🥀
Sabe o que aconteceu naquele dia?
Me sinto afundar todos os dias quando me lembro daquele em específico, sinto-me tonto ao pensar que a culpa foi minha por ter dado a ele esperanças sem perceber para depois arrancá-las, sem notar que o estava matando.
Era um dia como outro qualquer, o sol estava bom, o céu azul sem nuvens, não tinha ameaça de que iria chover. Eu estava bem, tranquilo, a alguns dias estava sem ter com o que me estressar.
Havia combinado com SoonYoung de tomar um café e colocar os assuntos em dia, andávamos distantes e isso me incomodava. Meu melhor amigo distante de mim era estranho, o tinha ao meu lado desde sempre, éramos inseparáveis, ele era o único que aturava meu mau humor e minha irritabilidade constante, minhas patadas e momentos de ignorância, que ocorriam com mais frequência do que o normal.
O esperei por quase vinte minutos sentado, com uma xícara fumegante de café em mãos. Eu odiava esperar, se queria me irritar bastava marcar algo e chegar atrasado, era o ponto chave para estragar meu humor o resto da semana.
Estava para sair quando ele entrou pela porta, as roupas desarrumadas e os cabelos pretos caindo na testa, seus olhos não tinham aquele brilho bonito de sempre, estavam fundos e com olheiras enormes embaixo. SoonYoung sorriu para mim, mas não era aquele sorriso que me contagiava e fazia querer sorrir de volta, era um sorriso forçado, ao qual eu engoli apenas para não causar uma briga entre nós, não nos víamos há tempos, não queria estragar o momento.
Soltei um baixo suspiro ignorando a raiva por ter ficado esperando tanto tempo é apoiei o rosto na mão o encarando quando ele se sentou pedindo desculpas pela demora.
- O que houve com você? É sempre o primeiro a chegar e hoje chegou estupidamente atrasado. Aconteceu alguma coisa com você? _ Eu perguntei.
Estava preocupado com sua expressão abatida. Ele nunca me pareceu tão mal como naquele momento, mas ele poderia parecer pior. Podia sim.
- Eu preciso falar com você... Na verdade, te contar algo. _ Mordeu os lábios ressecados.
SoonYoung era sempre direto, não importava com o quê, ele sempre ia no ponto sem fazer rodeios. Mas naquele dia... Naquele dia ele pausou, ele enrolou, ele brincou com os dedos, ele não me olhou nos olhos e foi rápido. Ele apenas ficou lá parado enquanto eu o esperava.
- Diga, Sonnie. Está me deixando agoniado aqui. _ Eu apertei suas mãos e ele segurou as minhas.
Minhas mãos eram finas e pequenas, costumavam sumir por entre as dele, seus dedos grossos passando pelos meus os massageando e brincando com as pontas. SoonYoung dizia que eu tinha mãos delicadas e que elas nunca iriam ferir ninguém, que ele gostava dos carinhos dos meus dedos frios em suas bochechas gordinhas. SoonYoung sempre me elogiava e eu nunca fiz o mesmo por ele, tudo o que disse para ele foi tarde demais.
- JiHoon, eu... Eu tenho medo do mundo, sempre tive. Mas eu nunca tive medo de amar alguém, eu nunca me privei de sentir essas coisas, no entanto, nunca foi algo forte. Algo que pudesse doer e me deixar aos pedaços quando sufocado aqui dentro. _ Seus dedos apertavam os meus, não de forma que pudesse machucá-los, apenas buscando conforto. Conforto esse que eu não pude dar. - Meu peito dói, JiHoon, minha garganta se fecha e por ela saem coisas que eu duvidava que pudessem de fato existir... Eu pensei que isso pudesse ser retribuído, mas, pelo que vejo, não é, não foi e não vai ser. _ Seus lábios formaram uma linha fina e ele piscou, uma lágrima fria pingou em minha mão e eu me desesperei.
Eu não sabia o que fazer quando as pessoas choravam, eu sempre acabava gritando para que parassem, eu não era um bom ouvinte, um bom ombro amigo, eu não era nada. SoonYoung era perfeito para essas coisas, mas, naquele momento, era ele quem precisava de alguém assim.
- Sonnie....
- Eu te amo, JiHoon, eu te amei com todo meu coração, cada parte de mim te ama. E saber que você não o sente da mesma maneira me mata, acaba comigo. E não é apenas forma de falar, isso está acabando comigo. Mas eu não quero esquecer de você, não quero perder nossas memórias, nossos momentos. Eu não quero perder você, Honnie, porque mesmo que isso não tenha funcionado, eu ainda sei que existiu você. _ Eu não soube como reagir.
Sabe quando tudo o que acontece à sua volta parece lento, chocante, seu corpo não reage, você não sabe como fazer mais nada? Era eu. Sentado naquela mesa mais ao fundo de uma cafeteria, em um dia como outro qualquer, uma xícara, já nem tão, fumegante de café, eu vi SoonYoung me soltar e sair dali com os olhos vermelhos e o rosto molhado.
Eu amava meu melhor amigo, mas não podia retribuí-lo com aquele sentimento pleno que ele sentia.
Naquele momento eu não entendi o que ele queria dizer, eu me sentia perdido.
Naquela noite olhando a televisão, e pensando, eu o entendi, eu saí de casa aos tropeços e esmurrei a porta de seu apartamento, mas ele não abria. Quando consegui entrar eu gritei em pavor parado na porta do banheiro.
Sabe o que aconteceu naquela noite depois de deixá-lo ir?
Ele voltou pra casa, vestiu uma camisa que eu havia dado a ele anos atrás, encheu a banheira e se afundou na água deitando na borda da banheira enquanto segurava um colar que, também, havia dado a ele, o qual eu tinha a outra metade, e ele deixou que as flores o consumissem.
A banheira estava cheia das minhas flores favoritas, Begônias rosadas e brancas, pétalas soltas, flores inteiras e bem no peito de SoonYoung um buquê delas. Ele estava com o corpo quase completamente coberto pela água da banheira e estava sendo engolido pelas flores que um dia amei.
Eu nunca conseguiria me esquecer de SoonYoung, daquela cena que se repete tantas vezes em minha cabeça, eu o deixei sufocar em meio às flores e aos sentimentos, eu o matei com minha incapacidade de amá-lo como deveria. Begônias nunca mais foram as mesmas, elas não pareciam fazer jus ao significado que tinham, elas não eram importantes para mim como SoonYoung foi um dia. Elas o consumiram e agora me consomem também, aos poucos vão me preenchendo, porque assim como eram minha amadas flores, eram dele também. Eu aprendi a amá-lo somente depois de perdê-lo.
❤
YOU ARE READING
Naquele Dia
Fanfiction"Ele se afundou na água e deixou que as flores o consumissem." (SoonHoon / Hanahaki / +18 pelo Yaoi)