00 - Prólogo

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Respiração.

Silêncio.

Silêncio.

Respiração.

Ela não sabia a cor das paredes a sua volta nem se elas existiam. Mas dado à sensação de estar sentada sobre algo, sabia que havia paredes. Ou apenas o chão. Isto é, se ela estivesse existindo.

Camila estava em posição fetal, agarrada as próprias pernas, com a cabeça enfiada entre elas, mantendo os olhos fechados, as pálpebras apertadas com medo de que suas pupilas agissem por conta própria. Ela não queria enxergar o que quer fosse.

Sentia os cabelos longos e castanhos grudados as suas costas e pelo frio que perpassava entre suas pernas teve curiosidade de saber o que vestia. Mas não tão grande assim para abrir os olhos.

"Passarinha?"

Tão macia quanto veludo, escutar, mesmo que de longe, mesmo como um eco, aquela voz tão familiar lhe atingiu como um tsunami. Por um segundo, ela quase abriu os olhos para procurá-la. Mas o medo, que lhe escapava a cada lufada de ar que dava, ainda estava ali, açoitando-lhe dentro de si mesma. Não abra os olhos, você está segura.

"Passarinha?"

A voz parecia estar mais perto agora. Era ela. Definitivamente. Será que se abrisse os olhos, só por um segundo, conseguiria vê-la?

"Vamos lá, passarinha...."

Estava ali, ao seu lado, ressonando em ambos ouvidos. Ela tinha certeza que a voz estava tão perto que podia ser palpável.

A garota levantou a mão direita, ainda com a cabeça enfiada entre as pernas levemente morenas. Tentou tocar, mas não havia nada ao seu lado. Levantou a mão esquerda e percebeu que não havia nada para ser apalpado ali também.

Não sabia se esperava duas mãos quentes e mornas ao teu lado porque de algum jeito sabia que elas não estavam lá. Mas sabia que havia algo ali para ser tocado. Algo que era seu.

Respirou fundo entre pernas, ainda de olhos fechados e direcionou ambas mãos para frente, agora fechadas em formas de punho. Respirou mais uma vez.

"Você sabe que consegue!"

A garota abriu as mãos lentamente. Primeiro as pontas dos dedos. Um a um. Tocando, lentamente, sentindo. A superfície era dura e a medida que ia arrastando os dedos percebeu que a mesma era perfeitamente lisa. Respirou. E com mais um segundo de coragem encostou as palmas das mãos inteiras de uma vez só. Era fria.

Fria demais.

Com o susto impulsionou os pés para frentes, fechou as mãos em forma de punho colocando sobre a barriga e sentindo sua bunda se arrastar pelo chão por dois segundos. Foi quando percebeu b que sem querer os seus olhos estavam abertos.

Quando olhou ao seu redor percebeu não havia nada. Não sabia se havia paredes, porque não conseguia enxergar esquinas quadradas. Aliás, ela não conseguir enxergar. E quando seus olhos se acostumaram com a claridade do lugar percebeu que estava no meio de uma névoa?

Se levantou e lentamente passou a mão pelo corpo. Primeiramente tocou os cabelos, passou o dedo sobre os lábios enquanto analisava as roupas que vestia. Esticou o short de malha preto que estava colado a suas coxas e puxou um pouco para baixo a blusa de alças finas, também preta, que adornava as suas curvas.

Aquele era seu uniforme das aulas de jazz?

Permitiu-se olhar para frente. Por um segundo, achou que não havia nada ali também até enxergá-la. Havia uma outra garota sentada no chão, agarrada as próprias pernas e de roupas pretas a poucos metros dela.

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