II

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Depois de dois anos acabei me recuperando bem, principalmente por causa do apoio de todos os que me conheciam, com flores, cartões, fotos, balões, e várias outras coisas.
Estava bem o suficiente que acabei conseguindo ir para a escola, mas uma escola de pessoas deficientes ou com alguma doença. Meu cabelo já tinha crescido bem, estava um pouco depois do ombro, e estava muito fez por isso, porque acabava não me sentindo uma menina sendo careca, então fiquei com esperanças de socializar lá. A escola até era legalzinha, tinham muitas pessoas legais, que te acolhiam bem, e lá os alunos realmente te entendiam, compartilhavam tudo o que já tinha acontecido com eles, como eles se recuperaram, esse tipo de assunto. Também fiquei muito mais seguro porque todos os professores passavam por vários testes de salvamento, como se fossem treinados para serem enfermeiros. Lá também passavam enfermeiros a cada troca de horário. Mas a melhor coisa vem agora, lá não tinha educação física e você podia ir de pijama se quisesse (e olha que muita gente ia em).
Antes de começarem as aulas, a diretora fez uma reunião com os alunos para mostrar como funcionava a escola, e apresentar os professores também. Lá acabei fazendo muitas amizades lá, mas um menino acabou chamando a minha atenção, não sabia o nome dele, então acabei chamando ele de Picolé, eu sei que esse nome é bem aleatório, mas acabei dando esse nome para ele porque ele era muito magro. O Picolé parecia um menino que nunca tinha sofrido nada, era feliz da vida, super popular, pelo jeito muito carente, porque saía abraçando todo mundo que via pela frente.
Naquela escola acabei sabendo que não entravam muitos novatos, então já comecei a me preocupar por aí.
Depois da apresentação com a turma de professores, eles acabaram separando muitos grupos para conhecer as escolas. Eles separaram os grupos pela ordem alfabética, e por incrível que pareça o Picolé ficou no meu grupo.
Saímos do auditório e fomos andando para o corredor, e a cada passo eu estava tentando chegar mais perto do menino, e acabou que deu certo.
Essa escola parecia aquelas escolas de filme, com corredores grandes, pátios grandes, uma grande área verde e cheia de armários pra tudo quanto é lado. Os instrutores apresentaram algumas salas também, bem grandes e compridas, e cada fila cabia umas 4 pessoas, então não tem como criar o grupo do fundão.
Passamos em frente à cantina, lugar bem grande, cheio de mesas e árvores, cada flor mais bonita que a outra. E por fim passamos no banheiro, bem grande também. Eu acho que foi o primeiro banheiro comunitário onde tinha mais de um banheiro para cadeirantes (também né, escola de doentes). Depois voltamos para o auditório, onde a diretora passou os horários de aula, e depois fomos para as salas.
Lá não funcionava como uma escola normal, onde o professor ia para a sua sala, agora a gente tinha que ir para as salas onde os professores estavam. Particularmente achei isso horrível, porque tinha muita chance de você chegar atrasada na sala e o professor não te deixar entrar lá.
A minha primeira aula foi de Geografia, o nome do professor era Gilberto, ele parecia um príncipe encantado por causa do seu estilo, mas ele não era muito bonito. No começo da aula achei ele um pouco legal, mas depois ele foi piorando, e agora peguei não gosto dele, e quem falar que gosta dele ou está mentindo ou é doido. Cada aula durava 1 hora, e depois a gente tinha 10 minutos para chegar na outra sala.
Depois de algum tempo naquela aula chata, resolvi dar uma olhada em quem estava na minha sala, para ver se tinha alguém bonito ou se tive azar e peguei só gente feia. Acabei olhando para o “fundão” e percebi que o Picolé estava lá, então já fiquei bem feliz.
