Prólogo

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O carteiro resmungava sozinho enquanto segurava dois pacotes grandes em seus braços e ao mesmo tempo tentava deslizar a porta da van para fechá-la, mas ela parecia emperrada com alguma coisa que ele não conseguiria ver desequilibrar com tudo. Praguejando baixinho outra vez, ele resolveu deixar como estava.

Deu um impulso com o corpo para cima, fazendo os pacotes pularem para se ajustarem aos seus braços da melhor forma e empurrou com o pé o portão verde meio desbotado já bem conhecido por ele. Segurou um palavrão ao tropeçar em um dos brinquedos – velhos, mas inteiros – que estava no caminho e enquanto subia os degraus, sentiu falta de ver as crianças brincando lá fora com seus sorrisos banguelas.

Ele apertou a campainha como pôde e segundos depois ouviu-a sendo destrancada e uma mulher baixa de cabelos pretos lhe sorriu esticando os braços para receber as encomendas. Dentro da casa, seus olhos captaram diferentes cenas. Dois homens e uma senhora no telefone dentro do escritório pareciam ocupados. Uma garota de mais ou menos três anos correndo com suas perninhas gordas e vestindo só uma calcinha enquanto uma jovem ia atrás chamando-a para o banho e uma pequena fila de crianças mais velhas seguindo pelo corredor que dava para a sala de jantar. Gritos e risadas davam para serem ouvidas mesmo que viessem do primeiro andar. Celeste's House nunca foi um lugar silencioso durante todas as suas breves visitas. A moça baixinha levou os pacotes para o escritório, achando pesado demais para alguém do seu tamanho, mas sorriu quando ouviu seu nome ser chamado a plenos pulmões.

— Olívia? Uma mãozinha aqui, por favor?

O dia estava mesmo uma loucura.

A maioria parecia animada para comemorar o aniversário de um dos adolescentes no final da tarde. É claro que não era fácil para todas aquelas crianças se conformarem a viver naquele orfanato – apesar de nada dentro do básico lhes faltarem – e seus responsáveis sabiam disso, então usavam qualquer desculpa para tentar fazê-los sentirem-se mais acolhidos e dentro de uma grande família.

Uma temporária.

Ao entrar na cozinha, ela surpreende-se com a quantidade de pessoas espremidas para ajudar, mas na falta de uma criança, Olívia franze. Onde ela estaria? A pequena Isa é muito curiosa para o seu próprio bem e não podia ver qualquer grupo reunido que também estaria lá, mas hoje ela não parecia disposta para isso.

Charlotte estava no balanço de três lugares que ficava no jardim da parte de trás do orfanato, lutando para acertar os buracos do moletom, um número menor que o dela, com os braços. Ela esteve doente na última semana com um terrível resfriado e apesar de estarem no verão, o final da tarde já chegara e com ele a brisa mais fria e ela não queria de jeito nenhum voltar a ter que passar o dia na cama sem poder brincar ou estudar com os colegas. Precisava se proteger se quisesse ficar lá fora.

As correntes do balanço fizeram um barulho alto e ela pulou de susto com um gritinho, quase caindo de bunda no chão quando percebeu que alguém se sentava ao seu lado. Ela ouviu uma risada familiar e estreitou o olhar para o menino que enxugava as lágrimas dos cantos dos olhos de tanto rir.

— Isso não foi legal, Demian! — Ela afirma, se ajeitando — Peça desculpa.

O menino suspirou quando conseguiu controlar a crise de riso e encarou sua amiga, três anos mais nova, que estava com o rosto todo vermelho de raiva e voltou a rir.

Ela ficava tão adorável quando estava irritada.

— Demian! — Ela reclamou novamente batendo seus pés pequenos no gramado. Ele não se importava com o fato de que Charlotte ainda não conseguia pronunciar seu nome direito. Ele adorava ouvi-la chama-lo assim mesmo.

O garoto sorriu com inocência para garotinha que ficou imediatamente vermelha outra vez, agora de vergonha. Ela não entendia por que de repente sentia-se assim, mas acontecia muito e quase sempre quando o seu melhor amigo estava por perto.

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⏰ Última atualização: Nov 28, 2023 ⏰

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