are u sure?

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Somin sempre foi apaixonada por Matthew Kim, ela tinha certeza que sim. Conheceu-o em seus anos de ensino médio na Carolina do Norte e foi com ele que iniciou sua história de amor alá Nicholas Sparks.

A Jeon acreditava que ele fosse o amor da sua vida, talvez por isso estivesse ali, na entrada daquela pequena igreja da região litorânea, prestes a se casar. Queria acreditar nos sentimentos que sua cabeça dizia que devia ter, queria não sentir um bolo em sua garganta que provavelmente a impediria de dizer sim na hora H.

Isso tudo porque, mesmo que Nicholas Sparks não fosse um escritor do tipo que gostasse de criar triângulos amorosos, Somin conseguiu fazer o seu próprio. E Jiwoo Jeon era a culpada. Aquela que conhecia desde que se entendia por gente, com quem viveu seus melhores momentos e os piores também. Aquela com quem teve brigas terríveis e com quem se reconciliou comendo sorvete e assistindo um anime qualquer na tevê de sua sala. Aquela que era sua melhor amiga, afinal de contas.

Aquela que estava ali, encostada no pilar da igreja, encarando Somin de braços cruzados. Desafiando-a. Intimidando-a.

— Você tem certeza? — ela perguntou.

A loira não vestia roupa de gala. Sua pele bronzeada pelas horas que passava na praia, surfando, estava realçada pelo alaranjado do entardecer. Seu corpo estava coberto por roupas simples, basicamente uma regata branca e os jeans rasgados. Nos pés, um AllStar surrado. Nos olhos, um brilho diferenciado... Raiva talvez?

Somin sabia o porquê de tudo aquilo. Há dois meses, mais ou menos, um pouco antes de Matthew lhe pedir em casamento, Jiwoo havia confessado alguns sentimentos por si. O que realmente lhe pegou de surpresa, não esperava por algo daquela magnitude. De fato, tinha um relacionamento forte com a mais nova, mas nunca se deixou levar por tal coisa. Mesmo que já tivesse beijado a loira, até mesmo transado com ela, ainda a via simplesmente como uma amiga muito íntima.

Apesar de tudo parecer muito bem resolvido na cabeça de Somin, ela não conseguiu responder se tinha certeza sobre entrar na igreja. Estava sozinha ali fora com a amiga, seu noivo a aguardando ansiosamente dentro do templo sagrado e ela realmente não sabia o que fazer.

Jiwoo não ajudava. Com aquele olhar penetrante sobre si, parecia colocar em cheque todo o relacionamento de Somin com Matthew.

— Eu sei o que você está pensando — Somin disse, trêmula; não tinha firmeza na voz. — Ele já me traiu, já foi displicente comigo, já tivemos fases horríveis... Mas nos amamos.

Eu te amo — Jiwoo ressaltou, aproximando-se da amiga. — Eu. Matthew talvez goste de você, talvez já tenha sido apaixonado por você, mas agora não resta muita coisa. Esse fogo de paixão que ainda pode existir vai acabar logo. Quer dizer, ele já traiu você quando supostamente morria de amores por ti. Você o traiu. Com aquele cara, o Taehyung. Comigo. Acha que isso vai chegar em algum lugar?

Somin recuou com a verdade jogada sobre si. Sofrera tanto naquele período, com Matthew distante de si e a descoberta de uma amante fixa dele, que Jiwoo fora seu precioso escape. Ficava mais com ela do que com qualquer outra pessoa e se pegou tão frágil que nutriu uma breve paixão carnal com a garota durante algumas semanas, que acabaram tão logo ela começou a se envolver com um turista chamado Taehyung. Mas aqueles dias eram memórias ainda vívidas na cabeça de ambas, imagens que não podiam ser apagadas.

— Ma-Mas foi um momento de fragilidade, Ji-Jiwoo — Somin tentou se justificar, corando. — E-Eu não devia... Você não de-devia ter se aproveitado disso.

— Você também não devia ter se aproveitado de mim. — Os olhos da loira se encheram de água. — Porque sim, você me usou pra afogar as suas mágoas, como sempre fez!

Somin engoliu em seco, lutando contra o próprio choro.

— E ainda sim você me quer? Acha que uma relação amorosa entre a gente vai ser mais saudável do que o meu casamento com o Matthew?

— Vai ter mais amor, ao menos — Jiwoo murmurou; uma lágrima escorrendo por sua bochecha. Tinha certeza que a morena seria muito mais feliz consigo e tinha certeza que encontraria a própria felicidade. No entanto, por mais que doesse, tinha que levar em consideração os desejos da amiga antes de tudo, não se via forçando-a a nada. Por isso, respirou fundo e disse: — Mas se mesmo assim você ainda quiser casar com ele, tudo bem. Só quero que você tenha certeza disso. Porque você, mais do que ninguém, sabe o que é uma família infeliz. Você viu a ruína dos teus pais, e eu sei tudo pelo o que você passou por causa do casamento errado deles. Então, por favor, me responde. — Jiwoo agarrou os braços de Somin, envoltos do suave tecido do vestido de noiva. — Você tem certeza?

Somin não conseguiu mais segurar seu choro, que veio do fundo de seu peito oprimido. Ela tampou a boca com a mão para reprimir seus barulhos agoniados e abaixou a cabeça por pura vergonha, enquanto seus ombros mexiam freneticamente. Jiwoo, vendo o estado da amiga, a trouxe para mais perto e a acolheu, ignorando suas próprias lágrimas. A loira acariciou as costas da morena, porque apesar de saber que ela relaxava com um afago nos cabelos, os fios estavam perfeitamente alinhados em um penteado bem feito que Jiwoo não quis estragar ainda.

— Shiu, você vai borrar sua maquiagem desse jeito — a Jeon mais nova obrigou-se a falar, mesmo que não desse a mínima para a maquiagem da amiga. Queria mais era que tudo fosse para o inferno mesmo.

Somin, por sua vez, queria não estar naquela situação. Estava tão sem chão que chegava a ficar tonta, e os seus instintos mais profundos a mandavam escapar para bem longe.

Porque era exatamente essa a resposta.

No meio de toda a confusão de sentimentos, Somin se deu conta de que talvez fosse aquilo a solução para tudo; para toda a comodidade em que estava naquele relacionamento com Matthew, para a sensação de vazio que sentia quase o tempo inteiro e para rumo sem sentido que sua vida estava tomando. Escapar. Fugir de tudo.

E, desde que Somin podia se lembrar, quem sempre a ajudava com as fugas era Jiwoo Jeon. Sua parceira de crime, o provável verdadeiro amor da sua vida antes até de si mesma.

Pensar sobre isso fez a morena, ainda com os olhos embaçados pelas lágrimas, procurar os lábios da mais nova que lhe abraçava. Beijou-a, então. Da forma mais desesperada possível, não se importando se ia amassar seu vestido branco ou se estava na porta de uma igreja. Beijou e foi beijada.

Com ânsia, ternura, paixão, as garotas trocaram o carinho com os lábios. Sentiram os corações acelerando e as mãos suando e o corpo se arrepiando.

— Não casa — Jiwoo disse, quando se afastaram, encostando a testa na de Somin. Elas estavam ofegantes. — Por favor, não faz isso com a gente.

— Eu não vou — a Jeon morena respondeu, de olhos fechados. Sabia que não teria volta se saísse dali, sabia que Matthew lhe odiaria para sempre, mas tudo o que pode fazer em relação a isso foi sorrir.

Jiwoo se surpreendeu com a resposta. Afastou-se minimamente da amiga para olhar bem para o rosto dela, a fim de ver a verdade ali. A isso, Somin abriu os olhos e continuou sorrindo, tendo certeza de algo pela primeira vez em muito tempo.

Dando-se conta disso, Jiwoo quis gritar de alegria. Tomou a mão da amiga, apreciando o quanto elas se encaixavam bem e simplesmente a puxou para longe daquela igreja, para longe de toda e qualquer consequência que aquele ato podia causar. Juntas, elas fugiram.

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eu já estava querendo escrever uma sowoo há dias, espero que tenha ficado no mínimo apresentável.
é isso.

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