• As flores de cerejeiras florescem •
Em Nikko, no japão, existia um espírito lupino solitário, nascido das flores de cerejeira. Desde que nasceu, sempre foi sozinho. O lobo se chamava Hakujū, que significa "Besta Branca". Era assim como ele era reconhecido, como uma besta feroz. Hakujū não matava, não caçava, apenas comia animais mortos. O mesmo sempre esteve a procura de companhia, mas ninguém nunca se aproximou do animal. O grande lobo vivia por perto de uma floresta de cerejeiras, onde nasceu. As únicas coisas que faziam companhia para o lobo solitário era as pequenas folhas rosas das árvores.
Em uma noite fria de inverno, como de costume, Hakujū saiu de seu habitat, cheio de cerejeiras, a procura de algo para comer e sobreviver naquele tempo de inverno.
Após se alimentar de um cervo morto, o lobo estava voltando para o seu lugar de costume. Com sua boca e focinho ainda sujos de sangue do animal morto, assim como um pouco de sua pelagem albina também suja, em tons avermelhados, os animais que cruzavam seus caminhos com o de Hakujū, fugiam, com medo de servir de alimento ao lobo.
Perto da floresta de Sakuras, que ainda não estavam florescidas, Hakujū escutou um choro humano, infantil. Com sua curiosidade, o animal foi checar o barulho que irritava seus ouvidos sensíveis. Não muito longe, a Besta Branca encontrou uma criança asiática, de baixo de uma das Sakuras, chorando e tremendo de frio. Aparentava ter seus seis ou sete anos de idade. A criança estava sozinha, como o lobo. O motivo de seu choro, era seu joelho que estava ralado. O lobo observava a criança, escondido atrás de um arbusto seco. O ambiente estava escuro, por conta da noite que já chegará. A única coisa que dava um pouco de iluminação ao lugar, era a linda luz da Lua. A criança ainda não parecia ter notado a presença do lobo. Além de estar escuro, a pelagem branca de Hakujū se camuflava com a neve.
O espírito sentia que precisava ajudar aquela criança amedrontada, tentou se aproximar, mas exitou. Ele estava com medo de espantar mais alguém, além de ser a primeira vez que o lobo ficava tão próximo de um humano. Os pais da criança poderiam aparecer logo, o melhor era que Hakujū fosse embora. Assim ele iria fazer. Ao se virar, o lobo acabou pisando em um galho seco, o quebrando. O barulho do galho chamou atenção da criança, que olhou em direção ao arbusto que a besta se escondia.
- T-Tem alguém aí? - A criança pergunta, com a voz embargada de tanto chorar. - Por favor... A-Alguém... Esta escuro... - Ela sente mais algumas lágrimas escapar de seus olhos. - Estou com medo, e sozinha... N-Não tenho para onde ir... E-Eu... Estou sozinha...
A criança não passava de uma garotinha orfã, que vivia em um templo abandonado em Nikko. A garota sobrevivia do que as pessoas de bom coração, que moravam na vila, lhe davam. Nos últimos casos, a garota era obrigada a roubar alimento para sobreviver. Seus pais morreram quando tinha apenas dois anos. Aiko era o seu nome. Uma doce menina solitária, que não lembrava-se dos rostos daqueles que a amavam.
As palavras de Aiko "Eu estou sozinha", tocaram o coração de Hakujū, o que fez com que o lobo aparecesse para a mais nova. Aiko olhou para o grande lobo, ainda com lágrimas em seus olhos. A doce Aiko não sentiu medo ao ver o lobo, pelo contrário, ela se sentiu mais segura. Ela sorriu, admirada com a beleza daquele ser. A menina logo se levantou e abraçou o lobo, como se estivesse agradecendo por não ter a deixado. Hakujū ficou surpreso com o ato da pobre criança, porém feliz por não ter a assustado, assim como todos aqueles que o viam.
Aiko ficou acariciando o pelo macio do lobo, o admirando.
- Então você é Hakujū. Aquele que todos temem. - Disse Aiko. O lobo abaixou a cabeça. - Ouvi histórias sobre você. Me disseram que era um monstro assustador. Achei que era só uma lenda. - Aiko disse seriamente, logo ela riu. - Fico feliz em saber que estavam errados, você não é nada do que falam por aí. É só um lobo solitário, sem um bando, ou família... Assim como eu... - Ela suspira. Hakujū lambe a bochecha de Aiko, a fazendo rir. - Ei!
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Hakujū - A Lenda ✓
Short StoryA lenda de um espírito lupino, cujo espírito só queria alguém para fazer-lhe companhia. Mas Hakujū estava destinado a ser um ômega, um lobo solitário, por toda a sua vida. E no dia em que as cerejeiras iriam florescer, o espírito soube primeira vez...