Era véspera de Natal. Sem conseguir dormir, vesti meu sobretudo e saí à rua, que estava deserta àquela hora. Só havia para fazer-me companhia os animais noturnos que não vejo, e a luz da lua para iluminar meu caminho. O asfalto encontrava-se coberto por uma espessa manta branca. Qualquer pessoa que estivesse no espírito de Natal acharia essa paisagem mágica, o que não é o meu caso.
Ando por entre as árvores do bosque próximo à cidade. Sem a presença humana, o local parece muito triste e sombrio. seus troncos retorcidos parecer bloquear o meu trajeto, como se não quisesse a minha companhia. Desanimado, faço o caminho de volta a passos lentos e cansados. Não tenho pressa para retornar ao meu sono.
Decido começar a fazer um passeio para ver as casas iluminadas para a grande festa. Enquanto caminho solitariamente pela calçada, só ouço os meus passos, e nada mais. Durante toda a minha vida adulta me encontrei assim. Ficava rodeado de indivíduos que, no final de tudo, só se interessavam pelos meus bens materiais. Estaca acompanhado, mas ao mesmo tempo sozinho. Essa é uma das tristezas de ser rico, não ser amado pelo que se é.
Imagino os rostos alegres das crianças de cada moradia quando daqui a algumas horas, loucas para verem os presentes que o velho de roupa vermelha deixou para elas. Criaturas tão puras e inocentes dos males da vida. Mesmo aquelas que não tem nada e sofrem possuem um companheiro. Elas não tem noção, mas eu as invejo.
Paro um pouco para vislumbrar a vista do mar logo abaixo de onde estou, em um penhasco. O som das ondas batendo nas pedras traz tanta paz ao meu ser, descer até lá parece ser tão convidativo. Será que sentiriam a minha falta? Aproximo-me da beira e fecho os olhos para apreciar o momento. Em um segundo, falta-me chão e o vento bate forte em meu rosto. Foi naquele instante que tudo fez sentido em minha vida. Tudo, absolutamente tudo.