Para que ele me notasse, acabei montando um plano:
1°: Deixar ele sair na minha frente;
2°: Ir correndo atrás dele para ver se ele vai continuar sendo da minha turma;
3°: Ver onde ele vai sentar para sentar perto;
4° (e o mais difícil): fazer com que ele me note de algum jeito.
Bem, agora o meu plano está planejado, tomara que eu consiga completa-lo. Faltando 5 minutos para a aula terminar, comecei a arrumar os meus materiais na minha mochila branca, guardando o meu bloco no fichário rosa com glitter e esperando o sinal tocar.
Triinnnnn!
Fiz tudo certo, esperei ele sair da sala, fui correndo atrás dele, olhei meu cronograma e fui para a minha sala. Ele estava lá também! Então coloquei a minha mochila do lado dele, olhei no meu telefone quantas horas, faltavam 3 minutos, então saí da sala atrás de um banheiro para ver como estava. Acabei achando um do lado da minha sala, fui correndo. Cheguei lá olhei para cima da pia, e pensei “cadê o espelho?!”, como que em uma escola não tem espelho?! Então entrei em todas as partes possíveis daquele banheiro, e nada. Então voltei para a sala, com vergonha de estar bagunçada ou alguma coisa do tipo.
Chegando lá, vi que o professor tinha acabado de entrar na sala, então bati na porta, com um pouco de vergonha, e ele disse:
- Aonde você estava?!
- Estava no banheiro, cheguei logo atrás de você professor...
- Luciano.
- Será que eu posso entrar?!
- Claro, mas da próxima vez não se atrase ok?!
- Ok, me desculpe.
Então entrei na sala. No momento achei que tinha ficado bem vermelha, mas mesmo assim fui obrigada a assistir aquela aula. Quando olhei para o quadro, vi que ele dava aula de química, uma das piores matérias, para que que a gente tem que saber de átomos, suas ligações, para que?! Isso não vai fazer diferença na minha área mesmo.
Então continuei assistindo aquela aula, até que o professor era legal, só que ele não sabia explicar a matéria dele direito, então fiquei voando na aula dele. Depois de um tempo lembrei que eu estava do lado do picolé, então tentei dar uma disfarçada e tentar olhar para ele, mas vi que ele estava olhando pra mim, então novamente acho que fiquei vermelha.
Tocou o sinal de novo, mas dessa vez era para o intervalo, então peguei o meu lanche na mochila e fui para a cantina. Minha mãe tinha feito um sanduíche natural para mim, um dos melhores que eu já comi.
Cheguei lá e vi muitos grupos de meninas, mas também tinham algumas com caras legais, então resolvi chegar em uma para puxar conversa. Sentei do lado dela em uma mureta que tinha na escola, demorei um pouco para tomar coragem, e disse:
- Oi.
- Oi.
- Qual o seu nome? O meu é Sofia.
- O meu é Ana Julia.
Teve uma pausa silenciosa, porque acabei vendo que ela não queria muita conversa comigo, mas acabei insistindo e disse:
- Você é nova aqui?
- Sim, e você?
- Também – olhei para ela, vi que não aparentava ter nenhum problema, então resolvi pergunta – qual foi o problema que você teve para estar aqui?
- Eu tive um tumor na perna, mas quando descobrimos já era tarde, então tive que tirá-la.
- Nossa, que horrível.
- E o seu, qual foi?
- Bem, eu entrei em coma por causa de um câncer, e ainda não me curei.
E depois fomos conversando, até eu descobrir que ela era da minha turma desde o primeiro horário. E daí essa amizade começou a ficar mais forte.
Logo percebemos que já tinha tocado o segundo sinal para irmos para as salas, mas nem eu e nem ela tinha escutado, então fomos “correndo” para a sala, com todo aquele peso nas costas.
Chegamos na terceira aula com o professor atrás da gente. Quando entrei na sala comecei a tentar achar o Picolé, mas não estava na sala, mas acabei nem ligando tanto, porque já tinha uma amizade lá.
