Capítulo 3

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Deveres e deveres.
A casa está vazia quando chego, Saulo foi para a casa de um amigo e minha mãe não chegou ainda. Subo as escadas que levam ao segundo andar, é a parte mais quente da casa então me sinto muito bem.
Entro no boxe, a água quente caí sobre minha pele, era uma das melhores sensações para mim. Tomo meu banho enquanto uma música toca no aleatório, quando puxo a toalha, sinto algo perto de mim, se eu fechasse os olhos nesse exato momento eu veria ela, então eu apenas fecho para ter um vislumbre de olhos grandes e verdes, mas quando tudo escurece eu não vejo nada verde, apenas castanho, o rosto é familiar as maçãs do rosto em um bom tamanho, lábios vermelhos, cabelos em tom caramelo e botas de inverno nos pés. Afasto a visão, por que essa garota e não Ária?

Duas batidas na porta, sei que é minha mãe então me visto rápido e saio do banheiro, atendo a porta lá está uma mulher pequena com cabelos pretos e curtos, a boca fina e os olhos pequenos e pretos o que é mais semelhante a mim, nunca cheguei a parecer com meu pai, mas um dia posso e olhando para sua situação atual isso me enche de medo.
Os olhos cansados se encontram com os meus, eu vejo a batalha do dia que ela sofreu hoje, crianças do primário jogando coisas no ventilador. Nunca senti pena da minha mãe pelo seu trabalho até porque ela recebe bem e crianças não costumam a ser chatas, mas me deixa triste ve-la chegar assim todos dias mesmo sabendo que a culpa não é das crianças, nem de mim e de Saulo nem mesmo da política, o problema de quase todos que nascem nessa família é meu pai

-Boa noite Filho - Ela me cumprimenta com um abraço e entra.
-Boa noite, não te vi saindo hoje, acordei tão tarde assim?
-Não, apenas sai mais cedo, problemas no trabalho
- Jogaram uma tesoura no ventilador de novo - Digo em tom brincalhão
-Não, eles querem passar os testes finais depois das férias de verão.
-Entendo.
-Então como vai? - Sei que está perguntando por causa de Ária.
-Um pouco abalado, mas vai passar.
-Ah filho ela era tão jovem.
Encaro o Jarro de flores que minha avó deu a mamãe no último inverno
-Tem certeza que vai melhorar? Não acha melhor procurar algum especialista?
-Não mãe, acho que vou me deitar um pouco o dia foi cheio demais para uma segunda feira, Boa noite - Beijo sua testa e sorrio para que ela não se preocupe.
-Boa noite, não se esqueca de sonhar - Ela sempre dizia isso e eu adorava essa frase mas atualmente tenho mais pesadelos do que sonhos. Sorrio mais uma vez antes de subir.

De pijama vestido, olho pela persiana, a rua está iluminada, não tem nenhum barulho de festa mas sei que sexta eu precisarei de fones para dormir, continuo na janela encarando o jardim não tem nada lá apenas grama e terra mesmo assim continuo olhando esperando que algo aconteça, matando minhas esperanças nada acontece, me deito virado para a parede pensando em que sonhos eu poderia ter essa noite ou pesadelos três palavras andam pela minha mente: Pai, Ária e aquela menina na margem. Acabo não sonhando com nada apenas fecho os olhos e um abismo vazio me leva para baixo e para baixo até que eu não consiga mais respirar.

Dançando Sob O GeloOnde histórias criam vida. Descubra agora