S.L.A.V.E.

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Algum lugar no Oceano Atlântico, Base Militar da Nova Coligação, Abril de 2109, 20:00, Segunda-feira

Uma batida leve foi ouvida contra a grossa porta de metal em minha cela, acompanhada por um leve barulho e a pequena passagem na parte de baixo foi aberta, por onde passou uma bandeja de cor clara.

"Jantar ta na mesa" uma voz grossa soou do outro lado, e logo após a passagem se fechou.

Com um suspiro, fechei "A Divina Comédia" que estava lendo e levantei da cama confortável. Dentro da bandeja havia a porção ideal de nutrientes para um homem do meu tamanho, que me deixaria forte, no entanto não atrapalharia meu desempenho. Hoje, porém, a porção me parecia um pouco mais carregada, o que significava que gastaria uma quantidade maior de energia.

"Hoje vai ser um dia daqueles" murmurei triste, não aguento mais isso. Desde que a nova presidente tomou posse, minha vida se tornou um verdadeiro inferno. Por ser um dos mais renomados militares do país, acabei atraindo a atenção dessas pessoas que se demonstraram interessados pelos meus... serviços, e tentaram me convencer a trabalhar para eles. Ser um especialista em missões secretas, realizando tarefas discretas e importantes, basicamente ser um espião, é de grande utilidade para um governo que preza pela censura e alienação. Enquanto me alimentava uma sequência de memórias invadiu a cabeça.

[FLASHBACK]

[1 ano atrás]

Meus pés batiam nervosos contra o piso de madeira daquele prédio, estava ali há quase uma hora esperando a confirmação da demissão que havia requisitado. Ontem uma nova presidente tomou posse, do partido conservador e de ideais fascistas, e sabia que era uma questão de tempo até que as forças armadas tivessem novas missões para cumprir quaisquer que fossem os objetivos absurdos desse pessoal, e me recusava a fazer parte disso. Eu sou o melhor na minha área, nunca falhei, fui vencido ou pego, já havia sido homenageado algumas vezes pelos meus trabalhos, e eles se aproveitariam disso.

"Coronel Dante Fanticelli?" a voz da secretária soou, fazendo-me levantar e ajeitar a farda enquanto caminhava em direção ao balcão. "Seu pedido de demissão foi aceito, o senhor já pode ir" ela me estendeu um conjunto de documentos, que peguei com um agradecimento e fui embora, soltando um suspiro de alívio.

[2 meses depois]

"Pa-pa" o pequeno menininho de olhos azuis no meu colo balbuciava enquanto brincava com meu rosto e eu fingia morder sua mãozinha.

"Isso mesmo, eu sou o papai" falei com um sorriso bobo no rosto, ele estava crescendo tão rápido, logo já estaria andando pela casa.

"Você fica com uma cara tão fofinha quando está com ele" minha esposa falou entrando na cozinha e me dando um selinho antes de se sentar a mesa que preparei na nossa frente. Por estar desempregado, concordamos que eu seria o responsável pela maior parte das tarefas domésticas, já que ela trabalhava o dia todo, e fazia a sua parte nos fins de semana, de forma que ninguém ficava sobrecarregado.

"Ele é lindo, o que posso fazer?" falei rindo enquanto colocava o pequeno de volta em sua cadeirinha para comermos o café da manhã. Alguns minutos depois, três batidas firmes ecoaram pela casa. Olhei confuso para a mulher que esboçava a mesma expressão.

"Estamos esperando visitas?" franzi o cenho ao receber uma resposta negativa dela, me levantando e indo em direção a porta.

Mais batidas foram ouvidas e pelo olho mágico era possível ver quatro homens fardados, com roupas pretas e insígnias do exercito em suas vestes. Isso não era bom.

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