Capítulo 06

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Ondas em Rebentação
Ato 01

TRÊS ANOS DEPOIS


O sol ardia em nossas cabeças e fazia cintilar o arco-íris da minha cauda. Revoadas de gaivotas sobrevoavam o mar azul, gralhando tão alto quanto o som das ondas.

Naquela tarde de feriado eu e Maikon curtíamos as ondas, aproveitando a privacidade da praia nos fundos da minha casa.

"Que lerdeza, Hian, dessa vez eu vou ganhar!" Gritou Maikon, enquanto disparava pelas ondas em sua prancha laranja.

Eu ri sob a água, agitando minha cauda azul tranquilamente. Virando de barriga para cima avistei o fundo da prancha, e o borrão ondulante que era o Maikon, na superfície.

Ele ainda achava que ganharia de mim?

Uma onda tubular se formou acima de nós e eu acelerei, nadando por dentro do paredão d'água.

Maikon me avistou ao seu lado e sorriu para mim. Ele estendeu a mão e nós seguimos com os dedos entrelaçados, conquistando aquela onda juntos. Maikon sempre sorria quando fazíamos isso, e eu vivia para vê-lo feliz.

Sob o brilho do sol tropical, a onda em meu entorno reluziu como cristal líquido, e a formação de espuma anunciou seu fim próximo.

Eu mandei um beijo ao Maikon através da cortina d'água e o soltei. Meus músculos da cintura trabalharam com força, dobrando minha velocidade e me fazendo saltar pelo outro lado, muito antes que Maikon me alcançasse.

Assim que Maikon escapou da onda, ela desmoronou logo atrás de nós, e Maikon caiu em meus braços.

Eu o ajudei até a superfície, e o esperei ganhar fôlego.

"Isso não foi justo, Hian." Ele sentou sobre a prancha e bateu água no meu rosto, segurando o riso.

"Você desafiou um tritão, não sei o que você esperava." Eu debrucei os braços em suas coxas, e nós dois nos admiramos.

O treinamento vigoroso mudou o corpo do Maikon. Seu tórax era bastante definido para um estudante da nona série, tão saliente quanto os oito músculos da barriga, e seus braços me causavam certa inveja. Ele tinha o corpo de um tritão, enquanto que eu, apesar de forte, não conseguia expor meus músculos. Minha barriga era tão lisa que, segundo o Maikon, daria pra passar roupas nela.

Maikon raramente cortava o cabelo, que quase alcançava a altura dos cotovelos. Suas mechas escorriam lisas como o cabelo da mãe, e o tom chocolate dos fios ficava quase preto quando molhado. Eu achava tão lindo quanto seus olhos. Na verdade, tudo em Maikon era perfeito.

Eu tentei mudar de estilo algumas vezes, mas o melhor que consegui foi tirar o cabelo dos olhos. Eu agora o penteava para trás, quando lembrava, e cortava pouco acima dos ombros. Minha altura mudou tão pouco, que era deprimente. Maikon já era uma cabeça mais alto que eu, e eu temia nunca passar da altura do papai Gabe. Quanto mais eu crescia, menos eu lembrava o papai Dylan, e isso começava a me preocupar.

"Você está fazendo aquela cara, de novo." Maikon alisou minha franja para longe do rosto.

"Que cara?"

"Cara de quem está pensando demais." Ele respondeu, nossos corpos oscilando no ritmo das ondas.

Eu mordisquei o lábio.

"Acha que vou ser bonito, um dia?" Perguntei.

Maikon fez-se de espantado, depois começou a rir. Ele desceu da prancha e ficou diante de mim, enroscando as pernas na minha cauda.

Ondas em Rebentação (AMOSTRA)Onde histórias criam vida. Descubra agora