9: if i could fly

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"Eu possuo feridas, por mais que elas não possam sempre ser vistas; e a dor intensifica-se. Mas agora que você está aqui, eu não sinto nada."
One Direction - If I Could Fly

Abro os olhos sem me dar conta de onde estou ou do que acontece ao meu redor. Deslizo as mãos por meu lado da cama, e, suspiro. Ninguém. Espreito os meus olhos afim de adaptar minha visão com a forte claridade que adentra pelas brechas da janela.

Friso meu olhar por sobre o meu corpo e suspiro aliviada por ver que minhas roupas estão intactas em seus devido lugares. Nada aconteceu entre mim e Paulo, e, sinto um misto de alívio por não ter entrado em sua lista.

- SAI AGORA DA MINHA CASA!

A voz de Paulo ressoa de maneira rude e quase salto para fora da cama king-size. Caminho para a porta apenas a tempo de ver pela brecha uma mulher de cabelos escuros esbofetear seu rosto.

- Você foi a pior coisa que aconteceu na vida dela! -a mulher diz para ele, raivosa. - Ela tinha tudo... Ela nunca precisou de você!

Paulo está de joelhos no chão, derrotado. Sinto o meu peito palpitar com força apenas por vê-lo daquela maneira. Tão frágil.

"Ela me amava!" Ele rebate para a mulher mais velha. Sinto-me preocupada ao extremo e devastada por estar assistindo aquilo sem pôder fazer nada.

Paulo está chorando feito uma criança desolada. Os seus cabelos levemente grudados na testa estão sendo repuxados por seus dedos e ele está a jogar as mãos no piso de mármore em um soco. Queria tanto abraça-lo e fazer com que pare de chorar. - Ela realmente me amava...

Não consigo evitar, e é tudo muito rápido quando acontece, pois, mal tenho ideia de como vim parar ao lado dele tão assustada. - Hey... - Talvez tenha sido um erro, mas, não consigo me conter.

Olho para a mulher com pesar e rancor e ela começa a focalizar meu rosto. Olha para mim, para meu peito subindo e descendo e engole a bile em sua garganta. "Você deveria ter morrido no lugar dela, Paulo. Você é muito pior do que eu pensei!" Dybala está meio derrotado.

Segundos mais tarde ela desaparece através dos corredores me deixando sem qualquer tempo para raciocinar. Estou de joelhos, prestes a abraça-lo, mas, sou empurrada com força. Por ele.

- Some daqui, Katrina!

Seu rosto está inchado, muito vermelho, e ele agora está de pé, chutando coisas e jogando porta-retratos com sua noiva contra o chão.

- Paulo! - estou gritando. - Por favor!

- Sai daqui! Agora!

Ele puxa a tevê presa no suporte da parede e a joga contra o chão com muita força, causando um pequeno tremor sobre os nossos pés.

Não consigo me mover. Estou com medo dele mas com mais medo ainda de deixá-lo sozinho.

- Pare, por favor! - Aperto seu ombro por trás, chorando. Ele ameaça se mover, mas numa tentativa quase falha eu o abraço. Aperto suas costas com as minhas mãos. - Eu estou com medo, mas, estou aqui. Então para, por favor.

Ele está petrificado. Chocado com meu ato.

- Você não está sozinho, Paulo. -Minha voz sai quase num sussurro. - Eu estou aqui. Estou aqui com você. -Minhas mãos em seu peito captam os batimentos frenéticos de seu coração.

- Ela... -Ele está chorando. Está de costas para mim, mas sua voz o entrega; - Ela estava esperando um filho meu, Kat.

De repente estou nervosa. Abruptamente devastada. Não consigo descrever se sinto ciúmes ou pena, mas meu coração se parte ao meio. Antonella Cavalieri estava grávida, e morreu levando um pequeno fruto de seu amor com Dybala consigo.

Ele segura minhas mãos sobre seu peito e se vira de frente para mim. - Quando eu disse ontem que ela queria me contar algo, tudo o que pretendia me dizer era que achava que estava esperando um bebê. - Estou chorando junto a ele. - Porque Deus a levou, Kat? Porquê me deixou sozinho?

Toco minhas mãos em seu rosto; - Paulo..

- Não! Eu não mereço você, Katrina. E não mereço a compaixão de ninguém! - Suspira. - Sou um poço de caos. Eu destruí a vida de uma garota que me amava. Não posso fazer o mesmo com você. Não quero destruí-la. Então... se afaste de mim enquanto ainda pode, Kat. Eu vou destruí-la.

Não tenho a menor ideia do que dizer a ele. Ao menos tenho noção de como seu coração deve estar doendo, mas queria cura-lo. Ele fecha os olhos e me abraça muito apertado, aninhando-se a meu corpo. - Kat...

- Olhe para mim! -sussurro, como uma ordem. Pouco a pouco ele afasta seu rosto de minha cravicula e está a me olhar nos olhos; - Você não está mais sozinho. Eu estou aqui. Com você e por você e farei o que puder para sarar tuas dores.

Seus olhos antes muito claros, agora estão num tom escuro do verde misturado a uma intensa vermelhidão. Um pequeno turbilhão de beleza.

- Eu não tenho ideia da dor que você está sentindo, mas, eu estou contigo para tudo o que precisar. -Suas mãos grossas e macias envolvem a minha nuca e seus olhos brilhantes estão vidrados nos meus.

- Kat.... - um simples murmúrio de súplica basta para que todo meu mundo estremeça.

Nossos lábios estão grudados.

Eu não faço ideia de como chegamos naquele momento, mas estamos nos beijando. Seus lábios são macios, como pensei, e ao mesmo tempo me transmite a impressão de que os conheço tão bem.

Abro um pouco a boca apenas para lhe dar passagem o suficiente para que me explore. De olhos fechados e coração aberto, estou entregue a ele e a tudo o que está me fazendo sentir. Somos apressados e afobados e intensos a cada toque involuntário que estamos a dar e eu poderia fazer aquilo para sempre. Poderia estar com ele para sempre.

Pouco-a-pouco nós estamos nos afastando pela notória falta de ar e estamos a nos encarar; tão pertos e tão distantes. Quero encontrar palavras para explicar a mim mesma o que estou sentindo por este cara.

Meu peito está subindo-e-descendo por baixo dos panos que estou vestindo e quero recuperar a minha sanidade. Recordo-me da noite que tivemos em flashes e do quão bom ele foi ao me deixar escolher o filme e a entender o que ele transmitia e a me perguntar como eu estava a me sentir e a me pôr para dormir em sua cama sem eu ao menos ter ideia. Dedilho meus dedos por sua bochecha e estou eufórica. Então ele fecha os olhos e me destrói. "Antonella" ainda de olhos fechados, extasiado, ele me chama pelo nome dela.

E eu acho que quero morrer.

KATRINA | DYBALA ✨ Onde histórias criam vida. Descubra agora