Onde estamos? (Perio)

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EXISTEM MUITAS TEORIAS sobre como é morrer; na melhor delas, eu não tornaria a abrir meus olhos, eu não retornaria como fantasma, eu apenas... dormiria. Dormiria tranquilamente para todo o sempre, e, enfim, diria adeus a todo o tormento que era viver.

A vida pode ser analisada de várias formas, e embora sejam infinitos os pontos positivos, as pessoas estão mais inclinadas a enxergar apenas os negativos. Todavia, ninguém parava para pensar que as coisas boas eram derivadas das ruins, pois não haveria alívio se não houvesse dor, e não haveria esperança de vencer se não houvesse pelo que lutar. Tropeçamos para aprender a levantar. Passamos por maus momentos para saber valorizar os bons.

E eu comecei a entender aquilo quando meus olhos se abriram e me dei conta de que não havia morrido, fazendo com que um alívio enorme crescesse dentro de mim. Eu queria viver, e precisava. Ou tudo até ali fora em vão, toda a luta, todas as vezes que eu praguejei comigo mesmo sobre minha existência miserável, mas me recusei a desistir. Eu não podia falhar com todo mundo. Simplesmente não podia.

Me vi encarando um teto bem alto completamente negro. Era daqueles em formato de cone cujo final desaparecia de vista. Imediatamente, me senti tonto e enjoado, sentando-me e pressionando a barriga com os braços. Minha boca entreabriu-se espontaneamente quando me dei conta de que estava sentado no meio de uma sala enorme, com um piso de madeira pintado de branco e preto em forma de listras. A sala era tão ampla, que eu era incapaz de ver o final; minha visão só alcançava a parte iluminada pelas tochas presas às paredes, que se encontravam em um intervalo de alguns metros uma das outras. Fechei os olhos e balancei a cabeça, tentando me convencer de que estava sonhando. Talvez tivesse morrido. Mas um morto não conseguiria experimentar todas as sensações que eu experimentava naquele instante.

Senti um peso nas minhas costas e mãos enrodilhando meu pescoço. Meus olhos abriram na mesma hora, e me vi encarando uma cortina de cabelos negros a cada lado do meu rosto.

— Eba! Você acordou! Acordou! – ela dava pulinhos, consequentemente me sacodindo.

Então me soltou e deu a volta, parando a minha frente e sentando de pernas cruzadas com as mãos fechadas sobre as canelas. Ela assumiu um ar sério, que não durou nem meio minuto.

— Não aguentava mais ficar sozinha! Aqui é chato. Eu não tenho uma espada nem um alfinete – ela fez biquinho.

Eu queria não sorrir, mas não pude me conter; Emire estava surpreendente doida de uns tempos para cá, mas era melhor lidar com o lado "criança fofa" dela do que com o "psicopata".

— Você está acordada há muito tempo? Sabe onde estamos?

Ela suspirou, levantando-se em um pulo e correndo para algum lugar atrás de mim. Virei-me, acompanhando-a com o olhar. Mais adiante, haviam uns cestos devidamente fechados, amontoados em um canto. Emire abaixou-se diante de um deles e abriu, enfiando a cara lá dentro.

— Eu acordei pouco tempo antes de você. – disse ela, farejando o conteúdo do cesto como um bichinho; em seguida, enfiou a mão ali e tirou algo sanguinolento – Oba! Carne! Aliás, vermelho é uma linda cor, não acha?

Meu estômago deu uma cambalhota e eu me esforcei para manter a calma, fechando os olhos e respirando fundo.

— Emire – falei, mantendo a calma - Solta isso. Por favor.

— Ah! Você é tão chato! – resmungou. Quando tornei a abrir os olhos, ela estava caminhando até mim, limpando as mãos na roupa. A camisa dela, que um dia fora branca, agora trazia cores que eu nem mesmo lembrava que existiam – Você não era assim.

Filtrei aquelas palavras, percebendo que ela não estava falando necessariamente de mim.

— Por que continua me tratando como se eu fosse o... Lekso? – perguntei baixinho, e quase no automático. Ela arqueou uma sobrancelha, com um sorriso brincalhão.

Missão Secreta - Parte 2Onde histórias criam vida. Descubra agora