Sonho intrigante

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Você não é bom o suficiente e também não sabe fazer nada que preste. Foi exatamente isso o que meu pai disse para mim quando eu era apenas uma criança, e nunca vou me esquecer dessas palavras. Eu ouvi frases desse tipo constantemente durante toda a minha infância e por isso tive que me virar como pude para me manter erguido.

É uma droga quando o pilar de sustentação que você tem desmorona te deixando desamparado. Se esse pilar for alguém que você pensava que te amava, a situação é ainda mais angustiante. Tenho um pai vivo que está sempre ausente e uma mãe morta que obviamente não está mais comigo.

Já que não existe plenitude para a humanidade, eu tenho que me preencher de alguma forma. O problema é que nada me completa ou me deixa satisfeito. O conhecimento que tenho é insignificante comparado ao que os cientistas possuem. Não importa o quanto eu estude, sempre haverá outro ser humano melhor do que eu. Se eu amar alguém, em algum momento essa pessoa vai me abandonar. Cada pessoa se preenche com o que acha que é o melhor para si, mas sei que nunca estarei satisfeito comigo mesmo e muito menos com o mundo que me cerca.

O motivo disso é o fato de eu não me encaixar em nada. Talvez eu realmente seja uma incógnita ambulante como dizem sobre mim por aí. Não sei se ser crítico e observador demais é um defeito ou uma qualidade minha. Diferentemente da massa, eu não consigo me conformar com o que quer que seja. O senso comum é uma abominação, e quase todo mundo vive nesse patamar sem se dar conta dessa verdade tão simples.

Eu não sou um cara orgulhoso. Sei reconhecer a minha pequenez. Sou apenas um entre bilhares de pessoas. Dizer que sou apenas uma gota d'água no oceano é uma boa analogia. Eu pedi desculpas para quem desapontei ou magoei de alguma forma, mas eu não me sinto digno de perdão. Não sei o porquê de eu me sentir assim, mas não consigo mudar isso.

Tyler, quantas vezes eu vou ter que te dizer que isso que você quer fazer é impossível?

Qual é o seu problema, garoto?

Que menino esquisito. Eu é que não quero ser amigo dele.

Você nunca vai dar em nada, Tyler.

Meus pensamentos são tão altos, e não consigo raciocinar direito por causa disso. Esses pensamentos dizem respeito ao meu passado, aos erros que já cometi, ao que sou e aos julgamentos que as pessoas fizeram sobre mim.

"Droga." Murmuro baixinho abrindo os meus olhos. De barriga para cima, fico deitado na cama e apoio ainda mais a minha cabeça no travesseiro. Pego um dos vários que está no chão para poder abraçá-lo.

Eu penso em suicídio às vezes. Penso nisso todos os dias, na verdade. Será que alguém se importaria comigo ou será que eu faria falta para alguém? Imagino que a resposta é não, mas mesmo tendo consciência disso, sou covarde demais para tomar alguma atitude que dê um fim à minha própria vida. Eu conseguiria arranjar uma arma facilmente com a ajuda de alguns drogados que vivem zanzando pelos arredores da minha casa. Por toda a minha vida, eu tentei não dar ouvidos aos desestímulos que recebi, mas acho que cheguei ao meu limite.

A luz do meu quarto está acesa como de costume. Pego meu celular e meu fone que estão na cabeceira da cama. Encaixo o fone nos meus ouvidos e desbloqueio a tela do aparelho. Seleciono o player e escolho uma das minhas músicas favoritas atualmente que é Ride da banda Twenty One Pilots. Configuro o player para o modo repetição e acelero a música para as frases finais que são as que mais gosto.

Estou pensando demais ultimamente

Me ajude

Ouvindo a música, respiro lentamente tentando não endoidar. Eu tenho certeza de apenas duas coisas nessa minha vida monótona e chata: 1) Ser um adolescente é uma droga e, 2) Ser um adolescente como eu é pior ainda. Pelo mundo afora, certamente há vários semelhantes a mim. Pobres coitados.