Freedom

3.6K 563 2.4K
                                    


Leiam as notas finais. Não deixem de comentar e de votar, por favor.


Encarava-se no espelho alto que cobria completamente uma das paredes de seu quarto. A cama grande ao fundo, as cortinas bem passadas, o tapete caro no chão, as luminárias finas, a pequena mesa ao canto.

Um grande e significativo vazio dentro de si.

A calça jeans preta justa e sem detalhes lhe deixava com um ar adulto. A camisa social cinza, abotoada até o pescoço, deixava-o sério demais, padronizado demais. O relógio caro enfeitava seu pulso e marcava cada segundo como um baque surdo ritmado com as batidas de seu coração – quase como se o próprio relógio fosse seu coração, lento, sem vida, movido por engrenagens, por pilhas externas, por uma química fajuta.

A única coisa que reconhecia como sendo verdadeiramente sua eram aqueles olhos.

Os olhos de lince, puxados, bem delineados, marcados pela intensidade de seu fluxo de pensamentos. Encarava seus próprios olhos no espelho e sentia uma pequena pontada de esperança dentro de si, uma vontade de mudar, um desejo de se desprender daquela realidade forçada e ser quem realmente era.

Sem rótulos. Sem uma casca frágil e mesquinha ao seu redor.

- Jimin, querido. – a voz fria de uma mulher fez-se presente no quarto, atravessando a pequena fresta na porta que conectava uma mãe a seu filho. Para Jimin, a conexão entre eles era muito menor do que uma simples fresta na porta.

- Hm. – a voz desinteressada de Jimin saiu quase num som inaudível.

- Esteja no hall de entrada em 10 minutos. – a mulher disse, fechando rapidamente a porta.

Esteja no hall de entrada, Jimin, querido. Vista aquelas roupas caras que compramos hoje para você. Coloque o relógio que compramos na Itália. Sorria de modo contido. Faça uma reverência pomposa. Mantenha a postura. Diga somente o necessário. Finja prestar atenção no que as pessoas dizem. Controle suas ações. Seja simplista. Busque dinheiro, Jimin, querido. Relação pessoal nenhuma deve ser fundamentada em algo não monetário.

Cada uma dessas frases atingia Jimin como tapas ardidos e a vontade que ele tinha era de socar o espelho à sua frente apenas para evitar encarar aquela imagem.

Imagem forçada, criada, manipulada, moldada. Imagem que o prendia dentro de si e o impedia de viver livre.

Não ande com mal vestidos. Case-se com uma mulher rica e obediente. Mantenha sua empresa. Administre sua herança. Tenha filhos e crie-os para que continuem sendo aquilo que você é, Jimin, querido.

Jimin preferia morrer sem herdeiros a deixar que qualquer criatura no mundo se parecesse com sua versão atual.

Saiu do quarto a contragosto, mas com uma expressão impassível em seu rosto perfeito. Sua pele era frágil, limpa, alva, delicada como porcelana e que mais parecia uma fina seda a cobrir-lhe o corpo.

De nada adiantava ser belo se não era feliz.

Desceu as escadas observando a correria dos empregados no andar de baixo. Bandejas prateadas, louças finas e uniformes corriam de um lado para o outro sob os pesados lustres, a fim de organizar tudo antes que os convidados da noite chegassem. Não seriam muitos convidados, talvez apenas três ou quatro, mas era como sua mãe sempre lhe dizia: "A situação é importante se a pessoa à sua frente também é importante".

Sabia que com "importante", sua mãe fazia referência a poder e dinheiro. Dentro de sua cabeça, porém, "importante" possuía uma ligação emocional maior do que a material.

Freedom • jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora