Eu sempre soube que ele era talentoso. Aquilo, entretanto, excedeu toda e qualquer expectativa. Tão logo eles começaram a dançar, o pessoal da iluminação focou no dono da Atmosfera. Duvido que esperassem por isso, mas pensavam rápido. Todo mundo deu espaço para a coreografia.
Não sei como ele conseguiu melhorar tanto em tão pouco tempo. Funk, hip hop, break. Dos passos aéreos à atitude. Incrível. Conseguiu me arrepiar dos pés a cabeça. Que cara é esse, meu Deus? Ufa! Respira, Bruna. Respira. Você veio com um namorado.
Ah se eu conseguisse agir com a cabeça pelo menos uma vez na vida...
Quando eles terminaram, foram aplaudidos de pé. Nem quis saber de mais nada. Eu o puxei pela gravata para perto de mim. Ele ia dançar a próxima comigo querendo ou não. Começou a tocar Hot Dog do Buchecha. Levei-o para o meio da pista.
─ Tô vendo que você melhorou muito. – Joguei meu cabelo no ritmo da música.
─ Para você ver, não é, Bruníssima, o que um pouco de ensaio e dedicação não podem fazer por um bom dançarino. – Ele fez um giro, caiu com as duas mãos no chão num passo de break e subiu postando-se do meu lado com a maior pose.
─ Quando você fala assim, - coloquei a mão no peito dele e balancei o quadril no ritmo da música – tenho a impressão de que estou fazendo alguma coisa errada. Isso é uma ironia, Carlos Eduardo? – Provoquei e ele me desafiou com o olhar.
Quando você/ surge de repente/ quente/ pra me envolver/ quer se querer/ toda eloquente/ vem bater de frente/ pra ver. A batida da música mudara. Fizemos o passo que eu o ensinei. Ele invadindo minha área, eu invadindo a dele de uma forma sensual.
─ Bruna "Problema" Drummond, eu já não estou nem ligando para as suas loucuras. Vou fazer a minha parte e acabou. – Ele fez mais um giro, uma travada, se recompôs ajeitando o colete e ia sair da pista. Eu o segurei.
─ Você está zangado comigo? Qual é o problema real? Vamos, admite. – Puxei sua gravata até que seu rosto estava a centímetros do meu. – É o carro?
Eu nunca dei desculpa pra ninguém/ é certo que você vai implorar/ vai pedir arrego/ suplicar sossego/ vai ver só o calor que eu vou te dar.
─ Nem me fale das suas loucuras. Isso me deu um trabalhão. Você me manda um carro e nem avisa. Bruna, sério, que tipo de cara você pensa que eu sou?
─ O tipo que não enxerga a verdade nem quando ela está a centímetros do seu nariz.
─ Eu não quero o carro. Eu não preciso do carro.
─ E a gente está falando sobre o que mesmo? – Daquela distância, não estava nada fácil pensar.
─ Provavelmente, da sua total irresponsabilidade. Como você pode me abandonar e ir viajar com esse namorado que você mal conhece? Falando nele, acho melhor você me soltar, porque ele já está ali com cara de poucos amigos. – Eu me viro e dou de cara com o Altair de braços cruzados me encarando com fogo no olhar. – Não pretendo terminar a noite com os seguranças colocando o grande fenômeno da seleção brasileira para fora da minha boate a pontapés.
Carlos Eduardo ajeitou novamente o colete e foi saindo da pista. Eu fui logo atrás dele. Altair o segurou pelo braço. Pensei que ia sair briga. Dava para ver as luzinhas dos celulares filmando. Mas meu namorado apenas sorriu.
─ Acabei de me lembrar de você. Não é você o cara do programa, o cara que dança com a Bruna?
─ Sim. Eu sou APENAS o cara que dança com a Bruna no programa.
Posso estar muito enganada, mas a maneira como Carlos Eduardo pronunciou a palavra apenas encheu meu coração de um sentimento que nunca me visita: a esperança.
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Por Onde Andei
Teen FictionNo quarto volume da série Nando, pela primeira vez, temos a visão simultânea dos dois protagonistas: Bruna e Carlos Eduardo. Ela, atriz desde menina, não está acostumada a confiar nas pessoas. Resolve os seus problemas a sua maneira, nem sempre acer...