| N i n a |
Margot para o carro em frente ao colégio e não hesito em entrar antes que Adam apareça subitamente e diga coisas convincentes ou queira me levar a uma aventura à Nárnia. Não que fosse ser uma má ideia, mas não. Não gosto de estar perto dele, por mais legal e altruísta que ele seja. Por quê? Porque ele é comunicativo demais e é persuasivo, também. Eu não falo com as pessoas, e ele me faz querer falar e ficar triste e frustrada por não conseguir. Eu me sinto estranha perto dele. É um estranho bom... até demais. Mas a ciência de ser um estranho bom, faz ser um estranho ruim, então eu fujo dele, até onde posso e consigo. Sou uma grande idiota, eu sei. Só estou cuidando de mim mesma.
"Por que parece mais irritada que o normal? Mais irritada que triste." Margot diz, dando marcha.
"Adam. Amigo do Adam. Adam. Aniversário da Natalie. Adam. Dia dos namorados. Adam." Bufo, retirando meu tênis com os pés enquanto puxo o cinto de segurança. Encolho minhas pernas sobre o banco e jogo minha mochila no banco de trás.
"Novidades? Então conte-me." Ela sorri.
"Adam é muito persistente." Bufo. "Eu odeio pessoas persistentes" Digo ao mesmo tempo que Margot diz "Você odeia pessoas persistentes."
"O que ele fez de dê terrível?" Ela diz, como se fosse uma piada.
"Margot, não é engraçado!" Digo, impaciente, mas ela ainda ir.
"Ok, desculpa." Ela comprime os lábios para tentar não rir. "Prossiga."
"Ele fica falando sobre, sei lá, querer me ajudar e fica lendo Bukowski para mim. E depois, diz que o filme favorito é "Clube dos Cinco" e que ama "Sociedade dos Poetas Mortos", além de ter uma paixão secreta por Ed Sheeran. Quem faz isso?" Faço careta.
"Você, eu acho." Ela ri.
"Exatamente. Eu. Devia ser singular." Balanço a cabeça, ainda incrédula.
"Você é singular, meu amor. São só gostos parecidos. O que tem de tão ruim?" Ela olha para mim quando para o carro no sinal.
"Ele elogiar minhas meias, dizer que me entende, ser legal demais. Ah, e o pior e mais desumano: trazer-me flores amarelas. Flores amarelas, Margot!" Exclamo, irritada.
"São suas favoritas." Ela continua sem entender.
"Exato!!!" Grito. "Viu? Argh!"
"Ok, e sobre o amigo dele?" Ela diz, voltando a dirigir.
"Bem, Chris Roberts quer sair comigo no dia dos namorados. Ele podia transar com três garotas diferentes na noite do baile, mas vai sair com a esquisitona muda que se veste estranhamente... Bem." Concluo. "Há algo errado."
"Ou o tal Chris Roberts só quer sair com você. Por que acha isso tão improvável?" Ela arqueia as sobrancelhas.
"Qual a parte do 'esquisitona muda' que não entrou na sua cabeça?" Ironizo.
"O fato de você não se adequar a nenhum dos adjetivos idiotas?" Ela ironiza de volta.
"Margot, você era líder de torcida no ensino médio." Fecho a cara.
"E então, engravidei do meu par no baile do terceiro ano, que se mudou para a Austrália quando soube da gravidez e eu não fui para a faculdade, porque meus pais me expulsaram de casa. Morei em um apartamento menor que esse carro por três anos e trabalhava o dia e a noite todos para alimentar só a minha filha. E por outros dois anos, tive um namorado, mas terminamos e eu fui chutada. Uma péssima mãe, eu sei. Até que encontrei a sua mãe e ela me salvou." Ela diz simplesmente. "Se eu tenho esse carro foda, minha filha estuda em no melhor colégio da cidade e eu tenho onde morar, é pela sua mãe e por você. Isso tudo, e eu não tenho nem trinta. Quer ter o mesmo destino?" Ela diz, cética.
"Sim! Se eu pudesse falar e ser uma líder de torcida? Sim, Margot!" Afirmo, sem pensar.
"Não seja idiota. Além de ser uma dançarina de ballet do caralho, ainda fala muito com quem conhece bem." Ela revira os olhos. "E, Nina, é só um encontro com um garoto. Você não vai morrer."
"Eu vou fazer o quê? Comer e olhar para o teto enquanto ele fala sobre os planos para entrar em Yale ou Princeton? Ou a próxima viagem de verão à Tailândia?"
"Não seria tão ruim. Você prestaria atenção, ao menos." Ela diz.
"Margot!"
"Por que não negou, então?" Ela resmunga.
"Porque eu comecei a sentir meus ossos derreterem e um buraco se abrir em meu peito e minha garganta se fechar. Coisas normais do dia a dia."
"Então vá. O que você tem a perder?" Ela suspira.
"O resto de auto-estima e autoconfiança que ainda me restam." Ponho meus pés no painel.
"Bléh." Ela faz uma careta engraçada. "As vezes eu tenho vontade de te matar, sabia?" Ela sorri.
"E eu também."
"Cale a boca." Ela fica séria. "Festa da Natalie? É Natalie, Natália ou Natasha?" Ela franze o cenho, confusa.
"Natalie." Digo. "Festas? Última festa que fui, foi a de sete anos da Abby. E essas são aquelas dos filmes e livros."
"Wow, você sabe o que é um festa!" Ela ironiza.
"Sempre pensei que fosse um mito."
"Pior que não é. Há bebidas e jogos adolescente idiotas. Há bastantes caras babacas, muita gente transando, música alta. É bem legal. Eu gostava." Ela diz simplesmente.
"Eu não gosto de sair de casa, Margot."
"Por isso venero Adam por te tirar de lá. Se não fossem ordens da sua mãe, nunca te levaria para casa. Viajaríamos o país! Duas amigas e um par de meias coloridas viajantes."
"Quê?" Franzo o cenho.
"Você vai. Se quiser, te levo e busco. Tudo dará certo, pequena formiguinha negativa." Ela aperta minha mão. "Sempre dá."
"Pra você. Você é bonita e inteligente e olha esse corpo! Ah, e já foi líder de torcida!"
"Nunca devia ter te contado isso." Ela torce a boca. "Você é ainda mais bonita, mais inteligente, mais madura, e olha esse corpo!" Ela diz espontaneamente.
"Por que me obrigam a fazer algo que não quero?"
"Porque nem sempre temos maturidade o suficiente para enxergar o que é bom de verdade para nós. Pessoas como sua mãe, sabem o que é melhor para você. Por isso ela vao te obrigar a ir, mesmo que morrendo de medo."
"Ela não faria isso..." Semicerro os olhos.
"Quer mesmo pagar para ver?" Ela arqueia as sobrancelhas e para o carro em frente à nossa casa.
"Devia, mas você tem razão." Mordo o lábio. "Ficar em casa seria melhor. Tipo, o Adam teria de ficar de olho em mim, e não dar a maior atenção à Natalie, que já meio que não gosta de mim."
"Quem disse isso?" Margot arregala os olhos e desce do carro. Tiro minha bicicleta do banco de trás e a pouso na entrada.
"Só parece." Dou os ombros.
"Nina, você acha que todo mundo te odeia." Ela diz.
"Mentiras?"
"Sim!" Ela entra. Paro minha bicicleta e subo as escadas da entrada atrás de Margot. "Eu adoro você! Amo, queridinha. Mesmo chata, repetitiva e obsecada com a minha vida de Cheerleader." Ela passa o braço pelo meu ombro.
"Posso ver seus pompons?" Brinco.
"Não, sua pequena idiota. Agora, venha; vamos comer." Ela adentra à cozinha. Sento-me sobre o banco em frente ao balcão e jogo minha mochila sobre o mesmo. "Olha, eu tenho uma fantasia que usei em uma festa ano passado. Eu até fui com a sua mãe, antes dela começar a sair com o Cody." Ela põe sua bolsa perto da minha mochila.
"Não vou.' Resmungo e Margot solta uma alta gargalhada forçada que me dá nos nervos. Quão irritante ela é mesmo?
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O Silêncio Entre Nós
Любовные романыHISTÓRIA EM EDIÇÃO | LEIA A INTRODUÇÃO Após a morte do pai de Nina Davis, ela desenvolve uma fobia social que a impossibilita de se comunicar com as pessoas de maneira direta, além de uma depressão severa que a mantém à margem do mundo, sempre tranc...