Cap. 59: Importância

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Luigi continuou mastigando, ingerindo sua comida suculenta e que, naquele momento, me parecia tão asquerosa.

- Ah, soube que anda frequentando cursos naquela academia estúpida... sei lá como se chama... - quase perfurei minhas palmas de tanto cerrar os punhos. Ele realmente havia bisbilhotado minha vida - então, pode ir se despedindo. Amanhã é seu último dia por lá.

E assim aconteceu, porque as palavras daquele garoto-demônio eram lei. E não adiantou nada eu ter ferido minhas mãos por completo, usando as unhas e a ansiedade esmagadora.

×××

Chegar à Academia havia sido algo torturante. Ainda mais, com tanta melancolia ao meu redor.

Rubi andava mal, com surtos frequentes de ansiedade, e por isso não poderia ir para seus cursos nem por uma última vez. E saber que ela amava dançar... me deixava mais triste ainda. Ônix, durante aqueles dias, andava cada vez mais frio e fechado para o mundo. O clima de despedida da própria irmã estava acabando com o que restara de sua vontade, e eu podia sentir sua dor. Vê-lo daquele jeito era horrível.

E, com tantos sentimentos confusos me circundando, ainda havia o meu problema. Ele tinha nome e sobrenome, e passara a comandar cada passo que eu dava.

Se pudesse voltar no tempo, jamais teria saído da casa de meu pai.

- Alessa! - gritou Leo, avistando-me entre os demais alunos.

Sua expressão, embora sempre dócil, estava infeliz. Por isso, soube que tinha machucado mais alguém.

- Ale, por que você não veio ontem? A Senhora Jakes quase teve um ataque cardíaco!!! Nós precisamos da sua ajuda para terminar o espetáculo de final de ano!!! - era claro o seu esforço para desviar o assunto. Porque ele já não acreditava mais em mim.

Ah, é. Pensei. Havia aquilo, também. O espetáculo de final de ano, que não passava de uma estratégia de marketing da Sociedade. Suspirei, forçando-me a encarar meu amigo.

- Eu sei... é que... eu tive alguns problemas com... - desisti de mentir. Eu ia embora, de todo jeito - o lugar onde moro.

Por um segundo, os olhos azuis de Leo piscaram. Ele percebera que eu estava falando a verdade, algo surpreendente. Depois, a dúvida pousou sobre seu rosto.

- Você quer dizer o condomínio onde mora? - perguntou, certificando-se.

Demorei a prosseguir, mas o fiz.

- Não... não é...

De repente, antes que pudesse continuar, dois braços finos enroscaram-se ao meu redor. Fui puxada para baixo, novamente sentindo a sensação de sufoco dos abraços de Thereza.

- Oiii!!! - exclamou, prolongando o "I" como sempre fazia - como vocês estão? Porque você anda tristinha, Ale? Ah, eu ando tão ocupada!

Thez sempre misturava as palavras. Ela queria falar tantas coisas de uma vez só, que confundia a própria língua.

- Eu... - tentei falar, mas a garota diminuta interrompeu-me.

- Meus irmãos estão me tirando do sério! Só sabem falar sobre responsabilidades e blábláblá... principalmente o mais velho. - ela suspirou, abraçando Leo.

- Aham. Aham. Aham. - ele respondeu, dando tapinhas na cabeça dela - maravilhoso saber disso, mas seria melhor ainda se você falasse de maneira inteligível.

Thez fez beicinho, fingindo estar ofendida. Abraçou-o ainda mais forte, quase quebrando suas costelas.

- Não é justo você ficar me zoando, Leo. Eu não gosto disso. - murmurou, enquanto o loiro tentava se soltar.

Porcelana - A Sociedade Secreta (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora