Carta para um filho

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Querido filho,

Se estiver lendo esta carta, é por que você nasceu e hoje pode compreender todas as palavras que aqui estão. Queria deixar para você um pouco da minha história até este momento para que saiba o quanto você é importante para mim, apesar de qualquer situação onde eu possa ter me zangado e passado a imagem justamente do contrário.

Mesmo quando eu ainda não conhecia a pessoa que o colocou em meu ventre, eu já desejava seu nascimento. Acho que independente de quem fosse essa pessoa, a alma que estaria abrigada no bebê seria a sua.

Eu ficava imaginando como seria poder pegar você no colo e sentir se estava com calor ou com frio. Poder lhe dar banho e lhe alimentar eram parte das imagens que me faziam rir muito sozinha para, depois, ter que disfarçar rapidamente quando alguém se aproximava. Ainda sem saber quem seria seu pai, eu já me imaginava passando você para um homem sem rosto e dizendo "vai lá com seu pai", mas ainda permanecendo perto um tempo só para ficar vendo a cena.

Porém, não pense que eu só idealizava as coisas boas. Eu sempre soube que, ter um filho, implica em grandes responsabilidades e provações, se é que posso usar essa última palavra. Sempre soube que filhos nos privam de horas de sono, não importa se são bebês, crianças ou adultos; que podem se machucar e nos deixar preocupados e que podem se deparar com inúmeros perigos aí fora dos quais só poderão se proteger quando os conhecerem bem de perto, infelizmente.

E conhecendo um pouco desses perigos, alguns só da TV ou internet, outros por tê-los vivenciado, é que posso chegar até você e dizer "o que você está fazendo NÃO é legal... não é legal para si mesmo". Eu sei que cada um nesse mundo tem seu livre-arbítrio, mas se um dia eu ver que está se prejudicando, acha mesmo que ficarei em silêncio?

Criamos filhos para o mundo? Tudo bem... Sim, nós criamos. Mas não creio que todos os sintomas que uma grávida sente existam apenas pelo fator fisiológico. Penso neles como um rito de ligação feito entre a mãe e o bebê. Durante nove meses a mulher suporta tudo para proteger seu filho e, não é por que ele saiu de dentro dela que tudo vai acabar.

Se estiver lendo esta carta, além de ser por que você nasceu, será por que estarei sentada a sua frente tentando mostrar a você que sinto novamente minhas dores e que preciso fazer minha parte para protegê-lo. Se eu não o fizer, quem o fará?

Olhe para mim por alguns instantes antes de continuar a ler...

Antes você estava na minha barriga e não podia ver, mas agora pode? Pode ver o quanto penso em você?

Só deixarei de pensar em você se, um dia, me disserem que nunca poderei ter um filho. Contudo, só deixarei de pensar na presença física, pois na alma sempre seremos mãe e filho e que, se você não vier a nascer, que vai fazer aí do mundo em que está o que quero fazer por você aqui.

Abraços com grande amor,

Mãe

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