Amantes Distantes

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O Sol, com toda a sua magnitude, sempre fora um pouco solitário. Quem o vê de longe, pensa que toda a luz que irradia já é o suficiente para ele, ele é uma estrela, não é mesmo? Estrelas não precisam de mais nada, elas tem a si mesmas e o seu brilho próprio. Talvez devesse ser assim. Mas o Sol, cegava a si mesmo com a sua própria luz, era cercado por vazio. Vazio e mais vazio, como o que ele era realmente, se sentia apenas uma bola gigante de luz e calor. O que seria dele se não fosse a escuridão? Ele já estava cansado de tanto pensar nisso, em qualquer coisa, na verdade. Quando você está sozinho, a única coisa que lhe sobra é a si mesmo, e os seus pensamentos.

Mas, o Sol, depois de tanto tempo sozinho, conseguira encontrar uma luz, não insana como a que ele exalava, mas bela, que merecia sua admiração. A Lua, há milhões de quilômetros, tão reluzente, tão deslumbrante, tão bela. Ela, ela sim, merecia mais do que lhe era oferecido. Ele gostaria de lhe dar todo o universo se fosse possível, mas oferecia o que ele podia. Oferecia sua luz, o seu calor da alma, o seu coração para ela ali fazer sua morada. Oferecia mais uma estrela para a constelação que ela nutria dentro de si.

A Lua não era só constituída de crateras, ela era muito mais do que só sua aparência caótica, e o Sol enxergava isso muito bem. O Sol via cada pedacinho dela como se fosse único, o que realmente era, um pequeno espaço a se explorar. Ele sabia o quanto ela era magnífica, e não era só pela sua aparência que acima de tudo o encantou, nunca tinha visto elevações tão graciosas, era pelo conjunto completo, pelo o que ela era. A Lua não era nenhum astro, mas sua luz o atraiu como se fosse.

Bem, a Lua não estava acostumada com tanta admiração, principalmente vinda de um astro. De primeira achou que o mesmo estava zombando da sua cara, afinal, quem gostaria dela? Um simples satélite, cinza e rochosa. Com machucados e band-aids arrancados. Já tinha se apaixonado por uma estrela outra vez, mas ela não lhe dava muita atenção, tinha sempre alguém para que a admirasse. Se sentiu péssima naquela época, até conseguir enxergar a ganância e a vaidade que cercava aquele astro além do seu brilho desconcertante. Fora mais um dos motivos de seus machucados, esse ao menos, a fez amadurecer.

Mesmo assim, se sentia tão pequena, tão... Inferior. O Sol dava vida a um sistema inteiro, ela mesma só estava ali por ele. E ela, o que ela fazia de tão bom? Demorou um certo tempo para conseguir responder essa pergunta, se achava tão sem propósito. Mas, quem coordenaria as marés se não ela? Ela pode não ser admirada por tantas estrelas - e mesmo se fosse, que diferença fazia? -, mas, agora, tinha consciência de que muitas pessoas da Terra a admiravam. Ela tinha seu propósito, tinha seu brilho próprio, dentro de si. Talvez só faltasse isso para se abrir para algo, ou para uma estrela.

Reconhecer isso fez uma grande diferença em sua vida, Sol não a colocava em um pedestal, só afirmava o que ela era. Ela era única, assim como ele, mesmo havendo tantos satélites e tantas estrelas no universo. Eles possuíam suas particularidades e peculiaridades. Lua antes não se via ao lado do Sol, bem, não exatamente ao lado. Mas atualmente ela reconhece a sua importância no universo, ela se ama, e mais o que seria o ponta pé inicial para amar alguém se não amar a si mesmo?

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