»PRÓLOGO«

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Antigamente...

Elisa é daquelas garotas perfeitinhas e esnobes, e por algum motivo não vai muito com a minha cara, sendo que eu nunca  fiz mal a ela, mas isso não me impede de gostar dela com outras intenções. Estudo no Colégio Alberto Gomes e advinha, ela também, hoje a gente tem horário integral infelizmente devido ao preparatório que fazemos em busca de uma boa nota no vestibular,, saio 17:40 da escola tirando o fato de morar nos confins de Duque de Caxias, Xerém, chego bem tarde em casa e por coincidência do destino Elisa também mora lá e as vezes eu dou a sorte de embarcar no mesmo ônibus que ela e ficar admirando a paisagem, doce ilusão um dia ela me notar.

-Alunos primeiro intervalo do dia, vocês tem 30 minutos...

Eu e Roberto meu amigo da escola de muitos anos decidimos ir a Casa das Empadas que fica em frente a escola, como estamos no último ano, a escola nos permite lanchar fora, e como não trouxe muito dinheiro vou comer empada mesmo.

-Bom dia Dona Odete.

-Bom dia Raul, como vai sua mãe?

-Ela vai bem, mandou um abraço pra senhora.

-Agradeça a ela por mim, vai querer o de sempre?

-Sim, o de sempre.

Venho tantas vezes aqui que ela já sabe o que eu como todas as terças quando estou no integral, uma empada de camarão com um Guaratobi. Dona Odete também conhece minha mãe de outros períodos, pois na minha época de pré adolescência eu era hiperativo e minha mãe vivia na escola assinando as diversas advertências que eu recebia por vários motivos.

-Como vai sua paixão pela garota esnobe da nossa turma? -Roberto me pergunta em tom sarcástico.

-Cara, você acha mesmo que eu gosto dela né? -Respondo grossamente tentando esconder meus sentimentos.

-A turma toda acha, não é só eu, não há motivos pra esconder.

-Esquece isso, e mesmo se eu gostasse dela, eu não lhe devo satisfação nenhuma. -Respondo encerrando o assunto.

Quando acabamos de comer, voltamos para sala e ficamos lá fingindo assistir aula vendo o tempo passar, e claro, eu fiquei vendo Elisa sentada no início da fileira que tem ao meu lado. Mais dois intervalos se passaram durante o período de aula e voltamos as duas vezes para comer empadas.

O sinal toca e a professora libera nossa turma, corro para o outro lado da estação de trem para pegar o Xerém das 18:00, porém mais uma vez ele atrasa, bendito seja. Não reclamei tanto pois quando ele passou Elisa embarcou nele comigo. Já eram 18:40 quando o ônibus entrou na BR 040 que é a rodovia que liga o Rio de Janeiro a Minas Gerais cortando minha cidade, rumo a Xerém e Elisa estava no primeiro banco depois do motorista. Eu sortudo como sempre sentei no banco onde o ar condicionado do ônibus pingava mais que idoso com incontinência urinária. Elisa mora um pouco antes do meu ponto então, logo que o ônibus entra no bairro ela desce do ônibus sem nem me dar um até logo sabendo que somos da mesma turma.

Chego em casa e sinto o cheiro das panquecas de frango que minha mãe sempre faz quando chego da escola, porque ela sabe que eu gosto muito, a gula me fez comer logo umas cinco provando que minha mãe é uma ótima cozinheira e que eu não tenho bons modos, e advinha, a noite passei mal, mas nada que um chá de boldo não resolva.

Subo pro quarto e estudo um pouco sobre as matérias do dia e caio no sono em cima dos livros rapidamente, até porque amanhã eu entro 19:00 na escola então 5:00 eu tenho que estar de pé pra pegar o primeiro ônibus pra Caxias que sai 5:30 lotado como de costume. O ônibus por milagre de Jesus saiu no horário entupido até o gargalo com umas mulheres catinguentas, não é possível que esse povo daqui não lave nem a xuruquita de manhã, não é Páscoa mas o cheiro de bacalhau tomou conta do ônibus. Chego em Caxias 18:40 sem ar devido ao odor de gambá que fiquei inalando no ônibus, mas prefiro não comentar. Na sala Elisa já está lá e por mais uma ajuda do divino, o primeiro professor que daria aula de física faltou, então subimos pro pátio pois ficamos com o horário vago. Fiquei no pátio conversando com Roberto até sete e cinquenta quando a inspetora chamou nossa turma pra descer pra sala porque o professor de história já havia chegado. Hoje não comprarei empada porque saio meio dia. Por mais uma ajuda do divino ao sair da escola e embarcar no ônibus me vejo como única opção de lugar sentar ao lado de minha amada, Elisa. Tento puxar assunto, mas o humor dela consegue cortar todo o assunto que eu poderia ter puxado.

-Dia bonito hoje né Elena?

-É. -Ela responde seca e fria.

Realmente o dia estava bonito, com o céu em tom avermelhado e temperatura agradável dentro e fora do ônibus. Quando chegamos próximo ao arco metropolitano, a uns dez minutos do meu bairro, olhei para o céu novamente e vi que ele estava mais vermelho que da última vez que havia olhado, uns minutos se passaram e eu acabei ficando preso em um engarrafamento infernal na BR. De repente começo a ouvir uns gritos e penso ser no motel da rodovia, mas para a minha surpresa eram as pessoas correndo no sentido contrário da via em tom de desespero, aí eu já achei que era arrastão, porém mais uma vez para a minha surpresa estava enganado denovo, o que causava toda aquela correria era uma espécie de cachorro grande que estava correndo atrás das pessoas com sede por sangue, causando aquele auê, mais não era um cachorro normal, ele tinha um aspecto asqueroso, cara deformada, algumas costelas expostas, sua baba era esverdeada e seus dentes afiados e expostos. Desesperados os passageiros começaram a quebrar as saídas de emergência do ônibus e a pular para a pista correndo no sentido contrário descendo a BR para salvar suas vidas. Elisa foi no embalo da multidão e sumiu rapidamente. O motorista havia abandonado o ônibus perto de uma feira de roupa que tinha na BR e logo pensei em me esconder lá. Depois de uma corrida de meia hora por um quilômetro sentido Caxias chego a feira e ela está deserta com apenas algumas pessoas correndo ainda desesperadas. Corro pro banheiro masculino e fico lá por horas. Não penso em nada além de minha mãe e Elisa, mas ainda assim espero o tumulto passar contando com a esperança de ambas estarem vivas. O som do tumulto aumenta e percebo que estão perto, fico em silêncio absoluto até que tudo passe. Penso em silêncio como um cachorro deformado consegue fazer tanto estrago a tanta gente, isso é inacreditável. Ótimo momento pra desejar que tudo seja um sonho. Me vejo preso em um shopping de roupas onde do lado externo tudo está se desmoronando no caos. Paranóias sobre minha mãe e Elisa estarem bem ou não caem sobre minha mente e eu acabo adormecendo no banheiro mesmo.

Cronor - A invasãoOnde histórias criam vida. Descubra agora