~PRÓLOGO~ Under the Water

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Homo peculiari¸ seria o termo científico para os Rádio-elementares. Receberam um outro nome por não serem, de fato, humanos e sim algo maior, mais relevante. Os Homo peculiari não se tratam apenas de seres humanos com características gênicas extremamente mutáveis, mas também das consequências dos atos de nossa espécie, os Homo sapiens. São nossos filhos. Nossas responsabilidades. Nossos arrependimentos.

"Por tal motivo, criamos a CCI – Candy Cane Instituiton. Muitos humanos os vêem como monstros, quando na verdade possuem muito mais versatilidade e possibilidade social que nós, meros protótipos. Criamos a CCI para desenvolver suas capacidades física, mental e social ao máximo, tendo em vista que eles podem muito mais do que nós."

*°*°*

Acordou, com o coração batendo à mil. Seus sonhos sempre se repetiam, sempre sobre alguma coisa que já havia visto no passado. Levantou-se, sabendo que o alvorecer ainda estava distante e arrumou seus cabelos, que outrora já foram curtos, mas que agora batiam no meio das costas.

A temperatura congelante não a importunava tanto quanto o calor de 40°C que eventualmente fazia nos centros das megalópoles – talvez por costume, talvez pelo treinamento que recebeu. Graças ao treinamento não havia perdido a vida (inúmeras vezes) na floresta.

Vestiu a pele de urso polar que muito adorava por cima das roupas térmicas de mergulhador que sempre usava e partiu para a área mais densa da floresta, área que ela e somente ela conhecia tão perfeitamente e foi verificar as armadilhas que havia armado para capturar seu "pão de todo o dia". Levava algumas avelãs e nozes consigo, além de ervas, afinal, nunca se sabe quando vai precisar de um kit médico ou de reserva energética extra.

Bom, no fundo ela sabia que nada daquilo que fazia era necessário para alguém como ela – caçar, manter uma rotina restrita à caçar, comer e dormir, economizar energia ao máximo e nunca se afastar do seu acampamento a não ser que isso se fizesse extremamente necessário. Ela era tão independente quanto um lobo solitário. Mas uma rotina numa situação como a que ela vivia mantém a sanidade, saúde física e mental, além de fazê-la se passar por uma ermitã ou simpatizante normal. Humana no mínimo. Com limites físicos, mesmo que imperceptíveis por quem a analisasse de fora.

De certo que era uma rotina pesada. Às vezes encontrava um predador, como um lobo, e era obrigada a se mudar, pois lobos são animais extremamente territoriais. Sua sorte era que se dava muito bem com os animais da região, e eles não a incomodavam. Bom, o seu casaco de urso foi outra história, que quem sabe um dia eu conte a vocês, mas esse não é o caso agora.

Foi até a primeira armadilha. Estava limpa, intacta. Ela bufou levemente e correu velozmente até a segunda armadilha, que também estava limpa. A manhã se seguiu assim até a hora em que ela passou a checar as armadilhas maiores. Sentiu um arrepio na espinha. Vocês, meu público leitor, nem imaginam a surpresa que ela teve ao ver o que antes foi um coiote preso em uma de suas armadilhas para urso, assim como não fazem ideia do estado que a carcaça do coiote estava. O bicho estava despedaçado, suas entranhas espalhadas pelo chão, seu sangue manchando o que restava do seu pelo e a neve branca ao redor. Ela ajeitou a pele de urso em seu corpo. Não coletaria aquela carne – não, impossível. Carne de coiote não era o prato favorito dela e ela não a comeria nesse estado, não estava tão desesperada.

Mas o que realmente se perguntava era: como diabos o bicho foi ficar daquele jeito? Sua armadilha não passava de uma arapuca grande. O máximo que faria de estrago seria quebrar alguns membros ou matar o bicho de inanição. Olhou melhor ao seu redor. Havia, de fato, um rastro de sangue que passava por entre as árvores. Não estava coberto de neve, e como ela já havia checado essa mesma arapuca ontem, então isso aconteceu em questão de horas atrás. Ajoelhou-se e concentrou todo o seu foco na área colorida na neve. Passou a mão por cima do sangue, deixando seus sensores captarem a diferença de temperatura.

Quatro, talvez cinco horas atrás. Levantou-se subitamente, esquecendo-se completamente de limpar e armar a arapuca. Seguiu a linha de sangue e órgãos internos para fora de sua trilha habitual. Por cerca de 30 minutos, tudo o que via era sangue e a marca dos passos cambaleantes do coiote. Já estava desistindo quando encontrou outra marca de passos.

Passos humanos.

Leitores, foi bem aí que o coração dela começou a bater muito rápido. Tudo o que ela queria era voltar para sua caverna e fazer questão de não ser seguida. Ela sacrificaria sua rotina inteira em prol de ficar escondida. Mas o que aconteceu em seguida a impediu.

Alguns galhos do pinheiro se partiram e a avisaram de que havia alguém mais ali, mas nada superaria a surpresa de ver um corpo caindo do céu.

Um corpo. Humano. Tudo o que ela menos queria na face dessa Terra.

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⏰ Last updated: Jun 25, 2017 ⏰

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