Capítulo 22 01-09/07/2011 Um filho.

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01/07/2011
Vicente corrigia concentrado todos os trabalhos que foram realizados por seus alunos. Já havia passado de oito da noite e nem sua mãe e nem sua irmã estavam em casa, deviam estar no salão, e seu sobrinho, Tiago, também não estava em casa, ou seja, Vicente estava sozinho.
Ana Mel e ele haviam se visto algumas vezes depois de seu retorno da casa de seu pai e da companhia de Cléo, mas ele sentia que havia algo de diferente nela, alguma coisa que ela estava omitindo dele. Por mais que questionasse, a menina apenas sorria, e negava veemente que nada estava acontecendo, e assim ele prosseguia sua vida, ansioso por uma nova oportunidade de ir ver Cléo e ficar com ela. Vicente havia prometido soltá-la para que qualquer prova que seu sobrinho entregasse contra ele fosse desvalidada, mas como estava percebendo que tudo corria normalmente, ele foi adiando e adiando. Todavia, tinha a noção de que poderia ser surpreendido a qualquer momento, mas guardava qualquer ansiedade em relação à isso para si mesmo.
Uma nova hipotese para o sumiço de Cléo foi levantada pela polícia nesse período da ausência de Vicente, a de que a menina pode ter sido usada no tráfico humano de pessoas para países estrangeiros. Rosana quem contou ao filho que a polícia havia ido até a casa de Mônica lhe revelar essa hipótese, o que fez a mulher chorar durante dias seguidos, sem pausa. O homem se divertia ouvindo essas ideias mirabolantes e se divertia ainda mais com a incompetência da polícia de solucionar esse mistério, o que era irônico, afinal, se solucionasse seria ele quem iria sair perdendo, mas estava tudo tranquilo até ali.
– Ai meu pé tá me matando! - Disse Rosana, abrindo a porta da sala depressa para se jogar no sofá e retirar seus sapatos.
– Trabalhou muito, mãe? - Perguntou Vicente, ainda com os olhos focados nos papéis.
– Oxi, pra caramba! Uma moça ia se casar hoje e mandou todas as mulheres da festa dela pra lá, aí já viu né. - Rosana encarou o filho, e sorriu, orgulhosa de vê-lo ali, trabalhando em silêncio. Era suspeita para falar, mas achava Vicente lindo quando se concentrava.
– Eu preparei a janta, então não precisa se preocupar em fazer comida. - A mulher deu um sorriso ainda maior e caminhou até seu filho, lhe dando um beijo no topo da cabeça.
– Eu te amo muito, meu filho. - Vicente levantou a cabeça para olhar a mulher de meia idade, com algumas marcas de expressão e devolveu o sorriso. - Também te amo, mãe.
De repente, os dois ouviram a porta abrindo novamente e detrás dela saiu Tiago. Quando tio e sobrinho trocaram olhares, uma sensação extrema de acidez inundou a sala, a ponto de Rosana questionar se ambos haviam brigado ou coisa do tipo.
– Eu só tô cansado, vó. - Tiago passou pela mais velha e por seu tio e subiu depressa as escadas, indo para seu quarto.
– Eu queria tanto que vocês fossem amigos. Nada me entristesse mais do que essa indiferença de vocês dois e de você com a Vitória.
– Talvez você entenda porque isso acontece, mãe. - Vicente ficou de pé e recolheu as folhas que estavam sobre a mesa da sala, subindo as escadas para ir até seu quarto. No caminho, viu que a porta do quarto de Tiago estava aberta, e entrou.
– Podemos conversar? - Perguntou Vicente, adentrando no quarto. Tiago, que estava mexendo no computador, retirou os olhos da tela para poder encarar seu tio.
– Depende do conteúdo da conversa. - O adolescente levantou da cadeira giratória e fechou a porta que estava atrás de Vicente. - Eu ainda não te denunciei Vicente, mas não significa que eu não vá fazer isso qualquer hora. - Ameaçou Tiago, ficando frente a frente com seu tio.
– Não é sobre isso que eu vim conversar com você. - Vicente sentou na cama que era de sua irmã e colocou os trabalhos de seus alunos ao seu lado. - É sobre seu avô. Não sei se isso te interessa, mas ele está doente. - Vicente esfregou as mãos e lambeu os lábios antes de prosseguir sua fala - Eu fiquei com ele todo esse tempo, e sei que ele não está bem, mas eu não vou poder ficar com ele, afinal, meu trabalho não permite que eu vá ficar com ele, assim como o trabalho da sua mãe não permite que ela vá ficar com ele. - Tiago franziu uma sobrancelha, esperando onde finalmente Vicente queria chegar. - A única pessoa que está disponível pra isso é você, Tiago. Eu sei que você e eu não somos amigos, e que na verdade você quer mais que eu vá para o inferno, mas eu preciso desse seu favor. Não faça por mim, faça pelo seu avô.
Tiago sentou em sua respectiva cama e respirou fundo. Sabia que seu avô João estava enfrentando problemas de depressão e que este já havia tentado se matar até. Queria negar, dizer para Vicente que não tinha nada a ver com isso, e que ele que se virasse, mas era alguém da sua família que não era culpado do mau-caratismo de seu tio.
– Foi minha avó quem pediu pra você me falar isso?
– Não. Eu só tô pedindo isso pra você porque não posso ficar com ele e tenho medo do que ele pode fazer, sabe? Eu sei que você tem sua vida aqui e tudo mais, mas acho que alguns meses que você ficar com ele lá não farão grandes estragos na sua vida. Pensa e me responde amanhã. - Vicente ficou de pé e recolheu as folhas que estavam sobre a cama de sua irmã, saindo do quarto em seguida. Era óbvio que não estava querendo que Tiago fosse para lá especificamente para ter alguém que cuidasse de seu pai, ele só queria manter a pista limpa.

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