Carlos Belloni recebe uma notícia capaz de mudar sua vida. Médico italiano e professor em uma faculdade de medicina no Brasil, acaba sendo convocado pela máfia italiana a retornar a Módena por Santino Mantovani, herdeiro da máfia de Milão e um homem...
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No instante em que o trem de pouso tocou o chão, senti o impacto da aeronave chacoalhar meu corpo. Percebi o quanto fui infeliz por toda a minha vida. Por mais que eu perseguisse a felicidade, ela era como areia escorregando por entre meus dedos e se eu tentava segurá-la com mais força, escorregava mais.
Sair do Brasil de última hora me deixou ainda mais preocupado com tudo o que ficou para trás, a revelação de Miranda sobre uma herdeira bagunçou todos os meus planos. Uma herdeira... Tudo o que sempre desejei e nunca consegui em meu casamento fracassado com a Elizabeth. Mas agora era diferente: a máfia não podia descobrir do meu relacionamento fora do casamento e envolver minha filha estaria fora de questão.
Por mais que isso refletisse em me manter o mais distante possível, quanto menos eu me envolvesse com meu passado no Brasil, melhor seria para o futuro seguro de Surya, minha herdeira, e de Mira.
Suas palavras não saiam da minha cabeça: "Ela é sua filha! Está satisfeito? Mas você não tem o direito de contar a verdade para ela. Surya já tem seis anos Belloni e nem sabe da sua existência. Se você tem o mínimo de consideração por mim, respeite meu desejo". Aqueles olhos castanhos me fitaram com tanta tristeza que eu quase cheguei a me arrepender por ter me relacionado com ela, na época em que foi minha aluna no curso de medicina. Quase!
Caminhei pela pista de pouso do pequeno aeroporto de Módena na Itália segurando apenas uma mala de mão feita de couro preto. Não havia necessidade de viajar com muita coisa quando se estava voltando para sua segunda casa, apenas objetos pessoais, eram necessários. Avistei um carro de marca italiana e de valor alto, com vidros cromados e que provavelmente era alugado, esperando-me, e segui ao seu encontro. O carro parecia fechado. Vi meu rosto marcante pelo reflexo da janela: sou um homem de corpo bem definido, pele branca que contrasta com os cabelos castanhos escuros lisos curtos e penteados para cima com uma espécie de topete, meus olhos verdes se destacam especialmente pela sobrancelha bem grossa.
— Buongiorno. - Reconheci a voz divertida que desejava "bom dia" atrás de mim e virei. Santino segurava um gelato que chegava ao fim em uma de suas mãos e um sorriso no rosto de maçãs-do-rosto bem demarcadas e sobrancelhas grossas. Apesar de parecer um típico italiano do sul, com olhos e cabelos castanhos, pele bronzeada, Santino era do norte, mais precisamente de Milão. Mesmo que usasse roupas de marcas italianas e tivesse um porte elegante típico de mafioso, ele era diferente de qualquer um que já conheci na organização. — Quanto tempo!
— Buongiorno! - Cumprimentei-o com um abraço e dois beijos do rosto, algo que é muito comum entre amigos. — Espero que o motivo de seu chamado urgente seja algo muito justo. Estava cheio de assuntos pendentes no Brasil.
