As tentativas de ser feliz foram frustadas, aquele coração que antes batia em sintônia perfeita, hoje bate por bater. Era como se os dias não houvesse o sol e à noite a lua não clareava o amor dos apaixonados.
Trancou-se para sempre, na esperança de não sofrer, se iludir, e se machucar de novo. Tornou-se ateu, já não acreditava na capacidade de amar, confiar, não existia felicidade alí.
Era completamente mecânico, apenas respondia a impulsos. Tinha prazeres momentâneos, mas quando tudo acabava, eis que o surrado coração recolia-se, quase que juntando seus pedaços pelo chão e voltava à solidão.
Não confiava mais, não existia no mundo alguém que merecesse sua confiança novamente. A ordem era clara, todos os sentidos fariam o mesmo.
Em pouco tempo o tato já não sentia o calor das pessoas, era como passar o corpo sobre o gelo. Os olhos não enxergavam mais a beleza interior, estava condicionado a vê apenas a beleza superficial das pessoas. O olfato e paladar já não sentiam odores e sabores. A mente era a unica que ainda lutava para não ser mecânico como o resto do corpo, tentava a todo custo mandar esperança ao coração, que apesar de cambalear, mantia-se firme em sua decisão.
Uma certa manhã, alguém entrou inesperadamente no jogo. A mente esperta e sagaz arrumou logo um jeito para derrubar de uma vez por todas as ideias daquele coração mecânico. Aquela flor amarela poderia ser o que o coração precisava para voltar a acreditar que ainda existe amor.
Começou a mente seu minucioso plano para quebrar o coração. Usava tudo que se lembrava: músicas, poesia e momentos bons o qual viveu.
O coração sentia tudo que a mente lhe mandava, tentava a todo custo resistir, porém estava perdendo o controle, não só de si mesmo, mas também dos outros sentidos.
Aos poucos o sangue começou a fluir, o cinza do ferro, manivelas e parafusos começavam a perder lugar. Quanto mais a mente conhecia a flor amarela, mais o coração amolecia e em pouco tempo libertou o tato, o olfato e o paladar do seu domínio, os permitindo provar novamente o doce sabor da vida, por fim rendeu-se.
O coração estava vivo outra vez, era novamente de carne, o sangue fluía, estava loucamente apaixonado. Sentia medo, não podia negar, mas a mente sempre esperta mandava para ele boas doses de ânimo e confiança.
Quando sentia o cheiro de sua flor amarela, era envolvido por todo aquele amor, ficava sereno e todo o corpo respondia.
O coração hoje bate como antes, tem novamente harmonia com os outros sentidos e sempre escutava a mente. Apaixonado, não pode mais viver sem sua flor amarela, a plantou em um lugar especial protegida do vento forte, do sol escaldante e de pragas. Por mais que corações sujos e mentes perversas tentem lhe enganar, para aquele ex coração ateu, todo seu amor, todos os seus pensamentos e todos os seus sentidos, pertecem a flor amarela, que lhe mostrou o prazer de ter um amor para cuidar, disso estava certo de que melhor sensação não há.
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Crônicas De Um Coração Mecânico
RomanceUma coleção de crônicas que ilustra de forma metafórica casos de amor da vida cotidiana de um adolescente. A mudança da sua postura ao longo tempo e os traumas emocionais aos quais carrega.