- Não acha interessante este negócio de amor ?- ele me perguntou.
- As vezes sim , por quê?
- Não sei , só acho que é preciso confiança pra dizermos "Eu te amo " pra alguém que chegou na sua vida , não foram anos se conhecendo as vezes são meses , Carnavais , ou algum verão em um bar qualquer . Mas , mesmo assim as pessoas conseguem entregar uma parte sua pra alguém.
Parei por alguns segundos de reflexão e respondi
- Talvez as pessoas gostam de se arriscar.
- Não sei , eu prefiro continuar inteiro , e não precisar da metade de ninguém- disse-me em honestidade .
- Não sei se podemos fugir das regras desse jogo meu amigo , não há vencedores , não há botão de stop . Existem apenas concorrentes a procura de um coração que fecunde a paixão que sentem . Não existem céus , nada é claro . Deve ser por isso que é tão louco - desabafei .
Ele apenas parou por instantes e me disse :
- Então beberemos whisky no inferno meu amigo, por que deste cálice eu não beberei - riu e deu um trago no seu cigarro - tomaremos algumas doses lá.
- Você ainda acredita no amor ? - especulei internamente que não.
Mais um trago e mais um gole .
- Não é questão de escolha - levantou-se e pegou as rosas na mesa - se você tem um casamento sem amor , mesmo assim deseja manter . Porque não é a escolha mais a segurança de sair , voltar e saber que alguém ainda espera por você. Não é muito de acreditar , é necessidade .
Ele pegou sua carteira , seu paletó, pôs duas notas de cem dólares na mesa e disse por fim .
- E você acredita no amor - bebeu o resto do whisky olhou o relógio na parede e apressadamente disse - não esperarei sua resposta , preciso ir pra casa .
Vi ele sair pela porta dupla , e aquele barulho rotineiro do sino . Mas internamente já havia respondido .
" De que adianta acreditar ou não no amor , sendo que nem a vontade nem a substituição não vai suprimir o desejo que tenho por ela mas não a posso ter ?"
- Tudo que me restou foi uma foto
- O que disse ?- perguntou-me o sujeito ao lado .
- Nada - Pus-me de pé e em direção a saída.