"O desejo do preguiçoso o mata; porque as suas mãos recusam-se a trabalhar." Provérbios 21;25
Paulo era um típico adolescente: usava jeans, camiseta de rock, cabelo longo e tinha espinhas protuberantes. Sendo um rebelde, não respeitava nada nem ninguém. Sua magreza era lendária. Na escola, onde cursava o primeiro ano do ensino médio, era conhecido pelo apelido carinhoso de "palito". Tinha cabelos e olhos castanhos e usava uma franja desajeitada no rosto, tipo "emo", apenas por puro desleixo. Ele não gostava dos "emos", longe disso. Na verdade, achava que eram um bando de "bichas organizadas", que se reuniam em frente às lojas e ficavam à toa. Gostava de pensar em si como um "metaleiro". Curtia bandas de rock e metal pesado, tipo Black Sabbath, Judas Priest e Motorhead. Também era muito desorganizado e sujo. Tomava um banho por dia, quando muito. Sua marca registrada era adiar as coisas. Não importava a tarefa, sempre deixava tudo para o último minuto. Quando pediam que fizesse algo, ele ignorava totalmente. Isso já havia causado muitas brigas de família e fez os pais considerarem seriamente enviar Paulo para um colégio interno.
Mas ele não ligava muito. Se é que ligava para alguma coisa a não ser rock. Também era fã de televisão, videogames, cerveja e revistas pornôs. O cara era um mestre do ócio. Ele até arranjaria uma namorada, se não fosse muito preguiçoso para sair e procurar uma. Mas isso estava fora de cogitação. Paulo saía pouco. Apenas nas raras vezes em que aparecia no colégio, para um show de rock, quando precisava comprar cerveja ou para ensaiar com sua banda, "Os entediados". Era fácil encontrá-lo em casa, largado no sofá da sala, bebendo e assistindo televisão ou tocando guitarra.
O quarto de Paulo era quase uma entidade consciente: feio, sujo, escuro e uma completa bagunça. Por todos os lados estavam espalhadas revistas pornôs e de música. As paredes eram cobertas por pôsteres de rock e mulheres nuas. Embalagens de salgadinhos e latas de cerveja vazias (algumas com meses de idade) forravam o chão e chegavam a obstruir a porta. A mãe do jovem roqueiro tinha um nojo absoluto de entrar no quarto dele. Até os dez anos, ela costumava entrar todas as tardes para arrumar um pouco o caos particular do filho. Mas desistiu quando foi mordida por um rato ao colocar a mão embaixo da cama.
E foi numa tarde de domingo que tudo aconteceu. Paulo havia comprado duas caixas de cerveja e muitos salgadinhos. Para mais uma tarde de ócio. Assistia filmes de ação na TV, onde brutamontes violentos assassinavam todo mundo sem sofrer um arranhão sequer. Era o tipo de filme que anestesiava a mente. Estava deitado em uma confortável poltrona preta de couro, quase atingindo um estágio avançado de dormência, quando o telefone tocou...
- Alô? - disse ele, depois de um esforço milagroso para pegar o fone.
- Filho?
- Oi, pai - falou Paulo, desanimado. Achava o pai um tédio. Um intrometido que mandava ele estudar o tempo todo, arranjar um emprego ou fazer algo de útil.
- Pensei que estivesse na escola...
O jovem pensou rápido numa desculpa: - Atividade extra-classe, pai. Eu não estava a fim de ir - inventou ele na hora. Paulo era um mestre das desculpas esfarrapadas.
VOCÊ ESTÁ LENDO
PREGUIÇA
RomancePaulo era um típico adolescente: usava jeans, camiseta de rock, cabelo longo e tinha espinhas protuberantes. Era um rebelde. Não respeitava nada nem ninguém. Era magro. Muito magro, aliás. Na escola, onde cursava o primeiro ano do ensino médio, era...