O clarão perdurou por alguns momentos, então enfraqueceu. A Turma do Video Game tinha os ouvidos zunindo, e abriu os olhos para enxergar o ser que surgia no centro da roda dos apóstolos.
Tinha cerca de dois metros de altura e era esguio como uma pantera. O corpo todo era coberto por espessos espinhos azuis, exceto pelo pálido abdome e a cara. Eram curtos na frente, porém nas costas alcançavam meio metro de comprimento. As poucas falhas em sua pelagem exibiam cicatrizes de cortes, perfurações e queimaduras. Os punhos da fera eram ocultos por manoplas de um tecido branco sujo e rasgado, de cujas extremidades, através de orifícios, saíam dedos ossudos. Na barriga pálida, viam-se veias formando tortuosos caminhos, pulsando sem parar. O focinho não trazia um sorriso simpático, mas uma enorme fenda repleta de grandes dentes afiados, por entre os quais escorria uma saliva densa como óleo. Acima, duas gigantescas esferas negras se moviam para os lados, curiosas, exibindo os cantos avermelhados feito sangue. Apesar de não ter se movido um centímetro, a criatura espalhou um cheiro de enxofre pelo salão inteiro. Os apóstolos se prostraram imediatamente.
Guilherme ergueu os braços para a besta. — Sonic! Senhor de nossa vida, de nossa paz e de nossa velocidade do som! De joelhos, vosso rebanho reconhece vossa cerúlea majestade! Louvada seja vossa vontade, que atendeu a nossas preces!
As orelhas de Sonic balançaram rapidamente. Ele se remexeu, sentindo o próprio corpo. Olhou para as mãos e grunhiu, virando-se para Guilherme em seguida. — Quem vocês? Onde aqui? — perguntou com sua profunda voz.
— Sonic! Estes que se aqui curvam são vossos apóstolos! Somos aqueles que anunciaram vossa presença e lutaram para trazer-vos até aqui! Estamos iniciando uma guerra santa que trará vossa vitória sobre este mundo e significará o fim de todas as injúrias que este planeja já cometeu contra vossa majestade! Invocamo-vos para que guieis vosso rebanho em direção à Zona das Verdejantes Colinas da Salvação Eterna!
— Por que Sonic monstruoso? — questionou a criatura.
— Concessões precisaram ser feitas, ó lorde dos anéis! Para invocarmos vossa presença com os recursos dos quais dispúnhamos, precisamos dar-vos uma forma imperfeita temporária.
Sonic apertou os olhos, baixou o rosto até o de Guilherme e balançou o indicador na direção dele. — Isso nada maneiro.
— Mas não há motivos para temer, lorde Sonic, pois, na velocidade do som, sois um vencedor! Vossa forma será recobrada no instante em que banhar-vos no sangue de vossos inimigos! Basta derrubá-los sob vossos pés para que o corpo com o qual esta realidade vos aprisiona se desfaça e dê lugar a vossa verdadeira e gloriosa forma. Alguns poucos infiéis derrotados já bastarão. Nesta sala, a propósito, há mais do que o necessário!
Sonic olhou em volta. — Cadê?
— Estão escondidos atrás destes pilares! — disse Guilherme, com a mão estendida para a escuridão. Rapidamente, os apóstolos se levantaram do chão e se reuniram atrás de Sonic para abrir caminho. — Agora, ide, meu lorde! Reivindicai o que é vosso por direito cósmico! Limpai este salão daqueles que vos caluniam!
Sonic desceu do altar calmamente. Seus pés carregavam pesadas botas que iam quase até o joelho, claras e gastas, embora tomadas por manchas vermelhas. Os apóstolos observavam em êxtase. Não havia um que não tivesse o rosto úmido por suor e lágrimas. Nenhum. Se entreolharam e deram as mãos, todos eles, para testemunhar a presença de seu deus em comunhão.
Conforme Sonic se aproximava do escuro, curvado como uma fera primitiva, ele farejava os arredores. No instante em que enxergou algo se mover nas sombras, parou. Imediatamente, recuou uma das pernas e se impulsionou. Sua cor azul riscou o ar até o pilar, onde ricocheteou para retornar a onde estava num piscar de olhos. O grande corpo de pedra quebrou ao meio e desabou, cuspindo pedaços e pó para todos os lados. Sonic chegou mais perto, mas a Turma do Video Game não estava mais lá.
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A Turma do Video Game em O Mistério do Prato Fundo
Mystery / ThrillerEm busca de resposta para o desaparecimento de seus pratos fundos, a Turma do Video Game desvenda horrores inimagináveis. Uma paródia da Coleção Vaga-Lume escrita para fazer os fãs do Jogabilidade darem uma risada ou duas.