Capítulo 8

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A manhã seguinte foi uma correria, duas mulheres estavam no quarto mexendo em tecidos, chapéus, sapatos... Elas tiravam medidas e me espetavam com alfinetes. Falavam do meu corpo como se eu não estivesse ali. Que falta de educação!
  Depois que elas partiram, deixaram algumas peças para mim, enquanto iriam produzir outras. Pelo que compreendi o vestido de noivado e do casamento estavam estre eles.
  Era hora de finalmente começar a explorar, por assim dizer... Desde que eu cheguei tenho estado neste quarto.
  Saí do meu quarto e me dei conta de que aquele corredor só tinham quartos, então desci as escadas as quais subi ontem é acabei andando por um cômodo estreito, finalmente cheguei ao que parecia uma sala.
   A Senhora Seymour estava lá com uma xícara de chá e um livro, encostada em um sofá vermelho com adornos dourados.
- Ah Senhorita Helena! -disse ela.
- só Helena, por favor! -respondi.
- claro querida!-disse ela.
   Ela abandonou o livro em cima de uma mesinha de madeira, e caminhou até onde eu estava.
- dormiu bem?
- Perfeitamente! -falei.
- vejo que Madame Charlotte lhe arrumou alguns vestidos.
- sim, ela foi muito eficiente! -respondi.
- ótimo, pois ela fará seu vestido de casamento! -disse ela sorrindo.
   Eu fiquei ali olhando para a janela onde gotículas de água da chuva que caía sem trégua o dia inteiro se depositavam.
- vou levar você para conhecer melhor a casa e para conhecer melhor nossa rotina. Se não tiver algo do seu agrado é só me dizer que tentarei lhe deixar o mais confortável possível. Sei como é ser tirada de casa para um casamento, ficar longe das pessoas que foram tudo pra nós. Mas você irá se acostumar! -disse ela sorrindo.
   A Senhora Seymour era muito agradável, eu não queria dizer que não pretendia ficar por muito tempo, ela estava se esforçando para me ajudar, então simplesmente fiquei calada.
   Caminhamos ao que pareceram horas. A casa é enorme, não consigo me lembrar de todos os corredores e portas e nem onde levam. Só posso me recordar que na parte norte ficam os quartos.
   Era tudo muito elegante. Muita riqueza, requinte e belas obras de arte. A arquitetura era impecável, os lustres de cristal me deixavam tonta e o conforto e calor que emanava da casa eram surpreendente. Os aromas se misturam no ar enquanto caminhamos, chocolate, vinho, tinta a óleo e terra molhada. As cerâmicas que enfeitam a casa parecem antigas e valiosas, as flores segundo a Senhora Seymour, foram colhidas no jardim da propriedade, todas muito bem, saudáveis e perfumadas. A tapeçaria é de um requinte que tenho medo de pisar e sujar.
   A rotina da casa é muito simples, de manhã bem cedo os homens acordam e vão cavalgar ou treinar. As mulheres acordam mais tarde. O Senhor Seymour exige a família reunida pontualmente para todas as refeições, café da manhã, almoços e jantares. Durante o dia, o Senhor Seymour e seus filhos passam boa parte do tempo trabalhando na vinícola da propriedade. As mulheres tem o dia livre para fazer o que desejarem, mas devem se concentrar em ficar belas para os maridos.
   A Senhora Seymour falava como se eu já estivesse casada. Fiquei atordoada com o excesso de informações. Mas eu era acostumada a fazer coisas durante o dia, eu cuidava das crianças e ajudava nas refeições. Aqui tem muitos empregados e não precisamos nos envolver.
- em alguns dias a noiva de Dorian vai chegar, eu gostaria muito que se tornassem amigas! -disse a Senhora Seymour.
- certamente que sim!-falei distraída com as peculiaridades do corredor Sul.
- ótimo, ficarei muito feliz! Ah finalmente meus filhos irão se casar com belas moças, de boas famílias e com ótima educação!
  Ela parecia feliz e convicta desses casamentos. Sinto muito em ter que decepcionar.
   Acabamos em uma grande sala onde Ian estava sentado em um sofá ao lado da lareira. Ele tinha três taças de vinho em sua frente e um pequeno bloco de notas em suas mãos.
  Ele pegou a primeira taça da esquerda para a direita. Ele encarou bastante a taça, depois balançou o líquido em movimentos circulares, então cheirou o vinho em seguida o experimentou.
  Depois de repousar a taça novamente na mesa fez uma cara pensativa e anotou alguma coisa em seu bloco.
  Em segundos sua postura mudou, ele percebeu que estava sendo observado, então olhou para nós na porta.
- o que faz aqui?-perguntou ele de mal humor.
  Olhei para a Senhora Seymour esperando que ela respondesse, mas ela havia desaparecido. Como isso é possível? Ela estava aqui agora mesmo.
- ficou muda?-perguntou ele.
- sua mãe, ela estava aqui agora mesmo... Mas sumiu!
  Ele sorriu forçadamente encostando no sofá.
- minha mãe é muito silenciosa e ardilosa quando quer. Aposto que era tudo um plano dela.
- não se preocupe, vou deixar você continuar com seus afazeres...- falei dando as costas para ele.
- espere!-disse ele.
   Virei-me surpresa e o encarei.
- se aproxime por favor! -disse ele franzindo a testa.
   Fui cautelosamente até onde ele estava e parei do outro lado da mesa.
- prove estes dois vinhos!
   Ele me empurrou a taça da ponta esquerda a da ponta direita.
   Não fiz todo o processo que ele fez, simplesmente bebi da primeira taça e depois da seguinte.
- então? Notou alguma diferença? -perguntou ele curioso.
- na verdade não. Tem o mesmo sabor na minha opinião! - respondi.
   Ele sorriu. Não, sorriu não. Ele gargalhou.
- qual é a graça? -perguntei já irritada.
- uma dama que não sabe apreciar um bom vinho. Logo se vê que não sabe nada de útil! -reclamou ele.
   Irritada peguei uma das taças e lancei o líquido em sua cara.
   O vinho escorreu por sua face, manchando sua camisa branca e seu bloco de notas.
- SUA MALUCA! SELVAGEM!-gritou ele.
  Caminhei lentamente até a porta me virei sorri e disse:
- espero que aprecie seu tão estimado vinho Senhor Seymour.
   Saí furiosa, já é o primeiro passo. Vou fazer a vida dele um inferno particular, ao qual ele vai querer se livrar sem sombra de dúvidas.

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