabeça—eu não serei colunista de culinária.

—não ficará na coluna da mulher Faith...

—claro que não.

—claro que vai.

Me levanto, e detenho a vontade que sinto de avançar pra cima desse babaca.

—tudo bem, eu passo no Rh e peço as minhas contas, boa sorte Lilith, e com licença.

—tem certeza de que não quer ficar na coluna de culinária?

—tenho, procure alguém magra, e espere que em breve o meu advogado irá procura-lo pra um papo bem legal sobre assédio moral Blade.

O semblante de Blade muda.

—eu só estava brincando.

—pois que fique com sua soberba e preconceito, eu estudei muito pra ser colunista de moda nessa empresa, o senhor não sabe o que é falar sobre uma mulher, tão pouco Lilith, ela vai arruinar a sua coluna.

—sua coluna é sem ênfase e sem graça.

—nem todas as mulheres do mundo se importam com roupas e sapatos.

—mas nem todas elas são garotas acima do peso e depressivas, seus textos sobre amor parecem textos feitos para meninas de quinze anos que querem um namorado.

—tudo bem, muito obrigada pela crítica construtiva, com licença.

—vamos Faith... eu posso...

Enquanto me afasto escuto ele chamando mas finjo que não ouvi.

Ao sair da sala de Blade, choro um pouco, nunca pensei que passaria por algo assim na minha vida, não novamente.




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