Cap. 62: Atos Imperdoáveis

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Oi gente!!! Música maravilhosa indicada pela kwonita. Espero que amem tanto quanto eu!!!

Bjsss, boa leitura!!!



Meu coração ainda estava amortecido, quando fomos obrigados a recepcionar os Frequentadores daquela noite. Amortecido, no sentido de que eu nem o sentia mais, tamanhas feridas infecciosas a Sociedade criara em mim. Talvez, Ônix estivesse certo, e todos já estivéssemos mortos. Porém, mesmo assim, o fato de ter o coração dormente ajudava. Sentia-me capaz de chutar um Frequentador, sem mais medo de nada. Só temia prejudicar meu pai, mas... eu também não sabia o que sentir a seu respeito.

Enquanto entrava no vestido violeta que escolhera, eu pensava em Rubi e Bia. E pensava de novo e de novo, imaginando o quão longe estariam. Para onde iria Rubi, na companhia daquele demônio cego? Para a Holanda, disseram. Mas, seria esta uma informação confiável? E no caso de Bianca, estaria ela realmente bem? Seria o tal belo Daniel, gentil de verdade? E se algo ruim houvesse acontecido? Precisei enfiar as unhas na cicatriz do ombro, esperando a dor latente impedir os pensamentos tenebrosos. Novamente, eu estava sofrendo por causa dos "e se..." que me impunham na vida. O pior, era que lidaria com eles por mais algum tempo, também.

O vestido violeta era o mesmo que eu utilizara na noite seguinte à cerimônia de marcas, com suas mangas estilo cigana, que deixavam aparentes as minhas cicatrizes. Dividi o cabelo em dois, trançando-o, para então aplicar um leve gloss nos lábios. Não queria parecer bonita para Luigi nunca, o que me motivou a não aplicar maquiagem alguma. As olheiras profundas sob os olhos, ossos quase aparentes na cintura e cansaço extremo me faziam parecer um cadáver.

Somente naquele momento, ao me encarar na penteadeira, foi que entendi porque as pessoas se automutilavam. Elas o faziam não por estarem tristes, mas sim, por estarem destruídas. Estavam apenas deixando o exterior igual ao interior. E, talvez, o fato de alguém perceber isso ajudasse.

Sentei-me no colchão e esperei. Sem dúvidas, me chamariam de idiota por estar confusa entre dois sentimentos: medo e raiva. Mas eu era apenas humana, uma criança interiormente. Precisava de um pouco mais de dor para amadurecer.

- Vamos! - gritou alguém do lado de fora do quarto, batendo na porta - está na hora!

Demorei alguns minutos para ter vontade de levantar e sair, tamanha desgraça era a que me aguardava. Quando cheguei ao corredor escuro, sabendo já se tratarem de 21h da noite, desejei arduamente que tudo passasse logo. Que eu pudesse voltar para meu canto solitário em breve, sem maiores complicações.

De repente, cutucaram meu ombro, assustando-me. Me virei e dei de cara com Lyna, uma das bambolas gêmeas que eram minhas vizinhas laterais. Seu rosto estava inchado e choroso, o que me fez exclamar:

- Lyna! O que aconteceu?

Suas mãos enroscaram-se, enquanto tentava abrir a boca para uma explicação. Porém, não precisou dizer nada, pois sua irmã apareceu.

Lany ostentava uma imensa queimadura, que cobria parte de seu pescoço. Estava horrível e obviamente dolorida, pela maneira como as lágrimas deslizavam por suas bochechas. Ela tentou abrir a boca, mas sua pele machucada repuxou-se, fazendo-a gemer.

- A Lany... ela... disse mais do que deveria, na aula de Canto da Academia. A senhora Datha descobriu, e... - a voz de Lyna falhou, quando seus olhos encararam os da irmã por um tempo - Não gostou nada. Puniram minha irmã, com uma chapa de ferro sobre o fogo.

Pus as mãos sobre a boca, absolutamente chocada. Eu conhecia muito bem as punições da Sociedade, mas vê-las em outras pessoas... o cheiro de sangue seco vazava para o ar, enquanto Lyna tentava fazer um curativo na ferida de Lany. A gase comprida espetava a pele machucada, fazendo a pobre menina tremer.

Porcelana - A Sociedade Secreta (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora