NEVER BE ALONE

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Primeiro foi o abajur, depois foi o vaso de flores, depois eu despedacei em pedacinhos o urso de pelúcia que ele havia me dado em nosso primeiro encontro. O quão clichê isso soa? Meu quarto já estava um caos, tudo que eu havia quebrado em mil pedacinhos, meus pais não se pronunciavam do andar de baixo, talvez estivesse esperando essa fúria desde ontem quando eu recebi a notícia de que guerras não só matam pessoas como destroem e arrancam corações. Ele havia se alistado, lembro dele me dizendo que não podia ficar em casa enquanto outras pessoas lutavam por ele, eu tentei dizer que isso era uma tremenda bobagem e que ele não podia simplesmente ir e me deixar aqui sozinha, ele me prometeu voltar mas ele sabia que essa não era uma promessa que ele podia fazer. Eu o amava, o amava desde que aqueles olhos azuis me viram, eu não queria o perder, eu não queria ficar aqui esperando um carta pra saber se ele estava bem, só de pensar na angústia eu começava a soluçar de novo.

Não sei quanto tempo chorei, mas sabia que havia chegado a hora de dizer Adeus quando minha mãe entrou no meu quarto, ela me encarou com olhos solidários, e um sorriso amistoso, acho que ela entendia e respeitava a minha tristeza profunda, eu andei devagar até a penteadeira, eu já havia colocado o vestido florido, ele dizia que eu ficava linda nele. Encarei o meu reflexo, não estava nada bom, meu rosto estava inchado, minha boca trêmula e os olhos vermelhos, acho que esse era o resultado de uma noite inteira chorando. Suspirei e não quis esconder meu sofrimento, eu queria que ele visse a consequência de suas escolhas, eu apenas limpei as lágrimas insistentes prendi meu cabelo em um rabo de cavalo e coloquei uma fita em um laço. Minha mãe colocou uma mão no meu ombro e sorriu.

-Ele já está aqui embaixo, querida. -Eu suspirei, forte e pesadamente, eu segurava meu choro no meio da garganta. Me levantei devagar e caminhei firme apesar de tudo. Quando cheguei ao andar de baixo, lá estava ele, com o uniforme de um soldado, mas ainda sim os mesmo olhos azuis. Ele estava sentado no grande sofá ao lado do meu pai, meu pai apertava seu ombro enquanto ele me encarava fixamente, meu primeiro instinto foi sorri, algo dentro do meu coração se desfez, sei que estava com raiva e magoada mas eu via algo em seus olhos que eu nunca tinha visto antes, medo. Eu queria que ele se sentisse confiante, pois assim ainda me restava um resquício de esperança. Dylan se levantou e caminhou até mim, ele me abraçou, firme e decidido, no começo eu fiquei ali parada sem expressar reação alguma, minha mãos ao lado do corpo, mas novamente algo se desmontou no meu coração, eu o amava, retribui o abraço com toda força que eu possuía.

A viagem até a estação foi feita em silêncio, sua mãe disse que não aguentaria se despedir na estação então eu me propus a trazer ele, meu pai parou em frente a estação e lançou um olhar solidário a Dylan. Dylan era o filho do melhor amigo do meu pai, quando ele morreu a mãe e ele voltou a cidade e desde então meu pai tem cuidado de Dylan como um filho, todo mundo devia estar magoado com a sua partida, eu tentava imaginar a dor dela, seu único filho indo pra guerra, mas eu não conseguia nem imaginar um por cento da sua dor. Me sentia extremamente egoísta quando pensava nisso, eu havia quebrado meu quarto inteiro e eu só o conhecia a 2 anos, a mãe o conhecia a vida inteira.

-Vai com Deus filho. Não esqueça de dar notícias. -Meu pai disse a Dylan. Ele sorriu para o meu pai e apertou sua mão antes de sair do carro, eu saí logo atrás. Meu pai me lançou um olhar que eu sabia bem o que significava "Seja compreensível", eu literalmente não estava sendo nem um pouco.

Caminhamos de mãos dadas até a plataforma, ela estava lotada, de famílias, soldados, moças, pessoas de todos os tipos, a maioria se encontrava chorando, a guerra tinha devastado tudo e eu era tão mesquinha que não havia percebido. Até agora. Quando ele parou na porta de um trem, ele se virou pra mim, encarou o relógio, eu também fiz, faltavam menos de 10 minutos para o trem partir, eu não queria me despedir, eu não queria chorar de novo, mas foi inevitável assim que seus braços passaram ao redor do meu corpo, eu chorei, como uma criança, encaixei meu rosto em seus pescoço e me permiti sentir seu perfume, eu queria guarda-lo na minha memória. Sua mão descia e subia em minhas costas em uma forma de conforto, não estava adiantando muito mas mesmo assim eu gostava.

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⏰ Last updated: Dec 30, 2017 ⏰

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UMA MÚSICA / UMA HISTÓRIAWhere stories live. Discover now