Nunca quis muitas coisas. Meus desejos eram simples e cabiam no instante da saciedade de fome por um pequeno doce. Vivia feliz com o que tinha - uma família amorosa e numerosa, numa casa pobre e com ratos caminhando no telhado, brinquedos simples mas eficientes e práticos. Meus sonhos de dançar ballet ou tocar piano eram bem abafados pela consciência de nossa condição.
Um dia, eu imaginava, vou poder fazer todas as coisas que quero!
Mas eu realmente nunca quis nada daquilo que achei que quisesse - ou teria lutado para consegui-las.
E, sim, o que eu realmente quis eu tive!Sempre.
Nadine olhou do relógio para o semáforo e quis gritar: aquele sinal verde com o bonequinho caminhando não ia aparecer nunca mais? As pessoas à sua volta carregavam sacolas de compras, havia uma mulher com um bebê que chorava e um louco que gritava palavrões enquanto agitava um cobertor no ar. O cheiro de asfalto quente recebendo os primeiros pingos de chuva lembravam a Nadine outros cheiros: o cheiro daquele quarto, da pele suada, do calor, do medo, da excitação, do prazer... era só fechar os olhos e podia rever todas as cenas, desde que se viram pela primeira vez, há quase três anos.
Nadine abriu os olhos. O bonequinho ficou vermelho de novo.
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Aprendendo a voar
ChickLitA vida de Nadine Kingston e sua jornada em busca de liberdade, independência e de si mesma.