O professor entrou na sala, começou a escrever um tanto de coisa no quadro, mas ainda não tinha se apresentado, então eu e ela começamos a conversar, igual toda a sala. O professor era bonito, era magro, um pouco maior que eu, tinha barba, então agora eu tinha um Baton, mas agora com partilhado.
Eu e ela seguimos assim, conversando todas as aulas, mas disfarçadamente, para que ninguém saia de sala e fique marcada por algum professor.
A Ana Júlia acabou virando minha melhor amiga, mas já com vários outros amigos, como a Luiza, Bianca, Geovanna, João Vitor, e vários outros.
Nesse momento, já tinha me esquecido do Picolé, mas algumas vezes a gente tinha algumas trocas de olharem, e algumas amigas já sabiam que eu gostava dele, mas elas acabavam insistindo que eu ainda gostava dele.
Depois de um tempo, acabei chamando todos os meus amigos para a minha casa, e a gente acabou jogando verdade ou desafio, e a Bianca acabou me desafiando a puxar conversa com o Picolé no dia seguinte, no caso segunda feira.
Na hora que ela falou isso deu vontade de bater nela, e ao mesmo tempo fiquei com frio na barriga. Fiquei pensando muito tempo em desistir do desafio, mas a gente tinha prometido que iria fazer tudo o que alguém pedisse, menos se fosse muito pesado.
Depois que paramos de jogar, fomos ficar andando na rua e conversando sobre coisas aleatórias. Eram três horas da tarde, com aquele sol rachando, mas resolvemos ir mesmo assim. No meio do caminho comecei a sentir alguma tontura, então chamei as meninas, que no caso estavam tirando foto, para a gente ir para casa, mas pediram para esperar um pouco, então comecei a procurar uma árvore, e acabei encontrando, então sentei no meio fio e fiquei la esperando ela. Deitei na minha perna, e por incrível que pareça acabei dormindo.
Acordei com uma tontura bem forte, num lugar muito branco e cheio de gente ao meu lado com um tanto de flores e balões de coração e mais esse tanto de coisa. Acabei percebendo que estava de novo no hospital, com quase todas as minhas amigas em volta de mim chorando.
- Ainda bem que você acordou Sofia – disse a Ana Julia.
- Desculpa a gente não ter voltado com você na hora que chamou – falou a Bianca.
Depois todas elas começaram a se desculpar e chorar ao mesmo tempo.
- Gente, para com isso, to querendo chorar agora, me dá um abraço.
Fiquei tão feliz com esse abraço, foi um dos melhores abraços que já tinha recebido até hoje, um abraço que parecia que nunca mais iria acabar, então comecei a lembrar de todas as amizades que já tive e comecei a chorar, mas não um choro de lágrimas, um choro seco, um choro mental.
- Gente, mas afinal, o que aconteceu?
- O médico disse que você começou a ficar muito quente e passar mal, e como você não tem muitos anti-corpos, começou a passar mal e desmaiou.
- Quando fomos te chamar para irmos em bora você não respondia, então fomos te cutucar e você também não respondia, então ligamos para uma ambulância e depois para a sua mãe.
- E agora estamos aqui com você.
- Acabei de lembrar que você ainda tem que cumprir o desafio em... Tá ansiosa?! Eu tô kkkkkk.
E continuamos a conversar, todas dando muitas risadas, até que o médico me liberou, e a minha mãe deu uma ideia genial de as meninas irem lá para casa, então todas começaram a pegar os telefones e ligarem para as mães, e todas deixaram.
Chegamos lá em casa, a gente acabou resolvendo ir tomar banho, mas como tinha só um banheiro demorou um pouco, e claro que foi uma de cada vez né?! Depois do banho a gente começou a arrumar as camas, montamos uma “cabana dos segredos” no meu quarto em cima dos colchões no chão, e continuamos assim, rindo, com uma ótima amizade, onde poderíamos confiar em cada uma.

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