Era meia-noite fria; e eu débil e exausto, lia
alguns volumes de vagos saberes primordiais.
E, já quase a adormecer, ouvi lá fora um bater
como o de alguém a querer atravessas meus portais.
"É um visitante que intenta atravessar meus portais" -
pensei. - "Isto, e nada mais!"
~.~
Tão claramente me lembro! Era o gelo de dezembro;
e o fogo lançava - lembro - no chão manchas fantasmais.
Pela aurora eu supirava e nos livros procurava
esquecer a que ora errava entre as legiões celestiais -
aquela que hoje é Lenore entre as legiões celestiais,
sem nome aqui por jamais.
~.~
E o mover suave e magoado do ermo, roxo cortinado
me deprimia e me enchia de terrores espectrais;
de modo que eu, palpitante, calando o peito ofegante,
repetia: "É um visitante que vem cruzar meus portais,
um visitante, somente, que vem cruzar meus portais.
Isto apenas - nada mais."
~.~
VOCÊ ESTÁ LENDO
Edgar Allan Poe - O CORVO
PoetryObra Retirada de http://lelivros.org O Corvo, de Edgar Allan Poe -1845- Tradução de Renato Suttana Título original: The Raven